"Aqui no Arraial todas as noites são sábados e todos os dias são domingos".
Na década de 1980, o Arraial d'Ajuda era um lugarejo ainda rústico mas já charmoso o suficiente para atrair aqueles brasileiros e estrangeiros que buscavam paz, alegria, belas praias e, por que não - muito agito. Afinal, era o auge da lambada/zouk, do reggae e do rock, nacional e internacional.
Arraial, território de liberdade, onde "todas as noites são sábado, e todos os dias domingo". Lugar para curtir cada momento, longe dos problemas políticos e econômicos do país.
As fotos abaixo foram feitas por mim entre os anos de 1984 e 1990.
Clique sobre elas para ampliá-las, e...
boa viagem!
Em 1984 Porto Seguro era uma cidade pequena, bonita, acolhedora. Ainda não tinha vôos comerciais - viajava-se 18 horas do Rio de Janeiro ou 24 horas de São Paulo para chegar.
Mas ninguém reclamava...
A estrada da Balsa, quatro quilômetros de pó ou de barro
A igreja de Nossa Senhora d'Ajuda, onde tudo começou.
Em 1987 ainda havia um coreto junto à estátua do Cristo Redentor
A praça Brigadeiro Eduardo Gomes. Ao redor dela foram construídas as primeiras casas do povoado
Frutas, verduras, legumes, à venda na praça, debaixo das árvores.
As folhas de coqueiro e bananeira anunciam: hoje à noite vai ter lambada no Jatobar. Temperatura? 50 graus. Voltagem? 50 mil volts, ao som da banda Arrow, da ilha de Montserrat: "feeling hot, hot, hot"
O belvedere atrás da igreja, point ideal para uma foto (e agora uma selfie...)
Caminhões-pipa socorriam os moradores quando faltava água (quase sempre)
A boca da Bróduei, ponto de chegada dos visitantes.
Antes do Fredo's, naquela esquina funcionava o Tropicana, onde rolava cerveja, caipirinha e rock'n'roll a noite inteira.
Na confeitaria Papalua, à esquerda, doces feitos por deuses.
A Bróduei, alma do Arraial. Música ao vivo, dança, encontros e desencontros, um mix de idiomas.
Nos bares e restaurantes da rua rolavam Bob Marley, Fagner, Lobão, Gil, Alceu Valença, Zé Ramalho, Raulzito, Led Zepellin, The Cure, Titãs, Supertramp, Santana, Stones, Dire Straits.
O restaurante Chez Lampião era especial. Além da boa comida, havia discos de ótima qualidade que pouca gente conhecia.
Foi ali que ouvi pela primeira vez Phillip Glass, Spyro Gira e Stephane Grapelli.
O campo de aviação, com sua biruta balançando ao vento, ainda era utilizado para pousos e decolagens de aviões pequenos.
A rua do Campo
Lais na rua do Mucugê, o Caminho do Mar.
À esquerda, a pousada Flamboyant, e mais abaixo o restaurante Manguti
Alameda dos Flamboyants, das pousadas do Paulista, Coqueiros, Bemvirá, Arraial Candeia e do restaurante Rosa dos Ventos
A rua da Lapinha, onde ficava o bar "A Volta do Boêmio"
"Síndrome de Ajuda" é a definição do poeta, músico e escritor Ari Sobral, líder da banda Água de Coco, para a doença incurável que acomete uma pessoa que conhece o Arraial e acaba voltando lá para nunca mais sair. Isabel Orsini Lobato, gaúcha, professora de história formada pela PUC/RS, foi uma "vítima" desse mal. Durante alguns anos, na década de 80, criava cangas artesanais, na sala de sua casa transformada em ateliê. Mais tarde fez concurso para professora estadual e até hoje passa conhecimentos de história - inclusive do Arraial - para os alunos do ensino médio.
O Arraial sempre atraiu "malucos beleza" de todo tipo
Os cachorros merecem um capítulo à parte na história do Arraial. Tinham seus donos, mas eram de todos...
O cemitério dos primeiros moradores, bem no centro
O prazer de um dia na praia começa com a visão do mar
Na volta, a subida da ladeira e aquela sede.
A praia do Mucugê...
e a da Pitinga, em 1984. Sem barracas, sem pousadas.
Um mergulho, pelado, no rio Taípe
O riacho Mucugê
A lagoa Azul
O Arraial era assim. Muita coisa mudou, mas na essência, continua igual.
Lindo, apaixonante, de alto astral.
Um lugar único.
A esquina do Mundo - de todo mundo.