quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

VALEU, ROBERTO CARLOS


Há 50 anos eu caminhava cantando ''Jesus Cristo, yo estoy aqui'', pelos corredores do mercado público de Ibarra, no Equador, quando, numa curva, olhei para trás e vi uma procissão.
Os equatorianos devem ter achado que aquele cara loiro, cabeludo, que cantava em homenagem a Cristo, era uma espécie de profeta. E me seguiam, em silêncio. Parei de cantar e agradeci. Nunca recolhemos tantas moedas, notas, pedaços de queijo, pacotes de amendoim, doces e agradecimentos.

Eu e meus companheiros de viagem Mario André Coelho de Souza e Pedro Port devemos ao Roberto Carlos muitos almoços e jantares naqueles tempos de muita dureza, em que nunca se sabia o que seria o dia de manhã.

domingo, 4 de dezembro de 2022

NATUREZA RESISTENTE

 


Estas árvores foram plantadas num canteiro estreito entre as pistas da avenida Protásio Alves, uma das mais movimentadas de Porto Alegre.

Cresceram, apesar do asfalto, do cimento, da poluição. Na primavera de 2022 explodiram em flores. 

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

A MAGIA DE ESQUIAR



  Whistler, Canadá

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

CAMINHADA

 



Manhã de inverno em Imbé /RS

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

BARCOS

 



Pântano do Sul, ilha de Santa Catarina



Paraty, Rio de Janeiro


Dubai, Emirados Árabes




domingo, 4 de setembro de 2022

O PORTO DE PORTO ALEGRE

 






sábado, 13 de agosto de 2022

DESAPARECIDOS: COMO EXPLICAR?

 Nos fins de semana, a cidade de Aparecida, em São Paulo, fervilha. São milhares de romeiros, que lotam o santuário  em busca das bênçãos da padroeira do Brasil. Em outubro, na festa celebrada no dia 12, este número se multiplica. Os hotéis lotam, as lojas enchem, as ruas ficam congestionadas.

Em 21 outubro de 2012, Delmar Winck, um romeiro que viera com sua esposa Beatriz de Portão, Rio Grande Do Sul, entrou numa loja para comprar uma lembrancinha, e Beatriz ficou esperando do lado de fora. Quando voltou. minutos depois, ela havia sumido. Ela tinha 77 anos, e nestes dez anos todas as buscas feitas pela polícia deram em nada.

No dia 16 de junho de 2022, a advogada Alessandra Delatorre, de 29 anos anos, saiu da casa de seus pais, em São Leopoldo, para dar uma caminhada. Vestia abrigo esportivo e não levava celular nem documentos. Entrou numa trilha na mata do bairro e sumiu sem deixar qualquer vestígio. A imprensa parece ter esquecido o caso, que vai para as estatísticas de tantos outros casos semelhantes. 

Como pode alguém sumir, quando hoje em dia tudo é filmado e os celulares registram todas as movimentações, contatos, conversas  e outros dados de cada um de nós? 

Os ufólogos têm uma explicação: foram abduzidos por alienígenas. Quem sabe???

Mas um bom repórter de polícia poderia esclarecer. 

Ou, pelo menos, fazer uma boa reportagem.


 



terça-feira, 9 de agosto de 2022

POBRE/RICA ARGENTINA

 


E lá se vão os brasileiros, de novo, aproveitar mais uma crise econômica/cambial para fazer turismo na Argentina. Tudo barato, baratíssimo, com o peso desvalorizado. Até o real é recebido com avidez pelos comerciantes, apavorados com a inflação nas alturas.
A mim este apelo não funciona. Me dá uma enorme tristeza ver um país com tantas riquezas naturais e um povo com um nível cultural e educacional tão alto para os padrões de terceiro mundo chegar a uma situação destas.
E por mais que me expliquem, não consigo entender por que.
A foto do repórter fotográfico Valdir Friolin, vencedora do Prêmio ARI de fotografia da Associação Rio-grandense de Imprensa, de 2001, diz tudo.


domingo, 31 de julho de 2022

CARLOS BASTOS, 88 ANOS

 


O homenageado era o Bastos, mas acabou sendo um dia de afagos de todos nós que fomos seus subordinados e colegas na RBSTV e outras redações.

