terça-feira, 27 de outubro de 2020

BEM PECADINHO! BEM PECADINHO!

 A culinária é uma entre tantas cosias que admiro na cultura árabe. Saudável, nutritiva e, sobretudo, saborosa. Meu primeiro contato com ela foi aos 10 anos de idade, quando provei, e adorei, o quibe. Cru. Lá em Três Passos, onde morava, em 1960. Alguém perguntaria: "mas já havia restaurante árabe naquela cidadezinha perdida no noroeste do Rio Grande do Sul"? Claro que não.

Acontece que Fuad Salem, um jovem palestino, decidiu emigrar depois que sua família perdeu tudo ao ser criado o estado de Israel. Veio para o Brasil e, a caminho de algum lugar, conheceu a minha irmã Asta. Se apaixonou por ela, e ela por ele. Namoraram, casaram e acabaram emigrando para os Estados Unidos.

Fuad, que ganhou o nome aportuguesado de Fernando, anunciou que prepararia uma comida tradicional árabe para os familiares de sua namorada. Chegou com a carne, cuidadosamente escolhida, e o trigo burgol. A nós, as crianças, coube a tarefa de arrancar pés de salsa nos quintais das casas - naquela época não havia supermercados nem fruteiras em Três Passos. E conseguimos. 

Depois de bem lavada, veio a nova tarefa, dita em alto e bom som pelo chefe: cortar a salsa. Com o detalhe: "bem pecadinho, bem pecadinho".

Ele não entendeu as gargalhadas.


Nenhum comentário: