quarta-feira, 28 de outubro de 2009

NETUNO SEM MAR


sábado, 17 de outubro de 2009

PEDRO PORT, UM POETA

É fácil encontrar poetas. Eles estão nos bares, nas ruas, nas praças. São nossos amigos, colegas, parentes. Montam seus versos em madrugadas insones, entre uma e outra dose de uísque, e no dia seguinte chegam ávidos por mostrar as suas obras. Quase sempre têm o valor de um fósforo - queimado.
Raríssimos são os verdadeiros poetas, aqueles que esculpem as palavras, sabem o significado delas, e atingem com seus poemas a alma de quem os lê. Pedro Port é um deles. A poesia sempre foi a sua razão de ser, o primeiro pensamento da manhã, último antes de adormecer.
Formado em filosofia pela Ufrgs, pós-graduado em literatura brasileira pela Ufsc, Pedro é hoje, aos 68 anos, apenas poeta. A única concessão que faz é para a pintura, talento que desabrochou há pouco tempo, cultivado com o apoio de um amigo, o pintor renomado Rodrigo de Haro.
Pedro Port nasceu em Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul. Em 1964, já morando em Porto Alegre, lançou a antologia Poesia Vezes Três, com apresentação de Mário Quintana. Depois de uma longa viagem pela América do Sul, em 1973 foi para Florianópolis, onde passou a publicar sua obra poética: em 1979, Vento Sul; em 1994, Cântaros, e Ilhíada, coletânea de poetas da Ilha de Santa Catarina; em 1997, Antiface; em 1998, Lâmina Órfica e em 2000 Bodas de Verão.
Periodicamente é convidado a declamar suas poesias em eventos na Ilha, em São Paulo e em Buenos Aires.
Transcrevo abaixo (clique em postagens antigas)  Bodas de Verão, para que os internautas também possam navegar em seus versos.

BODAS DE VERÃO







BODAS DE VERÃO




BODAS DE VERÃO




BODAS DE VERÃO







BODAS DE VERÃO




BODAS DE VERÃO




BODAS DE VERÃO




BODAS DE VERÃO




BODAS DE VERÃO




BODAS DE VERÃO







BODAS DE VERÃO


EPIGRAMAS DO LIVRO

ANTIFACE


Baco hospitaleiro

Enchei vossas jarras com o rubro vinho da Piéria
provai amigos o sumo bom e generoso de nossas terras
aqui podeis dançar comer dormir peidar

O Eden de cima
que emana da luz da testa do Criador
o Eden de baixo por sua vez ilumina


Reza o Zohar que o paraíso celeste está protegido num lugar a que nenhum caminho
/ conduz

já ao Eden terreno conta o Livro trinta e duas vias de acesso mas reconhece
a ele ninguém sabe como chegar




Morro do Assopro

Com justo nome foi assinalado este lugar que antes fora ermo
tu que nele escutas como eu o ressôo do sopro batismal de um poema
hás de convir comigo que era poeta o povo que aqui viveu


Apolo dos ratos

Não mais quisemos esse de belvederes com louros de Dafne à cabeça
o nosso profundo desejo de morte levou-nos a desejar o outro
o divino do esgoto o que anuncia a peste


O mitógrafo

Sensível ao pormenor pagão da nudez do corpo do crucificado
e atento às variações barrocas da escultura no sincretismo com Dionísio
escreve ele estremecido o santo nome do Senhor:Jesus Calipígio






segunda-feira, 12 de outubro de 2009

FERIADÃO



IMBÉ/RS, 12/10/2009. Depois de quatro meses vazios, os quiosques da beira do rio voltaram a ter movimento.

sábado, 10 de outubro de 2009

VENDEDORES DE ILUSÕES




Breve aqui mais um condomínio "de luxo" de Xangri-lá. À direita fica a estrada do mar. À esquerda casas, a avenida Paraguassu, e, algumas quadras depois, lá longe, o mar.






Diálogo imaginário numa happy hour da Calçada da Fama, numa sexta-feira, quando as ruas do bairro Moinhos de Vento,em Porto Alegre, ficam congestionadas de Toyotas, Hondas, BMWs e outros carrões de mais de 60 mil. Sentados numa mesa da calçada de um café, dois jovens empreendedores batem papo.

Johnny - Cara, fechei um negócio da China. Vou emplacar meu segundo milhão (de dólares, hehehehe). Comprei baratinho mais uma área grande junto à Estrada do Mar para transformar em condomínio de luxo.


Rudy - Mas alí é um areal brabo. E fica tri longe da praia.
Johnny - Bobagem. Tou cercando a área com muros de três metros, e cavando lagos artificiais com retroescavadeiras. A areia que sai dali serve pra elevar o nível do terreno. Depois é só plantar grama e umas palmeiras pros otários imaginarem que estão em Palm Beach ou Jurerê Internacional.


Rudy - Estás brincando. Na Flórida e em Jurerê o mar é limpo , o clima bem mais ameno e os condomínios ficam junto ao mar. E nestes teus condomínios os terrenos são pequenos e as casas grandes. Fica um vizinho de cara para o outro. E com estes muros enormes, parecem presídios.


Johnny - Outra bobagem. E mal começaste a beber. O que a classe média quer é justamente a segurança dos muros. E quanto às casas ficarem coladas, melhor ainda. Quem chegou lá precisa mostrar aos outros o seu status. O carrão zerinho, o home theater, as roupitchas trazidas de Newyork...