Carlos Henrique Esquivel Bastos é um case para os profissionais de RH: na comemoração dos seus 88 anos de uma vida muito bem vivida, no salão nobre da Associação Rio-grandense de Imprensa, só recebeu palavras de carinho, de gratidão, de afeto, daqueles que trabalharam com ele.
E nós, então: eram abraços, eram apertos de mão, risadas, e aquilo que os jornalistas tanto gostam - contar e ouvir histórias.













terça-feira, 19 de julho de 2022

AH, UMA SOPINHA

No inverno - e até nas outras estações - tomar uma sopinha à noite é tudo de bom. Aquece o corpo, aquece a alma. De legumes, canja, todas caem muito bem, ainda mais com uma taça de vinho tinto.

Numa dessas viagens a convite para jornalistas, fomos conhecer o Poble Espanyol, em Barcelona. Construído para a Exposição Universal de 1929, é uma reprodução em tamanho real de diferentes aldeias espanholas, com lojas, bares, restaurantes e espaços para apresentações de artistas. Uma Espanha em miniatura, para turistas.

Depois de percorrermos o lugar, fomos levados a um restaurante para jantar. O cardápio era adequado ao espírito do poble. Os pratos, um de cada região do país, foram se sucedendo, mas como quase todas as comidas típicas, eram um tanto indigestas. Lá pelas tantas serviram uma sopinha. "Uau", exclamamos em voz baixíssima para não ofender os anfitriões.

Nossos estômagos reclamavam algo fácil de digerir, mas na primeira colherada, a desilusão: era gaspacho, uma sopa típica espanhola à base de creme de tomate, pimentão e vegetais, que no verão é servida gelada. Sim, gelada.
Voltamos para o hotel e pedimos café com leite e torradas. 









sexta-feira, 15 de julho de 2022

TODA ARARUTA TEM SEU DIA DE MINGAU

 O Souza é daqueles taxistas que gostam de papear com os passageiros. Ouvir suas histórias, e, principalmente, contar as dele. 

Quando me levava para o trabalho, falava das pescarias, dos negócios, de futebol - nos fins de semana, jogava no time do bairro. Centroavante, sua paixão era mandar a bola na rede. 

Souza se gabava de ser um sedutor irresistível. Casadas, jovens, viúvas desfrutáveis, nenhuma resistia aos seus encantos. Até que...se apaixonou. Deixou a mulher com quem vivia há anos e tinha filhos para se juntar com uma morena bem mais nova do que ele. 

Reencontrei o Souza quase dez depois da nossa última conversa, numa corrida até o centro da cidade. Grisalho, rosto vincado, já não era o mesmo. Não pescava mais, nada de farras,  ia direto do trabalho para casa. "E o futebol?" perguntei.

- O pessoal me convida, mas já não jogo mais. O pior é que nem na tevê posso ver os meus joguinhos. Quem fica com o controle é ela.

Como diz aquele samba de Noel Rosa, "toda araruta tem seu dia de mingau".

quinta-feira, 7 de julho de 2022

JOGANDO VÔLEI COM A ESTERZINHA

 "Alguém topa jogar vôlei uma vez por semana?"

A mensagem chegou à tarde no grupo da redação de Zero Hora, e pouco depois já havia interessados suficientes para formar dois times. Na quarta-feira seguinte, às nove da noite, a turma saiu do prédio e atravessou a avenida Ipiranga para jogar na quadra do Colégio Protásio Alves.
Uma dúzia de marmanjos e ... a Esterzinha, uma das digitadoras. Naquele tempo ainda havia digitadores, pois no início dos anos 90 muito material era ainda datilografado. Até de alguns cronistas, que se recusaram a se adaptar à digitalização da redação e entregavam as crônicas em papel.
Morena, jovem, alta, bonita, a Esterzinha participava de todos os jogos, e depois nos acompanhava até o bar do Emílio Pedroso , fotógrafo do jornal, lá no alto do viaduto da Borges de Medeiros, para onde íamos depois matar a sede.
A turma do vôlei interessou a colegas de outras áreas, e em pouco tempo já havia gente suficiente para formar três times.
Mas um dia desses a Esterzinha sumiu. Ouvi dizer que os digitadores já não eram necessários e foram demitidos. E o interesse pelo vôlei diminuiu, até que as disputas das quartas-feiras acabaram.
Chego a pensar que a galera estava mais interessada na moça que em jogar.

