terça-feira, 17 de novembro de 2020

A VINGANÇA DAS DONINHAS

 


Pequenos carnívoros de 15 a 35 centímetros de comprimento, as doninhas, furões e visons, da familia dos ustelídeos, são comuns no hemisfério norte. Excelentes caçadores, se alimentam de ratos e outros bichinhos, e se defendem bem dos predadores, às vezes maiores que eles. Mas com os homens, se dão mal.

Sempre foram caçados por seus pelos macios para a confecção de agasalhos, mas com a moda dos caríssimos casacos de vison, passaram a ser criados em fazendas.
Em vez de correr atrás de suas presas, vivem confinados em pequenas jaulas até o momento do abate. De nada adiantaram os protestos de defensores dos direitos dos animais, que na década de 1970 começaram a invadir desfiles de moda e vaiar os casacos de pele.
Não são os únicos animais a serem criados em cubículos e depois abatidos, mas os únicos cujo sacrifício serve apenas para satisfazer a vaidade humana.
A revanche deles chegou com a pandemia. Em abril deste ano, o coronavírus transmitido por doninhas infectou dois funcionários de fazendas da Holanda. Para evitar a propagação do vírus, 500 mil animais já foram mortos nos Países Baixos. Outros casos ocorreram na Dinamarca, maior exportador de peles do mundo. Lá, todos os 17 milhões de animais em cativeiro serão sacrificados. Surtos já foram detectados nos Estados Unidos, na Itália e na Espanha.
Em vários países, como a Alemanha, a criação de doninhas em "fazendas" já foi proibida. A própria Holanda havia aprovado uma lei para acabar com a prática até 2024.
O coronavírus pode apressar o fim desta crueldade.
Será - que ironia - a vingança das doninhas.

domingo, 8 de novembro de 2020

STAIRWAY TO...

 


 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

O DIA EM QUE CONHECI O ROBERTO

 Lidar com repórter - um bom repórter - é difícil. Ele contesta tudo, se acha o máximo, não quer perder tempo em assuntos que não vão render manchete. É turrão, marrento.Lidar com repórter à distância é mais difícil ainda. Ele pode inventar qualquer desculpa para furar uma pauta e ir a um bar beber com alguma gata que conheceu.

Em 1978 não havia celulares, muito menos smart phones. A comunicação era por telefone ou telex, aquelas engenhocas que transmitiam textos. O diretor da sucursal de São Paulo da Cia. Caldas Júnior, José Damas, contratou o Roberto como repórter. Eu era responsável pelo setor nacional da Central do Interior (estranho, né?), e articulava as relações entre as redações dos jornais da empresa - Correio do Povo, Folha da Tarde e Folha da Manhã - com as sucursais de Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Roberto se revelou um repórter responsável, com texto final, que encarava todas as pautas, de uma entrevista com o presidente da Fiesp a acompanhar a recuperação de um cavalo do dr. Breno Caldas que havia fraturado uma perna e estava sendo tratado numa clínica paulista. Conversávamos diariamente por telefone, trocávamos ideias, nos tornamos amigos. Mas eu só conhecia a sua voz - e ele a minha.
Aos 28 anos, eu tinha cabelos compridos e usava calças jeans e tênis, como era usual na época. E era assim que eu estava quando fui apresentado a ele, em São Paulo. Nos abraçamos e
explodimos numa gargalhada que durou longos minutos.
"Clovis, eu pensava que você era velho, barbudo, daqueles que fuma cachimbo e pensam cada palavra que dizem", disse ele.
E eu: "Pô, Roberto, eu tinha certeza de que tu era um garotão cabeludo, barba por fazer, vestindo macacão e camiseta colorida." Acontece que o Roberto estava impecavelmente vestido, barba feita, cabelos cortados e... negro, negro retinto.
Quinze anos depois nos reencontramos num voo para a Espanha, com um grupo de jornalistas convidados para o lançamento de um automóvel. E demos mais gargalhadas, ao recordar aquele dia em
que nos conhecemos.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

BEM PECADINHO! BEM PECADINHO!

 A culinária é uma entre tantas cosias que admiro na cultura árabe. Saudável, nutritiva e, sobretudo, saborosa. Meu primeiro contato com ela foi aos 10 anos de idade, quando provei, e adorei, o quibe. Cru. Lá em Três Passos, onde morava, em 1960. Alguém perguntaria: "mas já havia restaurante árabe naquela cidadezinha perdida no noroeste do Rio Grande do Sul"? Claro que não.

