terça-feira, 17 de dezembro de 2013

DE CINEMA

 


 
Fazenda Esperança, junto à BR 101 em Criciúma, SC



segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

TROPEANDO

 
 
 
 
 

sábado, 14 de dezembro de 2013

NATAL NO GRAVATAL

 

 
 
 
 


Ao som das cigarras, Papai Noel chegou  no seu trenzinho e iniciou as festas de Natal nas Termas de Gravatal.   

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

TRILHAS

 
 
  
 
 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

SONS DA INFÂNCIA


Eles são poucos, mas ainda resistem. Afiadores de faca como o Carlos e o Heitor aparecem
de vez em quando nas ruas do bairro Petrópolis, em Porto Alegre, tocando seus apitos para chamar a atenção das donas de casa.





terça-feira, 19 de novembro de 2013

"TÁ DEMORANDO..."


Os idosos podem ser felizes. Aqueles que sempre se cuidaram, praticaram esportes, evitaram gorduras e bebidas alcoólicas. Aos 70 e tantos anos se sentem jovens. Alguns, endinheirados, casam com  jovens. Correm na beira da praia, têm vida sexual ativa, viajam, gozam a vida como se as décadas não tivessem passado. São pauta para reportagens de tevê e suplementos de saúde dos jornais.  
Mas estes são exceção. A grande maioria deles, depois que já não conseguem cumprir as tarefas domésticas e os familiares não podem ou não querem tê-los nas suas casas,
 acabam encontrando amparo nas geriatrias. Normal: seus maridos/esposas morreram, os filhos têm seus filhos e netos para cuidar, uma vida para viver.
Nas casas geriátricas quase todos têm problemas de saúde: mal conseguem caminhar, quando não estão em cadeiras de rodas, a visão e a audição são precárias, a memória falha cada vez mais - será que eu já almocei? O que foi mesmo que aconteceu no dia 15 de novembro? Qual dos meus filhos me ligou hoje - ou foi ontem?
E eles vão levando a vida, numa rotina que muda pouco, mesmo nas casas mais sofisticadas.  Dependem dos atendentes para quase tudo: higiene, locomoção, alimentação. Acordam cedo, tomam café, esperam o lanche, o almoço. Depois sesteiam, tomam o lanche, jantam e vão para a cama.
 As horas entre uma e outra refeição são passadas em frente à tevê ou em silêncio,  às vezes rompido por conversas que, invariavelmente, são memórias ou as novidades dos filhos e netos. As notícias da tevê e dos jornais já não interessam mais - eles não fazem parte deste mundo das falcatruas dos políticos, dos crimes hediondos, dos congestionamentos gigantes nos feriadões.
E no silêncio de seus quartos, enquanto o sono não vem, eles  lembram dos seus maridos ou esposas, dos filhos e netos que demoram tanto para visitá-los, do dia do casamento, das festas, das viagens, das desgraças. E anseiam pelo dia em que, enfim, se juntarão aos queridos já falecidos . Volta e meia eles insistem em aparecer em sonhos, perguntando: "porque demoras tanto a chegar ?" 






sábado, 26 de outubro de 2013

DESCARTADA


Garrafas, latas, papel, papelão, plástico. Tudo é reciclável, tudo é buscado nas calçadas.
Mas uma sombrinha colorida que já não abre, quem vai querer?
E ela fica lá, abandonada, dia após dia.
Quem vai querer?

domingo, 15 de setembro de 2013

BARBOSA LESSA




Na Semana Farroupilha, jorram nas tevês, rádios e jornais declarações de um tal de "orgulho de ser gaúcho".  Quase sempre exageradas, forçadas. Algumas, ridículas.
Melhor seria homenagear gaúchos notáveis como Carlos Barbosa Lessa, que aos 19 anos, junto com Paixão Côrtes e outros guris do interior desgarrados na capital, fundou o primeiro Centro de Tradições Gaúchas.
Pesquisador infatigável das tradições  do Rio Grande, escritor  e compositor de Negrinho do Pastoreiro, Chimarrita e várias outras canções inesquecíveis do folclore gaúcho, era avesso a fanfarronadas. Modesto, achava graça quando os amigos o louvavam como uma das mais importantes personalidades da história do Rio Grande do Sul.


Barbosa Lessa com o jornalista e poeta José Otávio (Dedé) Ferlauto num domingo ensolarado do outono de 1996 em seu sítio no interior de Camaquã, onde passou os últimos anos de sua vida.

O SÍTIO DA HOSPITALIDADE

Barbosa Lessa nasceu em Piratini, iniciou seus estudos no colégio Gonzaga, em Pelotas, e, adolescente, foi para Porto Alegre, onde terminou o segundo grau no Colégio Estadual Júlio de Castilhos e depois se formou em Direito na Urgs. Desgarrado na capital, iniciou, com alguns amigos também vindos do interior como Paixão Cortes e Glaucus Saraiva, uma revolução para resgatar as tradições gaúchas. Criou o primeiro Centro de Tradições Gaúchas, compôs obras-primas como Negrinho do Pastoreio (qual é o gaúcho que não se emociona cada vez que ouve?), e em 50 livros divulgou o que se chama de cultura gaúcha - seu folclore, suas danças, a história de sua gente. 
Mais de 40 anos depois, consagrado como escritor, folclorista, compositor,publicitário e jornalista, Lessa se aposentou e fez o movimento inverso. Deixou as cidades grandes (São Paulo, e depois Porto Alegre) para morar, até morrer, em 2002, no seu sítio a 30 quilômetros de Camaquã,. De lá saía um sábado por mês para prosear com os amigos na Feira de Artesãos do Parque Farroupilha, em Porto Alegre, e vender erva-mate e travesseiros de capim perfumado produzidos por ele e a mulher Nilza. Nestes 15 anos de exílio voluntário, o sítio do casal se tornou um santuário ecológico onde todos os visitantes eram recebidos com a hospitalidade das pessoas do interior. 


A casa simples, de madeira, fica à beira de um arroio, cercada de mato. Ali, respirando ar puro, bebendo água de uma fonte, o poeta e escritor encontrou a paz que tanto procurava.



Nesta cachoeira do arroio Duro, ao lado da casa de Barbosa Lessa, foram gravadas cenas do filme Netto Perde Sua Alma, de Tabajara Ruas e Beto Souza



Negrinho do Pastoreio
Acendo essa vela pra ti
E peço que me devolvas
A querência que eu perdi
Negrinho do pastoreio
Traz a mim o meu rincão
Eu te acendo essa velinha
Nela está meu coração
Quero rever o meu pago
Coloreado de pitanga
Quero ver a gauchinha
Brincando na água da sanga
Quero trotear nas coxilhas
Respirando a liberdade
Que eu perdi naquele dia
Que me embretei na cidade
O morro de mata-virgem era o cenário descortinado por Barbosa Lessa da janela de seu "escritório" - um quartinho de madeira construído próximo a casa principal, mobiliado apenas com uma mesa e uma cadeira, cercados de livros por todos os lados. Da mata se ouvia os gritos dos bugios, principalmente quando ouviam vozes de visitantes. "Estão saudando vocês", comentou, rindo, ao chegarmos.
As colinas do interior de Camaquã, onde Lessa comprou um sítio após a aposentadoria, em 1987