domingo, 19 de junho de 2022

JOHN REED, UM GRINGO NO MÉXICO REBELDE

 






John Reed  era um dos repórteres mais conhecidos e bem pagos dos Estados Unidos quando, em 1913,  foi contratado pela revista Metropolitan e pelo jornal New York World para viajar ao México e fazer uma série de reportagens sobre a rebelião que eclodira três anos antes. 
Natural de Portland, Oregon, Reed não se conformava com a vida monótona da cidade e foi estudar na Universidade de Harvard. Depois de formado dedicou-se ao jornalismo, movido pela sua inquietação, a sede de buscar coisas novas e o inconformismo com as injustiças sociais. Sua pauta era encontrar Pancho Villa e acompanhar a marcha em direção ao sul, iniciada pouco antes pelo já lendário caudilho. 
John Reed teve que se adaptar a uma vida cheia de sobressaltos, acompanhando tropas formadas por peões maltrapilhos e quase sempre famintos, se alimentando de tortillas e carne às vezes crua quando não havia tempo de assá-la. Muitas vezes correu risco de vida, nos confrontos entre os rebeldes e o exército federal.
Conseguiu encontrar Villa, conquistou a sua confiança, fez várias entrevistas com ele e documentou a tomada de várias cidades  a caminho da Cidade do México. O livro México Insurgente, publicado em 1914, é um relato comovente do contato deste gringo do oeste americano com os costumes, a cultura  e o temperamento dos mexicanos, que mesmo nas horas mais difíceis e desesperadoras encontravam  motivos para cantar, amar, beber e fazer gracejos das suas próprias desgraças. 


 



sábado, 11 de junho de 2022

APENAS MAIS UMA MATERINHA

 


A moça se apresentou ao dono do mercado Basso como repórter do jornal Zero Hora, e disse que estava fazendo uma matéria sobre os mercados de bairro. O gringo achou que era brincadeira mas topou conversar com ele. Contou de onde veio, como entrou no negócio e como dava atendimento diferenciado aos clientes, no bairro Petrópolis, como a entrega dos produtos em suas casas. 

Já à vontade, topou posar para uma foto junto às frutas e verduras. No sábado seguinte à entrevista, Basso (o nome, Claudiomiro, foi dado pelo pai em homenagem ao grande centroavante do Internacional) e sua esposa Clarice se revezaram ao telefone: eram clientes comentando que viram a matéria no site de ZH. A repercussão foi grande, e até as vendas aumentaram. A página está emoldurada, junto ao balcão.

Para a repórter pode ter sido apenas mais uma materinha: contar como os mercados do bairro conquistaram os moradores, com produtos e atendimento de qualidade. Não foi manchete nem  chamada na capa, mas cumpriu uma das mais importantes  funções de um meio de comunicação: valorizar boas iniciativas da comunidade.






domingo, 22 de maio de 2022

O CAMINHO DE TRANCOSO

 Andar pela praia até Trancoso era um programa indispensável para quem estava no Arraial da Ajuda nos anos 70/80. Os 13 quilômetros não eram cansativos -as belezas naturais, as praias quase intocadas, compensavam a canseira, aliviada também por banhos nos dois riachos do caminho. E éramos bem mais jovens...


É preciso sair de manhã, cedo, quando a maré está baixa. Depois que ela sobe fica mais difícil caminhar, e em alguns pontos a passagem pode ser perigosa.


Praia do Mucugê, a primeira parada para apreciar as piscinas naturais


Os recifes de corais, que com maré alta serão cobertos pelo mar


Paia da Pitinga, de uma beleza emocionante. Lá no fundo já dá para ver Trancoso.