Acontece que Fuad Salem, um jovem palestino, decidiu emigrar depois que sua família perdeu tudo ao ser criado o estado de Israel. Veio para o Brasil e, a caminho de algum lugar, conheceu a minha irmã Asta. Se apaixonou por ela, e ela por ele. Namoraram, casaram e acabaram emigrando para os Estados Unidos.

Fuad, que ganhou o nome aportuguesado de Fernando, anunciou que prepararia uma comida tradicional árabe para os familiares de sua namorada. Chegou com a carne, cuidadosamente escolhida, e o trigo burgol. A nós, as crianças, coube a tarefa de arrancar pés de salsa nos quintais das casas - naquela época não havia supermercados nem fruteiras em Três Passos. E conseguimos. 

Depois de bem lavada, veio a nova tarefa, dita em alto e bom som pelo chefe: cortar a salsa. Com o detalhe: "bem pecadinho, bem pecadinho".

Ele não entendeu as gargalhadas.


MARESIA, O RESTAURANTE DO LUÍS

 

Enquanto preparo um fusili ao alho e óleo, nesta noite de domingo, vem voando a lembrança do Maresia. Um pequeno restaurante de Tramandaí, não mais que oito mesas, onde almoçávamos quase todos os dias, na companhia da Malu, a Maria Luíza Kruel Borges, e o Sérgio Krepsky, marido dela.
O Maresia tinha boa comida, um bufê básico com saladas, carnes e saladas, música boa e ... Luís, o dono, um chef alegretense que depois de girar o mundo foi dar com os costados em Tramandaí. E sentava com a gente para conversar, trocar ideias.
Almoçar era um prazer que não custava caro - pelo contrário.
A cozinheira era a Marta, que às vezes, quando me via chegar e o movimento não era muito grande, perguntava: "queres que eu te prepare um macarrão ao alho e óleo?"
Claro que sim, Marta.

entar


domingo, 25 de outubro de 2020

AH, SE NÃO FOSSE A PLACA

 


A  placa adverte: aqui termina a ciclovia...

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

EFEITO QUEIMADAS

 


As queimadas na região centro-oeste foram tão intensas que a fumaça veio até a região Sul, trazida pelos ventos. A lua cheia, sempre branca e brilhante, ficou com esta cor alaranjada.




ACORDA, LITORAL GAÚCHO

 

Não é mais possível que quase todo o litoral norte gaúcho continue, década após década, sem saneamento básico - esgoto pluvial e cloacal.
Mesmo Tramandaí, Torres e Capão da Canoa, que contam com tratamento de esgoto, têm deficiências, especialmente nas vilas. Com as chuvas, o areal de transforma num charco, as fossas transbordam, e mesmo aqueles que moram em casas confortáveis e zonas menos alagadiças ficam expostos às doenças infecciosas trasmitidas pelos coliformes, sem falar em gripes e resfriados.
O ideal seria os prefeitos se unirem para cobrar da Corsan um tratamento mais respeitoso - ou partirem, em conjunto, para outras alternativas. E aos moradores cabe exigir de seus representantes que ajam. Não é mais possível que este nordeste gaúcho continue assim.
Foto: praia do Quintão. Mas poderia ser de Pinhal, Cidreira, Imbé, Xangrilá, Arroio do Sal e vilas e distritos de Tramandaí, Capão da Canoa e Torres.
A imagem pode conter: céu, árvore, casa, planta, mesa, atividades ao ar livre, água e naturezacompartilhamentos

A GUERRA DA COREIA FAZ 70 ANOS

 