A sensação esquisita

BARBOSA LESSA*
Há 10 anos viramos as costas à Capital, eu e minha mulher, e nos enfiamos na mata-virgem da serra de Camaquã. No princípio tudo era quase novidade e nos sentimos muito bem, principalmente depois que começamos a produzir plantas medicinais e erva-mate para a Cooperativa Coolméia. A safra de erva era muito animada, com a peonada se agitando no sapeco à beira do barbaquá. Mas depois as coisas foram se complicando, de ano para ano, e começamos a sentir na própria carne o tal êxodo rural. Nosso vizinho menos longe, o Seu Alfredo, foi o primeiro a se mandar, nem sei bem pra onde. Também a casa do Seu Leco, o outro vizinho, virou tapera completa. Foram escasseando e desaparecendo os ajudantes ervateiros. Hoje só temos como peão o Altamiro, e olhe lá!, não sabemos se amanhã ainda estará conosco. Há vezes em que dou um grito na mataria e não encontro ninguém para me responder.
Mas existe uma outra face da moeda, que mantém nossa casa num astral sempre elevado. Viver na mata-virgem é algo que lava a alma. Cada vez que o sol nasce, o coração se reaquece. Não tem ninguém para nos encher os ouvidos se queixando da crise. O que nos enche os ouvidos é o gorjeio dos sabiás, o misterioso solfejar do urutau, a orquestração dos bugios roncando, o tipo de uivar do mão-pelada, até mesmo o grasnido do tucano, que aqui é uma ave em extinção.
Um dia desses, de manhãzinha, tive uma surpresa. Ao abrir as venezianas da janela do quarto, deparei-me, a não mais que uns cinco metros, com dois tucanos placidamente pousados nos ramos do velho cambará que nos dá sombra. Logo chamei a Nilza, para que também ela pudesse ver de tão perto esses dois seres habitualmente muito ariscos. Os enormes e coloridos bicos reluziam ao sol!
Eles também nos fitavam, meio sarapantados, com profunda curiosidade. E tive então uma esquisita sensação. Não estou querendo exagerar, agora, fazendo poetice ou vã filosofia. Mas acreditem, que foi verdade: meio constrangido, tive a nítida idéia de que os dois tucanos estavam nos olhando com a natural curiosidade de quem examina, enquanto ainda é tempo, um pobre animal em extinção...
* Texto publicado no periódico Taí, reproduzido na Revista ZH do jornal Zero Hora em 18/5/1997

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O ASTRO REI SE PERDE NA NEBLINA

 

O barco pesqueiro Astro Rei se perdeu na neblina e acabou encalhado a 500 metros da barra do rio Tramandaí (ao fundo). Tratores o puxaram com cabos de aço até a praia do Imbé. 


 
Durante dois dias, o esforço foi colocar o barco de 30 toneladas sobre dois reboques.



Terceiro dia:  puxado até a beira do rio Tramandaí, o Astro Rei, depois dos reparos, poderá voltar a navegar.





PRIMAVERA


Lord curte a flor de hibisco

terça-feira, 10 de setembro de 2013

QUEM NÃO PERGUNTA SE TRUMBICA


Saber perguntar é um atributo indispensável a um bom repórter. Por melhor que seja o seu texto, maior que seja o conhecimento do assunto e a coragem de encarar desafios, é pelas perguntas, feitas no momento e na forma certa, que ele vai tirar dos entrevistados a matéria-prima para uma boa reportagem.
Não é por nada que Marília Gabriela tem dois programas de entrevistas, e em emissoras diferentes. Ela olha nos olhos do(a) convidado(a) e, sorrindo docemente, dispara as perguntas mais desconcertantes. Ele (ela) acaba dizendo o que não queria.
Um bom repórter desenvolve a sua própria  técnica de colocar o entrevistado contra a parede. A repórter Ana Maria Magalhães, a Ana Terra, que na década de 80 trabalhava da RBSTV (antes de migrar para São Paulo) era simples e direta. A ponto de um governador gaúcho da época mandar um recado para a direção da empresa: "por favor, não mandem aquela menina me entrevistar"... Não foi atendido, coitado.
Marques Leonam Borges da Cunha, um dos melhores repórteres de jornal do Rio Grande do Sul,  tinha outra estratégia. Começava falando no tempo, na saúde, e aos poucos ia cercando a sua presa. Quando dava o bote, ela já estava sem forças para reagir. Entregava o jogo.
Carlos Wagner, outro ícone da reportagem gaúcha, tem uma enorme facilidade de estabelecer laços de camaradagem com os seus entrevistados. Quando eles se dão conta,  disseram bem mais do que deviam.  Os dois repórteres sabem muito bem o que querem. Só esperam o momento e o jeito certo de perguntar.
Há também aqueles entrevistados tremendamente habilidosos na arte de escapar das armadilhas e virar o jogo a seu favor. O mestre deles foi Leonel Brizola. Cada entrevista acabava se tornando um show onde ele, e só ele, brilhava. Na tevê, no rádio ou no jornal, era impossível colocá-lo em contradições, fazê-lo escorregar nas cascas de banana. As coletivas acabavam invariavelmente com os jornalistas boquiabertos, ouvindo-o sem coragem de interromper as suas frases de efeito.
Mas nesses últimos tempos os repórteres têm facilitado a vida dos entrevistados. Políticos, empresários, advogados e bandidos têm dito o que querem, saído incólumes das mais absurdas situações. Recentemente o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, foi entrevistado por um grupo de jornalistas do Rio e de São Paulo num importante programa de uma emissora de televisão em rede nacional. Às voltas com problemas e denúncias de todo tipo, numa cidade conflituada, seria um prato cheio para bons entrevistadores. Mas o prefeito, completamente à vontade, tirou de letra todos os questionamentos. Chegou a se dar ao luxo de retrucar, ao fim de uma pergunta feita de forma confusa e tímida: "Mas o que é mesmo que o senhor quer saber?"
Estão fazendo falta bons entrevistadores entre os jovens jornalistas brasileiros.







UM DIA DE FOG, UM DIA DE SOL



Esta imagem é da beira-mar da praia do Imbé, às quatro e meia da tarde de 9 de setembro de 2013. Enquanto no Litoral a paisagem estava imersa em neblina, no resto do Rio Grande do Sul havia sol e pouca umidade.



No dia seguinte,  sol e calor.  

sábado, 24 de agosto de 2013

TRATAMENTO DOS ESGOTOS: UM DIREITO HUMANO ESQUECIDO

Morar numa cidade do litoral gaúcho é muito bom: ar puro, silêncio, segurança,  trânsito descomplicado, vida pacata do interior. Com a internet e a tevê por satélite, não há desculpa para  se desconectar do mundo. E se der vontade de ir a um cinema, um show, uma peça de teatro ou ao shopping, Porto Alegre não fica longe.
O que incomoda, mesmo, é quando chove por alguns dias. Em qualquer época do ano, o solo arenoso enxarca, as ruas ficam alagadas por falta de escoamento. O ar se torna empestado, mesmo nas cidades que têm tratamento do esgoto cloacal, como Tramandaí, Torres e Capão da Canoa.  Nas demais cidades, onde não há esgoto tratado, as fossas transbordam e a água contaminada acumulada nas sarjetas se torna um problema de saúde pública.  De sul a norte, do Chuí ao Mampituba, de Quintão a Xangrilá, balneários charmosos ou modestos viajam no tempo até à época da Idade Média,  quando a falta de saneamento causava epidemias de doenças contagiosas.
Reconhecido como um direito humano universal, da mesma forma que a água potável e o recolhimento de lixo, o esgoto cloacal tratado, assim como o pluvial, deveria ser considerado uma prioridade pelos prefeitos municipais, vereadores, governadores, deputados e senadores. Mas não é, por dois motivos: o político - asfaltar uma rua dá mais dividendos eleitorais do que colocar canos debaixo da terra - e o econômico: sai muito caro construir redes de esgotos e estações de tratamento, e sempre há outras coisas mais urgentes e importantes - na ótica deles - para fazer.
Numa região em que uma parte dos proprietários de imóveis são veranistas e onde os moradores na maioria têm baixa renda, os problemas causados pelo sistema de fossas sépticas se agravam devido à precariedade das instalações e a falta de cuidados de manutenção. Os veranistas, que ocupam as suas casas apenas no verão e em fins de semana, não acham necessário mandar limpar anualmente as suas fossas, como é recomendado, e muitos moradores não têm condições de pagar pelo menos  R$ 400,00 pelo recolhimento dos dejetos em caminhões-tanque e o seu transporte até estações de tratamento da Corsan.  Até mesmo o uso de produtos biológicos para a limpeza natural dos dejetos, vendidos a R$ 20,00 em lojas agropecuárias, é considerado um luxo. O jeito é tapar o nariz, esperar a chuva passar e a água escoar.
Nas vilas da periferia, onde não há nem ao menos calçamento, a situação é dramática devido à precariedade das moradias, muitas delas de madeira, enfiadas em áreas alagadiças. As doenças causadas pelo frio e a umidade são comuns durante os meses de frio, vento e chuva.
Nos longos invernos, é dura a realidade do litoral do Rio Grande do Sul, uma faixa de areia de 600 quilômetros entre lagoas e o mar. 
Bem diferente do verão, quando há trabalho para uns, lazer para outros e sol para todos.



quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O CARRO DO GANDOLFO


O sonho de consumo do Gandolfo não era uma Ferrari, uma BMW, nem mesmo um carrão antigo de colecionador. Ele queria mesmo era ter um carro fúnebre como o da foto: preto, com colunatas douradas, para passear pelas ruas de Porto Alegre e abanar alegremente para os passantes atônitos.
O jornalista Francisco Gandolfo era o setorista do obituário do Correio do Povo dos anos 70. De temperamento alegre e extrovertido, adorava a sua área de atividade. Chegava à redação cedo, por volta das sete horas da manhã, e sempre arrancava gargalhadas dos poucos colegas madrugadores com  seus comentários.
Metódico, telefonava para os cemitérios para saber se algum personagem conhecido estava sendo velado ou seria enterrado naquele dia. Mas mesmo se não tivesse, ele ia até as capelas mortuárias, se apresentava para os familiares e anotava os dados do morto para publicar as notas - todo jornal que se preze, no mundo inteiro, tem um bom obituário, invariavelmente uma das suas páginas mais lidas.
O repórter tinha um lema que sintetizava o seu espírito galhofeiro e o rigor profissional:
- Faleceu? Gandolfo deu!



domingo, 4 de agosto de 2013

UM OUTRO OLHAR SOBRE MAQUIAVEL




"Nenhum epitáfio pode fazer juz a tão grande nome"






(Inscrição na lápide de Maquiavel, nascido em Florença em 1469 e falecido na mesma cidade em 1527)