Depois de seis quilômetros, uma pausa para se refrescar na água limpinha do riacho Pitinga



 
As falésias revelam seu colorido - lisérgico, se dizia na época

 

Parada para um banho de lama na Lagoa Azul


Uma ponta de pedras, e a vista do caminho já percorrido


Uma pequena praia isolada, cercada de pedras e falésias



Parada para beber alguma coisa no rio Taípe


A praia de Trancoso

 


Um olhar para trás

 


 Lá do alto dá para ver Porto Seguro



O quadrado de Trancoso. Hora de voltar, mas... de carona ou de busão.








sábado, 21 de maio de 2022

BRENO CALDAS SEGUNDO PAULO BROSSARD

 

A ideia era escrever um livro sobre de Breno Caldas. O projeto, liderado pela jornalista Núbia Silveira, acabou não se concretizando, mas várias entrevistas foram feitas por ela, por mim e os amigos João Borges de Souza e Celito de Grandi. Uma delas com o jurista, professor, ex-senador e ex-ministro  Paulo Brossard de Souza Pinto, amigo de Breno Caldas e colaborador do Correio do Povo. 

Encontrei um trecho dela num velho notebook em que foi degravada. Foi feita em dezembro de 2011,  com o apoio do dr. Leo Iolovitch, seu genro, com quem dividia o escritório de advocacia na rua Dario Pederneiras. 


Brossard - O que vocês querem saber de Breno Caldas? O que vocês não sabem?
 Nós - Queremos traçar um perfil deste homem que foi um dos mais importantes do Estado durante 50 anos e de repente naufragou -a empresa, a família, naufragou tudo. Vendeu tudo que tinha para pagar  suas dívidas. Se tornou um homem  praticamente pobre e terminou seus dias de cabeça em pé.  
Brossard - Vocês já conversaram com Paulo Pasqualini? Porque o Arlindo, pai dele, trabalhou com o Breno durante anos. O Breno diz que ninguém, de todos os que tinham trabalhado com ele, ninguém se comparava ao Arlindo Pasqualini. Ele podia sair para o outro lado do mundo, saía tranquilo porque o Pasqualini tomava conta.


P – Como é que o senhor conheceu Breno Caldas?
Brossard – Eu tive um tio, Dario Borba Brossard, que foi o fundador da página Rural – que antecedeu o Suplemento Rural. Era uma página que saía às sextas-feiras. Meu tio Dario foi quem iniciou isto e até ele morrer – depois ele foi para a FAO, passou 17, 18 anos morando em Londres, mas depois ele voltou e retomou. De modo que eu tive este acesso.
Realmente eu estabeleci contato com ele porque eu comecei a atividade política e depois a atividade profissional.
O Breno era engraçado. O Breno não acreditava em política, não acreditava em políticos. Até uma vez eu disse a ele “ o senhor não deveria dizer isso, porque afinal há políticos e políticos, e o senhor conheceu pelo menos dois, e conheceu bem, e que não eram isso que o senhor está dizendo, e eram bem diferentes um do outro. O Raul Pilla e o Alberto Pasqualini. Ele foi obrigado a reconhecer, digamos assim, a procedência.
Mas ele dizia isso. Era um traço dele. Eu compreendo isso, porque o jornal é uma coisa que se presta muito pra revelar muito tipo de pessoa. Que quer trazer para o jornal, sei lá, suas materinhas, botar o nome, o retratinho, e isso ele deve ter pegado muita gente, ficado vacinado. Especialmente – e isto é especulação minha, não juro – mas o fato é que ele tinha esta coisa.
Eu me recordo por exemplo uma vez – eu frequentava muito o Correio do Povo, conhecia, eu estava ainda na faculdade, não tinha uma atuação política maior, e eu me lembro que houve uma sessão lá na faculdade, eu não me lembro exatamente qual era - eu era presidente da Feupa, Federação Universitária de Porto Alegre, quando a Assembleia Constituinte de 46 terminou os trabalhos, foi promulgada a constituição, e os constituintes vieram para seus estados e vieram aqui para Porto Alegre dois constituintes que eram professores. Era o Raul Pilla e o Elói José da Rocha, um professor da faculdade de Medicina e outro da Faculdade de Direito.
E eu promovi uma homenagem dos universitários, a que a Universidade depois aderiu, o reitor naquela época era o Armando Câmara, então eu convidei para falar em nome dos professores o doutor Martim Gomes e em nome dos estudantes o João Leitão de Abreu, que estava terminando o curso. E foi uma sessão bonita.
Eu fui ao Correio do Povo depois da sessão, não sei para falar com o Adail (Borges Fortes da Silva) , o secretário, para sair uma notícia, e o Breno saiu do gabinete dele, e conversou, eu tava ali, o meu tio estava ali também, e se falou naquele negócio, como é que tinha sido. “E o discurso do Pilla, trouxe?” perguntou ele. O Pilla tinha trabalhado no Correio como jornalista e depois continuou como colaborador. “Não trouxe. O senhor não costuma publicar. Levei pro Diário.“