Outubro de 1950. O mundo acompanhava, apreensivo, os combates entre forças norte-americanas e norte-coreanas. Os Estados Unidos já tinham mais de 300 bombas atômicas, a Rússia testava as suas.
Estimulado por Josef Stalin, da Rússia, e Mao Tse Tung, da China, o ditador da Coreia do Norte, Kim Il Sung, havia ordenado a invasão, em 25 de junho, da Coreia do Sul. Sete vezes mais poderoso em homens, artilharia e aeronaves de combate, em três dias Seul foi ocupada pelo Exército popular da Coreia.
Nem Stalin nem Mao esperavam que os Estados Unidos entrassem nessa guerra. Mas, com o apoio da ONU, entraram. E no dia 26 de setembro, retomaram Seul e chegaram ao paralelo 38, fronteira entre as duas Coreias.
Kim Il Sung pediu socorro para os aliados russos e chineses. Os chineses mandaram tropas, os russos suporte aéreo e tanques. A guerra ficou novamente desequilibrada. Na noite de 31 de dezembro de 1950 os chineses e coreanos do norte atravessaram o paralelo 38, retomaram Seul e avançaram pela Coréia do Sul.
Em 25 de janeiro, o general Douglas Mc Arthur, comandante das forças norte-americanas, contra-atacou, e o perigo de uma guerra global entre os Estados Unidos e os aliados chineses e russos, unidos pelo pacto sino-soviético, era iminente.
Harry Truman, o presidente norte-americano, Stalin e Mao acabaram se convencendo que o melhor para todos - e para o mundo - seria encerrar o conflito. Definiram o paralelo 38 como fronteira entre as duas Coreias. O armistício foi assinado em 27 de julho de 1953. Mas a guerra, oficialmente, ainda não acabou. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

UM SUPER PORTO EM ARROIO DO SAL

 





O porto do Arroio Seco, balneário de Arroio do Sal vai sair, e logo. Com a boa vontade dos governos estadual e federal, a torcida dos empresários da Serra gaúcha, de olho na economia que farão para exportar seus produtos, e, principalmente, a grana dos investidoresos - em torno de cinco bilhões de dólares - nada segura a obra.
O prefeito de Arroio do Sal, Affonso Angst, conhecido como "Bolão", só vê os aspetos positivos do empreendimentoo, começando pelos milhares de empregos e o aumento da arrecadação. Mesmo que seu sobrenome, em alemão, signifique medo, ele não parece temer os efeitos colaterais que sempre vêm junto com qualquer interferência deste tipo na natureza. Lidera o movimento "Porto em Arroio Sim".
Mas existe uma parte dos moradores e veranistas que temem as consequências de um porto cavado no costão, com um atracadouro a dois quilômetros da costa. Criaram o "Porto em Arroio Não", e enumeram suas preocupações, que começam exatamente pela falta de informações oficiais sobre o impacto no ambiente e a sociedade.
A costa gaúcha é diferenciada: uma faixa de areia contínua de mais de 700 quilômetros, rota migratória de baleias francas, lobos marinhos e pinguins. A barreira de 500 metros a um quilômetros mar adenteo, interropndendo o fluxo da corrente marítima, também pode ter consequências, a serem avaliadas antes do início das obras.
Um porto aumentaria muito a população da cidade, que não conta com infraestrutura adequada nem para os moradores atuais. Há riscos de poluição dos navios, como em qualquer porto. A anunciada ponte sobre a BR 101 e as lagoas não leva em consideração se tratar de uma reserva natural.
E imaginem a Rota do Sol , estrada construída para facilitar o acesso dos gringos em férias para as praias do litoral norte , coalhada de caminhões. Vejam a foto acima, de Itapoá,SC, citada como modelo do futuro empreendimento.




terça-feira, 22 de setembro de 2020

VIAJANDO

 


UM PEQUENO GRANDE GESTO

O professor Earle Macarthy Moreira era diretor do Colégio Estadual Júlio de Castilhos em 1969. Depois foi reitor da Ufrgs, escreveu vários livros de história. Um mestre. No final do mês de abril, um aluno entrou em seu gabinete e pediu para passar do científico para o clássico - naquela época, os três últimos anos do segundo grau dividiam os alunos entre os que pretendiam seguir uma carreira da área humanística (Direito, Filosofia, Letras, Jornalismo) ou científica (Engenharia, Medicina).
O rapaz explicou que estudava muito mas só tirava notas baixas nas matérias mais importantes para quem queria fazer vestibular de medicina. Apesar de toda expectativa de sua família, que queria um médico, estava muito infeliz - acabara de entregar uma prova de química em branco. Se sentia um peixe fora d'água.
O diretor entendeu a situação, mas explicou que os alunos do clássico já haviam feito as provas de março e a maioria das de abril. Se a vontade dele era esta, e ele aceitava o desafio de recuperar as notas perdidas, faria a transferência. E fez.
Dali para a frente, o aluno mudou: passou a só tirar notas boas, até em áreas, como filosofia, que nunca havia estudado. Decidiu fazer o vestibular de jornalismo, e passou com uma boa colocação, na Ufrgs.
A medicina pode ter perdido um bom profissional, mas o gesto de boa vontade do diretor foi uma das coisas mais importantes na vida deste jornalista, que encontrou a sua vocação e nela se realizou.