Nicolau Maquiavel se tornou conhecido pelo seu primeiro livro, O Príncipe, no qual derruba os biombos da hipocrisia ao defender que um governante, para chegar ao poder e se manter nele, deve, às vezes, abrir mão de seus princípios éticos e morais, e recorrer até mesmo a meios cruéis, como a eliminação física de seus inimigos. Todos os políticos faziam isso, mas sempre havia justificativas nobres. Nenhum filósofo ou historiador tinha coragem de admití-lo abertamente. Por causa disso, a má fama de Maquiavel chegou a tal ponto que ele  gerou um adjetivo: maquiavélico,  sinônimo de dissimulado, sem escrúpulos, enganador.  
 Mas este é apenas um aspecto do grande pensador da Renascença, um homem de educação refinada que dos 29 aos 41 anos de idade integrou a cúpula da administração de Florença como diplomata e conselheiro político, até o principado ser invadido por tropas espanholas aliadas ao papa que recolocaram a família Médici no poder.  
 Quentin Skinner, professor de História Moderna da Universidade de Cambridge, Inglaterra, lança um novo olhar sobre a obra do florentino em Maquiavel (editora LPM, 119 páginas). Analisa, com equilíbrio e riqueza de detalhes, cada um de seus três livros: O Príncipe, escrito na tentativa de mostrar aos Médici  que tinha conhecimentos sobre a arte de governar para justificar sua volta ao emprego, depois de ter sido preso e demitido; 
Discursos, um estudo focado na história de Roma, sua origem, apogeu e decadência, e A História de Florença, escrito anos mais tarde por encomenda dos Médici, que o perdoaram parcialmente. Neste, o tema dominante é a corrupção: descreve como ela tomou conta de Florença, estrangulou sua liberdade e conduziu o principado à tirania e à desgraça.  
 Maquiavel passou o resto da vida estudando história e escrevendo. Em sua obra literária analisa a sociedade do início do século 16, marcada pela violência, a corrupção e a dissolução moral, da qual nem os papas estavam livres - muito pelo contrário.
O historiador  inglês tem o cuidado de contextualizar a época, discorrendo sobre aquela fase da história em que a Europa iniciava o Renascimento depois da queda do Império Romano e séculos de obscurantismo medieval.
A Itália era composta de principados e pequenos reinos que ora guerreavam entre si, ora enfrentavam poderosos inimigos externos como a França e a Espanha e o próprio Papado, que governava Roma e boa parte do território italiano.
Para Maquiavel, só com boas leis e governantes corretos, que priorizassem o bem comum  e não os seus interesses pessoais, um país poderia ser próspero e independente. Se, ao contrário, os políticos no poder cedessem às suas ambições, favorecendo as facções a que pertenciam e se aproveitando dos cargos para enriquecer, a decadência e a ruína seriam certas.

As lições de Maquiavel

 Conselhos aos príncipes:
 - As principais fundações de todos os estados são boas leis e bons exércitos. Aliás, bons exércitos são ainda mais importantes que boas leis.
- Um príncipe sábio será guiado acima de tudo pelos ditames da necessidade: se deseja manter o poder, ele deve  estar sempre preparado para agir imoralmente quando for necessário. Faz o bem quando pode, mas frequentemente será obrigado pela necessidade a agir de modo traiçoeiro, impiedoso ou desumano.  Ele deve alterar sua conduta quando os ventos da fortuna e a variação das circunstâncias o forçarem a isso.

Virtudes x Sorte
Para ser bem sucedido um governante deveria ter fortuna (boa sorte) e virtù, um termo criado por ele para significar qualidades pessoais como coragem, bom senso, honestidade, capacidade de entender as mudanças.
A virtú compensaria os períodos de má sorte, mas uma pessoa sem qualidades que chegasse a altas posições na sociedade não resistiria à mudança da maré. 

Liberdade x tirania
- A experiência mostra que as cidades nunca aumentaram seus domínios ou suas riquezas  exceto quando estavam em liberdade.
- Tão logo uma tirania se estabelece sobre uma comunidade livre o primeiro mal resultante é que estas cidades não crescem mais em poder ou riquezas mas, na maioria dos casos, retrocedem.

Corrupção, o mal maior
- Os homens, em sua maioria, são mais propensos ao mal do que ao bem. Por conseguinte, tendem a ignorar os interesses da comunidade a fim de agir de acordo com suas disposições malévolas sempre que têm campo livre.
- O começo da corrupção é a perda ou dissipação da preocupação com o bem comum, um processo de degeneração que se desenvolve no corpo dos cidadãos ou, pior, quando os governantes começam a promover suas ambições pessoais  ou de suas facções, em detrimento do interesse público.
- Nos regimes corruptos, há uma tendência para a elaboração de leis e instituições físicas não para o proveito comum e sim para vantagens individuais ou sectárias.