Quanto a este mar de chocolate, quanto mais longe, melhor. Uma piscina, mesmo pequena, resolve. Quando o tempo estiver pra praia, é só botar a família na Hilux e ir.
Rudy - É, mas do outro lado da estrada tá cheio de malocas. Outro dia li num jornal uma reportagem sobre esta vizinhança. Os miseráveis vivem no meio do lixo, dos porcos e galinhas. Parece a Índia.
Johnny - Ora, deixa de ser ingênuo. Os meus clientes não tão nem aí para a maloqueirada, querem é poder acionar o controle remoto e abrir o portão para o seu refúgio. E não te preocupa com a mídia. Esta reportagenzinha que viste foi um acidente de percurso. Parece que a repórter quase foi pra rua por causa dela. Cada lançamento já prevê algumas páginas de anúncios coloridos, para, digamos, amortecer o espírito crítico dos jornalistas. Eles sabem que não devem se meter. Tem tanto outro assunto pra cobrir no veraneio. A moda de praia, por exemplo... gargalhadas...


Rudy - Mas tu te deste conta de que não falta muito pra acabar a duplicação da BR 101? Cada vez que eu vou pra Santa chego mais rápido. Mais um pouco e chegar a Jurerê vai ser uma barbadinha e o pessoal endinheirado vai preferir construir lá.


Johnny - Fala baixo, fala baixo. Antes disso eu ainda vou vender um monte de gelo na Sibéria. Não é por nada que saí do zero pra chegar onde cheguei, ao contrário de ti, que é de família rica.




Rudy - Tá legal, saquei. E como vais chamar o condomínio?
Johnny - Golden Jail.
Rudy - Gostei! Vamos brindar ao teu segundo milhão.



Imaginei este papo enquanto esperava minha salada de frutas num café da Padre Chagas, a rua mais chique de Porto Alegre, observando dois caras sentados numa mesa próxima à minha. Haviam desembarcado de um New Beetle, fumavam charutos, pediram champanha importada e ficaram tentando, sem sucesso, chamar a atenção das mulheres que passavam mexendo nos seus um notebooks e celulares incrementados. Pareciam aqueles tipos que ganharam dinheiro fácil e depois tomam porres para comemorar os golpes de aplicaram nos trouxas. A cena dos dois me fez lembrar a paisagem do Litoral gaúcho onde brotam os condomínios "de luxo" - assim mesmo, entre aspas. Vender aqueles terrenos deve realmente ser um milagre da arte de marquetear/maquiar/enganar. Convencer alguém a pagar no mínimo 300 mil reais por um pedacinho de areia e depois gastar outros 200 mil (ou mais) para construir uma casa de veraneio longe do mar, cercada de muros e de vizinhos é algo admirável. Ou esta nossa classe média é mesmo otária????







domingo, 4 de outubro de 2009

ADIÓS, MERCEDES SOSA

"La Negra", com o compositor, pianista e maestro Ariel Ramírez, na gravação da Cantata Sudamericana, em 1972




Mercedes Sosa, junto com Atahualpa Yupanki, é a face mais conhecida da riquíssima música folclórica argentina, que floresce na paisagem árida da pré-cordilheira dos Andes.
Graças a ela, nós brasileiros pudemos tomar contato com algumas preciosidades do folclore argentino, chileno, boliviano, peruano. Com vigor, talento e coragem, Mercedes desbravou a selva da ignorância e do preconceito até hoje existentes no Brasil em relação à América hispânica. Com sua voz forte, ao som do inseparável bombo legüero, pregava com convicção religiosa um continente com "fronteras de flores y fuziles de mentira".
O primeiro contato com a zamba, a baguala, a chacarera e outros ritmos da Argentina criolla, de raízes indígenas, foi uma porrada na minha cultura musical, até então limitada à MPB, ao rock e aos clássicos.
Em dezembro de 1971, aos 21 anos, parti para uma viagem pela América do Sul, junto com alguns colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nunca havia atravessado o rio Uruguai.
A primeira parada foi em Salta, cidade do norte argentino, junto à Cordilheira. Nos hospedamos na casa de Manuel Castilla, um dos mais importantes poetas e compositores do país. Era o período das festas de fim de ano, e passávamos os dias e as noites bebendo vinho, mascando folhas de coca e ouvindo os grupos musicais da cidade. Um banho de ritmos, harmonias e instrumentos musicais criados pelos incas, como a quena e o charango.
Desde então a música folclórica argentina ganhou um lugar de honra na minha alma. Tive a felicidade de ouvir Mercedes Sosa em shows inesquecíveis em Porto Alegre e no Memorial da América Latina, em São Paulo, assim como Atauhalpa Yupanki e outros mestres. Uma das maiores emoções que já tive foi assistir a Misa Criolla interpretada por seu compositor, Ariel Ramírez, com um coral de crianças vindas da Argentina. Um dos meus discos prediletos é Cantata Sudamericana, outra obra de Ramírez em parceria com Felix Luna, na voz de Mercedes Sosa.
Buenos Aires é linda, cosmopolita, quase européia. Impossível não gostar da cidade. Mas se me perguntarem para que região da Argentina eu mais gostaria de ir, respondo: Santiago del Estero, Tucumán, Salta, Jujuy. Lá sim bate forte, ao ritmo do bombo legüero, o coração argentino.





"Si la muerte me lleva
no será para siempre
yo revivo en mis coplas
para ustedes, para ustedes"

Da música Alcen La Bandera, de Ariel Ramirez e Félix Luna
Álbum Cantata Sudamericana