sábado, 15 de agosto de 2020

FUMAR ERA UM HÁBITO

 


Até a década de 1980, chegar na casa de alguém, sentar e acender um cigarro era tão normal que havia cinzeiros junto às poltronas. Fumar era permitido nos ônibus interurbanos e nos aviões, que tinham cinzeiros acoplados junto aos bancos. Restaurantes e ambientes de trabalho ficavam cobertos por nuvens de fumaça. Campanhas anti-tabagistas tinham poucos resultados diante da publicidade das indústrias de cigarros, que associavam o ato de fumar a charme (havia uma marca chamada Charm), elegância, virilidade (nos homens) e personalidade e sucesso (nas mulheres, principalmente). Foi só depois de um acidente com um avião da Varig perto do aeroporto de Orly, na França, que incendiou por causa de uma bituca de cigarro, em julho de 1973, que as autoridades passaram a se preocupar com as consequências do tabagismo. Fumar nos banheiros dos aviões - onde começou o incêndio em que morreram 123 pessoas - foi proibido, e mais tarde criaram-se as alas de fumantes, como se a fumaça não fosse compartilhada por todos os passageiros e tripulantes.

Com o passar dos anos, aumentou a pressão contra o fumo em locais fechados. A publicidade de cigarros foi proibida, e as carteiras de cigarro passaram a exibir advertências sobre os malefícios do tabagismo. O que antes era um hábito virou um vício. Um vício caro para as pessoas e para o sistema de saúde dos países. 

O que era usual se tornou um desrespeito absurdo contra os não-fumantes. 

Os cinzeiros agora são objetos de decoração. 






terça-feira, 4 de agosto de 2020

CRESCER SEM DESTRUIR




ATHOS STERN

Engenheiro, 
professor aposentado da Escola de Engenharia da Ufrgs.
Presidente da Associação Comunitária de Imbé - Braço Morto.

 O  objetivo principal do crescimento é proporcionar aos habitantes uma melhoria na qualidade de vida e este é um processo que deve ser permanente. Planejamento é um processo, desta forma não deve ser confundido com o Plano. O Plano serve para guiar a ação por certo período e é resultado de um amplo processo de análises e acordos. Um Plano de Desenvolvimento Urbano deve prever o futuro e os possíveis impactos positivos e negativos, os quais, muitas vezes, favorecem ou contrariam os interesses econômicos de grupos, mas dificilmente atendem os anseios da população, e as prefeituras não preveem impactos negativos.
 O Estatuto da Cidade foi criado para nortear os Planos Diretores dos municípios que pretendem obter desenvolvimento e crescimento, sendo o objetivo principal ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. As cidades são como são em virtude das normas e diretrizes estabelecidas nesses documentos, ou seja, tudo é moldado pelo Planejamento Urbano. Os Planos Diretores das prefeituras não atendem o Estatuto da Cidade por incapacidade técnica de sua equipe, preocupada com o adensamento populacional e aumento da arrecadação. Tanto o adensamento adequado quanto a criação de poli centralidades são princípios do desenvolvimento orientado ao transporte sustentável, uma estratégia de planejamento que articula o uso do solo à mobilidade urbana para criar cidades compactas, conectadas e coordenadas.
O Plano Diretor deve prever áreas de expansão, considerando a infraestrutura que será necessária para acompanhar esse crescimento, em especial a diretriz do próprio Estatuto da Cidade, que pressupõe a gestão democrática, com participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. (A expansão pretendida pelas prefeituras é transformar áreas rurais e Áreas de Preservação Permanente em áreas urbanas).
 Conforme já apontado, cabe ao plano diretor criar as bases para uma cidade inclusiva, equilibrada, sustentável, que promova qualidade de vida a todos os seus cidadãos, reduzindo os riscos do crescimento desenfreado e distribuindo de forma justa os custos e benefícios da urbanização. Além disso, o plano diretor fornece transparência para a política de planejamento urbano, ao instituí-la em forma de lei. Diretrizes urbanas sempre existirão, a diferença é que com o plano diretor elas ficam explícitas, disponíveis ao cidadão para criticar, compreender e atuar sob “regras do jogo” bem definidas. Com ele, o cidadão pode decidir melhor ao escolher onde comprar uma casa para morar, o empresário pode escolher melhor onde investir em um novo negócio.  Por exemplo: uma família adquire um terreno e constrói sua residência. Se não houver um PD adequado, logo após é construído um prédio de 15 andares, ao seu lado, roubando-lhe tudo o que sonhou. Vejam a foto a seguir, que serviu de exemplo para a equipe da UFRGS mostrar as deficiências de um PD mal realizado:






O Plano Diretor deve prever a infraestrutura urbana composta de serviços e equipamentos urbanos como o saneamento básico, iluminação pública, melhoria dos serviços de transporte e outros. O saneamento básico no Brasil abarca uma gama ampla de serviços. Entram nesse escopo o Plano Integrado de Esgotamento Sanitário, Drenagem Urbana e Resíduo Sólido. A questão ambiental é muitas vezes esquecida e está relacionada à oferta de bons espaços públicos. Estabelecer zonas e corredores verdes na cidade é uma forma de criar uma rede de espaços públicos de temperatura mais amena e menores índices de poluição. Isso pode ser feito por meio de diretrizes específicas no PD, que versem sobre a quantidade e o dimensionamento de áreas verdes. (As prefeituras tendem a substituir gramados, vegetações nativas, etc. por áreas pavimentadas impermeáveis, canchas de skate, passeios pavimentados, canchas de esporte, etc.)
 As mudanças climáticas são uma realidade. Fenômenos extremos, como tempestades e furacões, devem se tornar cada vez mais frequentes e intensos. Tanto a prevenção quanto a capacidade e agilidade de resposta de uma cidade diante dessas ocorrências depende, antes de tudo, do saneamento básico que é um direito garantido por lei! (Como exemplo de ausência de prevenção, incapacidade e falta de soluções para os alagamentos que tem ocorrido nos municípios):



A drenagem da água da chuva para evitar enchentes é muito importante no saneamento básico, porque enchente não é culpa da chuva, é um problema da falta de planejamento e crescimento desordenado. A cidade precisa melhorar a infraestrutura de drenagem nas vias públicas. O grande problema é que em geral, os municípios não possuem um projeto de drenagem pluvial, decorrente da falta de recursos humanos preparados para realizar estes planos e para tomar decisões de médio e longo prazo. Se o Ministério Público for procurado, pois atua na defesa da ordem urbanística, do uso e ocupação do solo urbano, tendo por objetivo assegurar planejamento, organização e qualidade de vida sustentável das cidades, certamente nada poderia fazer, devido à ausência de técnicos competentes para solucionar o problema. Então cabe as perguntas: como solucionar o problema? O que pode e deve ser feito? Quem poderia ajudar? Quando fazer, agora, médio prazo ou longo prazo?

Além disso, a expansão significa mais congestionamentos, poluição e viagens mais longas. O ar poluído, impulsionado principalmente pelo uso de carros particulares e caminhões, gera imensos custos sociais, econômicos e impactos na saúde. Já estamos vendo algumas das áreas urbanas que mais crescem em zonas costeiras de baixa altitude, planícies de inundação, em locais de elevada biodiversidade e áreas com problemas de água. O desenvolvimento desenfreado desses ecossistemas sensíveis pode forçar ainda mais os recursos naturais e levar a inundações desastrosas. A Prefeitura Municipal de Xangri-lá contratou diagnóstico da UFRGS, que através de equipe técnica, levantou os principais problemas Ambientais e Urbanísticos do município. Entre outros, abordaram a Contaminação do Solo e Recursos Hídricos (mar, rios e arroios). Observa-se que muitos especialistas não dão a importância que exige os deságues que ocorrem em todo o nosso litoral, pois como as fotos mostram, estes deságues podem interditar a praia inteira.  Considerar como insignificantes estes córregos poluídos, face as dimensões do oceano,  é impróprio.