   Em sua análise sobre a corrupção, Maquiavel adverte para o perigo dos métodos escusos usados  para a conquista e manutenção do poder. Um deles  é "fazer favores a vários cidadãos, defendendo-os dos magistrados, auxiliando-os com dinheiro e ajudando-os a conseguir cargos imerecidos".
  O outro é "agradar as massas com divertimentos e donativos públicos, montando exibições caras de natureza calculada para ganhar uma popularidade expúria e entreter o povo, que abre mão de suas liberdades".
   Como vemos, os políticos  de 500 anos atrás não eram muito diferentes dos atuais.
  
  


 
    




        

sexta-feira, 26 de julho de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

NOS TEMPOS DOS FÓSFOROS

Pode parecer incrível, mas houve um tempo em que fumar (cigarros de tabaco) era usual em qualquer lugar: bares, restaurantes, ônibus, aviões. As casas tinham cinzeiros, porque a primeira coisa que uma visita fazia era acender um cigarro. Depois da decolagem os avisos luminosos de apertar os cintos e não fumar eram desligados e... o avião se enchia de fumaça.
Se você não fumava e o camarada ao seu lado sim, azar o seu. A máxima concessão, estampada nos avisos dos ônibus, era "favor não fumar charutos e cachimbos."
Redações de jornais na hora do fechamento ficavam no meio de smog - nenhum repórter conseguia criar um bom lead sem algumas baforadas. Chefes de reportagem e editores aliviavam a sua tensão fumando um cigarro atrás do outro.
Bares, restaurantes e hotéis de primeira classe ofereciam como cortesia caixinhas de fósforos para seus clientes. Veio desta época, de um passado nem tão remoto, o meu hábito de trazer as caixinhas como recordação de lugares onde passei.

 
Hotéis da Canadian Pacific, construídos ao longo da linha de trens que atravessa o Canadá

 
Restaurantes nota 10: Botufameiro, de Barcelona,  
Botin, de Madrid ( o mais antigo do mundo), 
e La Pizza Nostra, de Santiago do Chile
 
 
Restaurante Vieux Port, de Montreal,
casa de tangos El Viejo Almacén, de Buenos Aires
 e hotel Husa Princesa, de Madri.
 
 
Pronto!
Já posso botar a minha coleção fora...
 
 
 
 
 
 

LAGARTEANDO

Praça da igreja de São José, em Campo Mourão, Paraná

domingo, 14 de julho de 2013

A BELA MARINGÁ


Viajantes de larga quilometragem não precisam mais do que um ou dois dias para sentirem o clima de uma cidade. 
Maringá, a terceira cidade do Paraná,  encanta. É jovem, luminosa, vibrante e rica, grande produtora de milho, soja, cana e outros produtos agrícolas. Entre seus quase 400 mil  habitantes chama atenção a grande quantidade de  estudantes. Há duas universidades: a Unespar, Universidade Estadual do Paraná, e a Cesumar, particular, que mantém uma excelente orquestra filarmônica. 
Cidade-pólo da região noroeste do Estado, é a sede do Instituto Vale da Seda, criado para incentivar a produção e a comercialização de seda natural. Os 29 municípios da bacia hidrográfica do rio Pirapó produzem 92% da seda natural do país, em pequenas propriedades onde os agricultores cultivam amoreiras e nelas os bichos-da-seda. 
 A tranquilidade dos moradores não foi azedada pela insegurança - os índices de criminalidade estão bem abaixo dos registrados no resto do país. Pode-se passear sem medo pelo centro da cidade, um privilégio para quem vive nas metrópoles conflituadas. E não estranhe: a boa educação é outra característica deste oásis de paz e tranquilidade.



Gigante de concreto com 124 metros de altura, a catedral de Nossa Senhora da Glória,  em forma de cone, inaugurada em 1972, se sobressai na paisagem da cidade. É a sua maior atração turística.



Todas as sextas-feiras os alto-falantes da mesquita convidam a comunidade muçulmana para a oração.