 E ele disse “ publico sim. Me pede pro Ernesto (o Ernesto Correa) que eu publico."
Mas era assim. Geralmente o Correio não publicava. Foi a primeira vez que eu falei com ele.
Foi em 46. Eu me formei em 47, eu estava na faculdade. A partir daí foram se avizinhando, e quando eu ia lá para conversar sobre alguma coisa, às vezes até para pedir – vou dar um exemplo: Falando uma vez sobre coisas do campo – ele gostava muito – ele disse que tinha feito um aramado com eucalipto. E que ele tinha feito os aramados há 20 anos, 30 anos, e estavam rebentando. Eu tinha comprado um aramado e fui lá para conversar especificamente sobre isso, totalmente fora do jornal. Então fui fazendo relações com ele.
Depois disso, uma vez que outra eu levava um artigo lá pro Adail e o Adail publicava, embora o primeiro artigo meu que foi publicado foi publicado no Diário (de Notícias), onde eu tinha amigos como Say Marques, grande figura, o Ernesto, também me dava com ele.
Depois houve aquele negócio com o Brizola. Quando era governador, o Brizola resolveu interferir, e ai de quem fizesse isso, aí é que tá. Havia dois jornalistas que eram brizolistas, e o Breno deixava muita autonomia pro pessoal. Mas até um certo ponto. E estes dois passaram do limite, ao juízo dele. Não me lembro agora quem foram. O Breno escreveu uma nota assinada. Ele era muito malicioso, escrevia muito bem. Sabia botar uma ironia muito discreta. E chamou os dois e disse:
“Eu sempre dei aos meus empregados a maior liberdade, mas vocês não pensem que eu não vejo o que está acontecendo. Eu queria dizer a vocês o seguinte: no dia que eu quiser vender uma coluna no jornal eu vou vender. O dia que eu quiser. Agora, não chegou este dia ainda. De modo que eu não permito que vocês utilizem o jornal para fazer aquilo que querem"

quarta-feira, 18 de maio de 2022

TEMPESTADE

 


 Um ciclone, com ventania e chuvas fortes, atingiu o litoral do RS entre 17 e 19 de maio. 
Teve ventos de até 100km/h,  e a falta de energia por quedas de postes e queima de transformadores chegou a 12 horas. 









sexta-feira, 13 de maio de 2022

PEGUEI UM ITA NO SUL

 



"Peguei um Ita no norte/e fui no Rio morar/adeus, meu pai, minha mãe, adeus Belém do Pará"
 Dorival Caymmi.


Década de 1930. O  jovem Leoncio Lobato Junior guardou, mês a mês, uma parte do salário de seu primeiro emprego, e nas férias pegou um Ita em Porto Alegre e foi realizar o desejo de conhecer o Rio de Janeiro. 

"Era uma beleza. A gente viajava com todo conforto, comendo e bebendo do bom e do melhor,  conversando com os outros passageiros e jogando cartas", contava o seu Leoncio, meu sogro, que se encantou pelo Rio e repetiu a viagem outras vezes. 