A maior dificuldade para implementação do Planejamento Integrado, decorre da limitada capacidade institucional dos municípios para enfrentar problemas tão complexos e interdisciplinares. A prefeitura de Xangri-lá diante deste fato, recorreu à UFRGS. Atitude elogiável! Somente como referência ao diagnóstico da UFRGS, este aborda o grande problema que ocorre nos municípios do litoral, com densificação elevada: o sombreamento!


A situação do município de Imbé pretendida pela prefeitura é infinitamente pior. Só para lembrar:




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Um modelo de desenvolvimento urbano excludente e predatório continuam presentes em várias dimensões do processo de urbanização no litoral norte do Rio Grande do Sul. Esta observação busca discutir alguns dos obstáculos que têm incidido sobre a capacidade da rede urbana brasileira de responder ao desafio de ampliar o direito à moradia e à cidade para o conjunto de moradores. O crescimento da economia, têm provocado um dos maiores ciclos de crescimento do setor imobiliário nas cidades litorâneas do Rio Grande do Sul e do Brasil, criando desafios que não são poucos, pois não se trata apenas expandir. A infraestrutura praticamente inexistente em algumas cidades, não poderão absorver este crescimento, pois a base financeira, política e de gestão, sobre a qual foi construído um processo de urbanização, consolidou um modelo.
 Os Planos Diretores (PDs) são instrumento básico da política de desenvolvimento de uma cidade. É a legislação que define as diretrizes para a gestão territorial e a expansão dos municípios. Planejamento urbano, designa o ato de planejar, organizar ações e tarefas com a utilização de métodos adequados para atingir determinado objetivo – nesse caso, o desenvolvimento sustentável das cidades. Regidos pelo Estatuto da Cidade, os Planos Diretores norteiam o desenvolvimento e o crescimento dos municípios – têm o objetivo de ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. O Estatuto das Cidades indica o caminho para reverter o processo inadequado de ocupação do espaço urbano ao incorporar diretrizes para o uso e ocupação do solo, para a preservação e ocupação de áreas verdes, de forma a reduzir a impermeabilização das cidades, bem como ações de intervenção preventiva e de realocação de população das áreas de risco, regularização fundiária e medidas estruturais. Todos os municípios devem formular as suas políticas públicas visando à universalização, sendo os Planos de Saneamento Básico (PMSB) o instrumento de definição de estratégias e diretrizes para os municípios brasileiros. Os municípios tinham até dezembro de 2019 para confeccionar e implementar os planos sem risco de perder verba federal em obras no setor. “Diagnóstico da situação dos Planos Municipais de Saneamento Básico e da regularização dos serviços nas 100 maiores cidades brasileiras “, das 5.570 cidades brasileiras, apenas 1.693 (30%) realizaram seus Planos Municipais; 38% das cidades declararam que estão com os planos em andamento. Grande parte dos municípios do litoral norte não possuem estrutura e nem técnicos habilitados a realizarem o Plano Municipal de Saneamento Básico e, de que forma, pela falta de saneamento básico, lixo jogado e o uso intenso de agrotóxicos para a produção de alimentos, iremos impedir os resultados negativos às águas do nosso rio Tramandaí, em constante degradação?