As ruas e avenidas, traçadas em 1947 por uma empresa inglesa de colonização - a mesma que fundou as povoações que se transformaram nas cidades do norte e centro-oeste paranaense, entre elas Londrina -  são largas e arborizadas. Têm poucas sinaleiras, pois a maioria dos cruzamentos são rótulas. O trânsito flui sem congestionamentos.



Maringá é uma cidade de ótimos índices de  qualidade de vida. Quase todo o esgoto é tratado,  não há poluição do ar e, acredite: nem favelas. 
Os restaurantes, hotéis e shopping centers têm a mesma variedade e qualidade de qualquer  capital brasileira e o aeroporto, mesmo pequeno, é totalmente satisfatório.
Falta alguma coisa? Sim. Falta um rio, um lago, uma praia. Mas não se pode ter  tudo nesta vida...




sexta-feira, 12 de julho de 2013

PAISAGENS DO PARANÁ





A paisagem nas duas margens da rodovia estadual (duplicada) PR 317, entre Maringá e Campo Mourão, é de  lavouras que se estendem até o horizonte. Pouco depois de Campo Mourão estão as Termas de Jurema, onde a água jorra do solo a 42 graus.







domingo, 30 de junho de 2013

SAT: A GAIVOTA JÁ NÃO VOA EM TRAMANDAÍ


Os sonhadores que, nos anos 1960, idealizaram a sede da Sociedade dos Amigos de Tramandaí, a SAT, voavam alto. Não queriam apenas um lugar onde se encontrar, fazer festas e bailes, mas deixar para as futuras gerações um legado de beleza e bom gosto. O prédio, de estilo modernista, tem formas arrojadas, bem de acordo com o espírito do Brasil daqueles tempos, marcados pelo otimismo, pela certeza de dias melhores.  Refletia a Tramandaí da época: um balneário de poucos e pequenos edifícios e muitos chalés de madeira, onde as famílias passavam as suas férias de verão.



  


  



Construído em estilo modernista, de formas arredondadas, o prédio se tornou um marco na arquitetura da cidade.


  Na foto acima, do arquivo do clube, um baile nos bons tempos


Nos últimos anos, à medida que os costumes mudavam e os espigões se destacavam na paisagem da cidade, a SAT entrou em decadência. Em vez do salão cheio, apenas o silêncio.


 Os sócios, os alunos de natação e os de hidroginástica que frequentavam a piscina olímpica térmica sabiam que a situação financeira da SAT era difícil. A caldeira, aquecida a eletricidade, tinha custo alto e exigia manutenção constante, e as mensalidades, de R$ 60,00, não cobriam as despesas.  No início de 2013, a eleição da nova diretoria,  composta de moradores de Tramandaí e presidida por uma mulher,  deu-lhes um novo alento. Havia a expectativa de uma campanha para a recuperação do mais antigo clube do Litoral, fundado no dia 5 de fevereiro de 1945, com a ajuda da sociedade e do poder público.   








 Pouco tempo depois da posse, começaram os boatos de que parte da sede estava sendo negociada com uma construtora para o pagamento das dívidas. A dura realidade veio na forma de tratores que derrubaram a área onde funcionava a boate. Antes que a gaivota erguida em pedra, o símbolo do clube, viesse abaixo, o Ministério Público pediu e obteve na Justiça o embargo da demolição, questionando o seu valor histórico e os interesses difusos em jogo.
Na primeira semana de  junho de 2013,  os funcionários trabalharam alguns dias sem energia elétrica, cortada por falta de pagamento. Sem saber o que fazer, fecharam as portas.
A gaivota já não voa na Capital das Praias.
 O sonho acabou.


  




A fachada da SAT - ou o que sobrou dela - mostra o abandono da sede do clube,
de portas cerradas desde abril de 2013. 
Uma cena triste de se ver.  


Para ampliar as fotos, clique duas vezes sobre elas