Os Ita (pedra, em tupi-guarani) eram navios a vapor da Companhia Nacional de Navegação Costeira - a Costeira - fundada no Rio em 1883 por imigrantes portugueses, os irmãos Lage. Numa época em que as rodovias e as ferrovias eram raras,  o Itaciqué, o Itaipú, o Itapé, o Itanagé, o Itanité, o Itaimbé, o Itapagé, o Itaberá, o Itagiba, o Itaguassu, o Itajubá, o Itapema, o Itapuca, o Itapuhy, o Itapura, o Itaquatiá, o Itaquera, o Itassucê, o Itatinga e o Itaúba levavam passageiros e cargas entre Manaus, Belém, São Luís, Fortaleza, Recife, Natal, Aracaju, Salvador, Ilhéus, Vitória, Rio de Janeiro, São Sebastião, Florianópolis, Rio Grande e Porto Alegre. 

A Costeira operou até 1965, quando a frota foi incorporada pelo Lloyd Brasileiro. Em 1970 os navios foram levados até um estaleiro do Rio, onde acabaram corroídos pela ferrugem.

Que tal se ainda fosse possível  ir até o cais de Porto Alegre e embarcar num Ita para Rio Grande, Florianópolis, Rio ou, quem sabe Manaus?

Bons tempos, aqueles.




domingo, 1 de maio de 2022

MARTINICA, 1902: INFERNO NO PARAÍSO

 


Até maio de 1902 Saint-Pierre era a mais próspera cidade da colônia francesa da Martinica, maior até que a capital, Fort-de-France. De seu porto saíam navios abarrotados de rum produzido de suas plantações de cana de açúcar, além de café e outros produtos. 

Nas últimas semanas de abril, porém, o vulcão do Mount Pelée, situado junto a ela, começou a dar sinais de atividade, após 51 anos.  Um fazendeiro subiu até o topo da montanha de 1.397 metros e observou, horrorizado, a lava cinzenta fervendo na cratera. Voltou a galope e despachou um aviso para o governador, pedindo que a cidade fosse evacuada pelo risco de uma erupção eminente. Recebeu de volta apenas um agradecimento cordial.

 Apelos ao prefeito também foram em vão. Mais preocupado com seu projeto político - haveria eleição dali a poucos dias e ele queria se manter no cargo - continuou com os preparativos para um  banquete para 400 convidados.  No dia 2 de maio o vulcão começou a expelir fumaça sulfurosa e fios de lava  deslizavam pela encosta da montanha. As cinzas cobriram a cidade, matando animais.  Fazendas próximas à montanha foram destruídas pela lava, que também alcançou e matou um  grupo de trabalhadores.

Em vez de cumprir o seu dever e determinar à população que deixasse a área, o prefeito divulgava mensagens tranquilizadoras. O jornal local publicou o parecer de um especialista em vulcões garantindo que a erupção ficaria por isso mesmo, e logo tudo voltaria ao normal. O tal especialista, anônimo, era uma invenção do diretor do jornal, mais interessado nas verbas do governo que na informação correta.

O governador, do mesmo partido do prefeito, chegou no dia 7 para conferir como estava a situação. Encontrou as ruas desertas, cobertas de uma grossa camada de cinzas. A população estava trancada em casa para poder respirar. Ele e a esposa decidiram dormir lá em vez de voltar à capital, localizada a 24 quilômetros de distância.

O fazendeiro que tentou soar o alarme saiu de sua casa com a família e se refugiou no alto de um morro próximo. De lá ele viu quando, na manhã do dia seguinte, uma enorme explosão seguida do jorro de lava saiu do Mount Pelée e em poucos minutos atingiu Saint-Pierre. No porto, navios carregados de rum pegaram fogo e o rum incandescente cobriu o mar, matando dezenas de pessoas que tentavam se salvar entrando na água. Apenas dois dos 29.935 moradores sobreviveram: um sapateiro que trabalhava no porão de sua casa e um prisioneiro que estava de castigo numa pequena cela do subsolo da cadeia.