quarta-feira, 22 de julho de 2020

A LONGA VIAGEM DE JOY, O CUSCO DE ESTIMAÇÃO DE ALEXEI ROMANOV





Joy era um cocker spaniel nascido na Inglaterra.  Em 1914 foi dado de presente a Alexei Romanov pelo seu pai, Nicolau II, czar da Rússia. Por causa de seu temperamento irriquieto e  brincalhão ganhou este nome (alegria, em inglês), e conquistou o afeto do menino de 10 anos, herdeiro do trono russo. Alexei era hemofílico, tinha pouquíssimos amigos, e Joy acabou sendo seu companheiro inseparável.
Na revolução bolchevique iniciada em março de 1917, a família real foi aprisionada em São Petersburgo e enviada para Tobolsk,  e depois para Ecaterinburg, na Sibéria.  Com o czar, a czarina Alexandra, as filhas Olga, Tatiana, Maria e Anastassia, o médico da familia e três criadas, viajaram para o exílio também os três cachorros. 
Na noite de 16 para 17 de julho de 1918, todos foram executados a tiros por soldados do exército vermelho, com exceção de Joy, que estava cego, se assustou e fugiu. Foi encontrado dias depois, vagando pelas ruas, faminto e amedrontado, por um dos soldados que fazia a guarda da Casa Ipatiev, prédio onde os Romanov estavam presos. Com pena, cuidou dele. Pouco tempo depois, tropas do chamado exército branco, organizadas pelos ingleses, invadiram Ecaterinburg.  Pavel Rodzianko, um coronel  russo que lutava contra os bolcheviques , reconheceu Joy, pois havia servido  na guarda do czar.  Adotou-o, e quando a cidade foi retomada pelos revolucionários, levou-o junto na retirada. 
Na base militar inglesa instalada na cidade de Omsk, Joy reconheceu, pelo faro, Sofia Buxhoeveden, que havia sido dama de companhia da czarina. Começou a pular e correr em torno dela,  feliz por ter reencontrado a sua familia.  Nova decepção: Sofia não pode ficar com ele, e a retirada continuou até o porto de Vladivostok, onde o coronel Rodzianko embarcou  rumo a Londres, levando-o junto.
Na capital inglesa, o russo entregou Joy ao rei  George V, primo de Nicolau. O cão foi integrado ao grupo de cães de estimação da família real inglesa. 
Passou seus últimos anos de vida tranquilo, no castelo de Windsor, onde foi enterrado, no cemitério de cães da realeza.






A longa viagem de Joy: 9.600 quilômetros, de São Petersburgo até Vladivolstok, no mar do Japão., foi feita de trem, pela ferrovia Transiberiana. A distância é mais de duas vezes a de Porto Alegre a Belém do Pará. 







Fotos: Museu Municipal de Zlatoust

Fontes. jornal Siberian Times e site Beyond Russia


terça-feira, 14 de julho de 2020

FRIO RELATIVO, FRIO ABSOLUTO


Noite gelada de inverno. O ônibus da empresa  que fazia a linha Porto Alegre-Montevidéu  para na aduana brasileira, em Chuí. Os passageiros descem e entram no prédio de porta aberta, com funcionários encarangados de frio. Cumpridos os trâmites burocráticos, voltam rápido para o ônibus, que passa a fronteira e estaciona na frente da aduana uruguaia. 
Com a porta fechada e uma lareira acesa, os funcionários estão confortáveis vestindo blusões de lã.
O frio era o mesmo, mas os poucos metros de distância indicavam a diferença com que brasileiros e uruguaios encaravam os rigores do inverno.
Muita gente comenta que adora as baixas temperaturas, apropriadas para um fondue com vinho tinto à beira do fogo, roupas charmosas, um fim de semana na Serra.  Há também os que suportam melhor o frio. Para a maioria da população, no entanto, faltam roupas adequadas, as casas não tem isolamento térmico nem aquecimento . Sem falar nos irmãos que vivem nas ruas.
Para estes, o frio é um tormento.







Lar sem teto


2020



O primeiro inverno
em que eu hiberno





sábado, 27 de junho de 2020

ZÉ RAMALHO, O NETO DO AVÔRAI


Quando o repórter perguntou a Zé Ramalho qual o significado de Avôhai, ele poderia ter respondido que era o avô que o criou, depois que ficou órfão de pai, aos dois anos de idade. Ou sugerir que ele consultasse o google - desde que a internet se tornou acessível, os repórteres não têm mais o direito de ir para uma entrevista sem saber nada do entrevistado. Mas ele disse "nem eu mesmo sei". E a entrevista foi publicada assim.
José Ramalho Neto nasceu em Brejo do Cruz, na Paraíba, mas foi criado em João Pessoa, onde deveria, pela vontade da família, estudar medicina. Mas ele preferiu seguir a vocação do pai, e se tornou um dos mais populares compositores e intérpretes que surgiram no nordeste e conquistaram o Brasil.
Seu talento explode tanto nas melodias como nas letras, poesia pura. Vejam:
"Neblina turva e brilhante
em meu cérebro coágulos de sol
amanita matutina
e que transparente cortina
ao meu redor" (Avôhai)
Zeca Baleiro gravou, em maio de 2014, no teatro Castro Alves, de Salvador, Chão de Giz, um show dedicado a Zé Ramalho, a quem chama de "admirável bardo". É esplêndido, tanto pela interpretação impecável como pelos arranjos. Para ouvir em silêncio respeitoso. E muitas vezes.