Entre as vítimas estavam o governador e sua esposa, o prefeito e o dono do jornal. 

 do livro "O Dia do Fim do Mundo, de Gordon Thomas e Max Morgan Witts





Saint Pierre foi reconstruída, mas nunca mais se recuperou. Depois de 120 anos, sua população mal passa de quatro mil pessoas. 

Na foto da Wikipédia, a cidade com o Mount Pelée ao fundo.







domingo, 24 de abril de 2022

O MENINO QUE FALAVA COM CÃES

 



Martin era um menino problemático: muito indisciplinado,  na escola não conseguia nem aprender a ler  escrever.  Em casa, não parava quieto. Incomodava todo mundo. Os corretivos do pai e dos professores eram surras e punições cada vez mais violentas, até que, aos 13 anos, ele fugiu da casa onde morava com os pais e irmãos, numa pequena cidade da Irlanda dos anos 1970.

Logo ele começou a ser seguido por um cachorro de rua, e depois por outros cinco, com quem compartilhava a comida que achava no lixo, e o pão e o leite que roubava na frente das casas depois que o liteiro e o padeiro passavam.

Os cães passaram a ser a sua familia. Com o tempo Martin conseguiu entender a sua linguagem e os seus códigos de procedimento, a disputa pela liderança, as demonstrações de afeto, de medo, de raiva. Tornou-se o líder da matilha. 

Na sua ausência, a mãe dele ficou sabendo que o filho não era burro nem indisciplinado: ele sofria de uma doença, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. A cura era a paciência e o afeto, e não as pancadas e humiliações.

Depois de três anos, com a ajuda de dois amigos que se compadeceram de sua situação - nunca mais havia tomado banho ou trocado de roupas - foi convencido a voltar à convivência da familia e dos humanos. 

A história de Martin McKenna está descrita em "O Menino que Falava com os Cães", livro que ele escreveu já adulto, quando emigrou para a Austrália, casou e teve filhos. Foi a esposa e a filha mais velha que o ensinaram a ler e escrever. Com a habilidade em entender a linguagem dos cães, ganha a vida com consultoria a famílias de animais agressivos e incontroláveis. Dá entrevistas e participa de programas sobre o assunto.

É um livro comovente e interessante, até para quem não é apaixonado por cães. 




sábado, 23 de abril de 2022

BOM DIA, IMBÉ!

 






domingo, 17 de abril de 2022

POR QUE CORTAR ÁRVORES ?





 





O litoral gaúcho tem um clima e um solo difícil para as plantas. Muitas espécies não resistem ao vento, o frio e a falta de nutrientes. Nos anos 70 o governo do Estado estimulou a plantação de casuarinas, distribuindo milhares de mudas, já que esta espécie se adapta muito bem a solos arenosos e a ventos carregados de sal do mar. Tão bem que suas sementes foram germinando por todo lado. 
Nas últimas décadas, moradores e veranistas começaram a plantar árvores de espécies nativas, que igualmente se dão bem na região, e até amendoeiras, mais chegadas no calor dos trópicos. E hoje balneários como o Imbé ostentam em suas ruas todo tipo de árvore e plantas ornamentais. Elas já são absoluta maioria.


Mas as casuarinas já fazem da paisagem da cidade e da rotina da população - aos sábados, há uma feira na avenida Porto Alegre, à sombra de suas árvores. 


Na beira do rio Tramandaí, famílias chegavam para tomar chimarrão na sombra, e biguás e outras aves pousavam nos fins de tarde para passar a noite em seus galhos. 

A prefeitura decidiu cortar quase todas as casuarinas, e ficou assim

Fez o mesmo na avenida da Osório, na entrada da cidade, e, por cima, substituiu o gramado do canteiro centram por cimento para estacionamento de carros. 

Numa época em que só se fala em reflorestar, proteger as florestas, evitar a impermeabilização dos solos e tantas outras práticas que causam  tragédias em todo mundo, por que cortar árvores?


 

sexta-feira, 15 de abril de 2022

LUA CHEIA DE OUTONO

 


Imbé/RS