sábado, 25 de dezembro de 2010

MEU PRIMEIRO ACARAJÉ





















Pausa para a pose durante um jogo de bola no Porto da Barra, em 1970.
O branquela à direita sou eu...


A turma do jornalismo da Ufrgs de 1970 era diferente - bem diferente - das outras. Todos queríamos o diploma de jornalista, claro, mas havia em nós uma inquietação incomum, que extrapolava as disciplinas do currículo. Tínhamos sede de cultura, de arte, de novas tecnologias, de vida. Lust for life.
Não terminou a primeira semana de aulas e lá estávamos, numa baita festa, na casa da Magda von Brixen und Montzel, no Alto Petrópolis. Foi o primeiro de tantos encontros em que, mais do que colegas, nos tornamos bons amigos.
No segundo semestre, o curso de Jornalismo foi transferido da Faculdade de Letras, no Campus Central, junto à Reitoria, para a Faculdade de Biblioteconomia, na rua Ramiro Barcelos, perto do Planetário. Diziam, na época, que era para afastar os estudantes de jornalismo daquele "antro de comunistas" que se reuniam em locais como o bar da Filosofia, o Centro Acadêmico da Arquitetura, o Alaska e os outros bares da Esquina Maldita, na rua Osvaldo Aranha com a Sarmento Leite.
No novo prédio passamos a ser vizinhos, além das futuras bibliotecônomas (que nos olhavam como ETs), dos estudantes de Odontologia, de Medicina e de Farmácia. E eles não estavam nem aí para a ditadura militar, então em seu auge. A nova Unidade ganhou o nome de Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação. A sigla, Fabico, apesar de ridícula, continua sendo usada até hoje.
Quando apresentamos à diretora, uma senhora franzina e antipática, o projeto do Salão de Arte e Comunicação, o SACO 70, ela torceu o bico, digo, o nariz. Mas tudo que queríamos era a cedência de um salão do térreo, então sem utilidade. Ela acabou concordando. Trabalhamos como loucos, e o salão foi um sucesso. Teve dança, artes visuais, palestras e performances, executadas por alunos e professores da Universidade.
No mesmo ano, mesmo duros, mesmo jovens demais, embestamos de participar do Congresso Nacional de Jornalistas, em Salvador. E fomos, de ônibus. Na rodoviária da capital baiana, um grupo liderado pela Liana Milanez tomou conta do posto telefônico e, guia na mão, passou a ligar para todas as empresas gaúchas com filiais na Bahia suplicando auxílio para pagar a estadia.
Entre vinícolas e metalúrgicas conseguimos o suficiente para quase 20 guris e gurias ficarem uma semana em pousadas sem estrelas, mas que para nós eram tudo de bom. Depois conseguimos casas de família para ficar, e alguns de nós se hospedaram no alojamento dos oficiais de um quartel do Exército localizado no centro da cidade.
A nossa intenção era participar das discussões do Congresso Nacional de Jornalistas, no Teatro Castro Alves, mas só algumas dezenas das 1.554 poltronas estavam ocupadas pelos congressistas.
"Os outros? Ah, estão na programação turística", explicou um dos organizadores do encontro.
E foi assim, integrados às caravanas que partiam diariamente, a convite das secretaria do turismo do Estado e do município, que conhecemos a cidade sem gastar nenhum tostão: Lagoa do Abaeté, Itapuã, Mercado Modelo, Igreja do Bom Fim.
Numa noite fomos levados a uma sessão de candomblé. Aquela batida hipnótica dos atabaques, as negras incorporando, o calor e a eletricidade do ar me deixaram assustado. Fiquei com medo de, eu também, entrar em transe.
E todo dia surgiam novos quitutes baianos. Provamos de tudo: o acarajé, o abará, muqueca de peixe e de camarão, carne de sol e frutas de nomes, formas e cores nunca vistas. A baiana da tenda de acarajé ao lado da igreja de São Francisco, no Centro Histórico, gordíssima, se jactava, entre risadas: "sou uma máquina, uma máquina do sexo". Não cheguei a testar as suas qualidades sexuais, mas o acarajé, ah, o acarajé. Muuuuuito gostoso!
A última tarde foi de praia, no Jardim de Alá. Dormi e sonhei ao sol, entre os coqueiros, e no outro dia, cedinho, embarcamos no ônibus para voltar, todos felizes depois de tantas emoções e descobertas. Mas eu tinha um problema: branquela como sou, estava assado, torrado do sol.

Voltei gemendo de dor...
Cada vez que volto à Bahia - e isto tem acontecido bastante - , não consigo resistir ao apelo do azeite de dendê e peço um acarajé. Mas nenhum teve, até agora, o gostinho daquele. O primeiro acarajé a gente nunca esquece.




sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

COM CLAUDINHO PEREIRA

 O CARIBE ANCOROU NO IMBÉ



Os verões de 2001 e 2002 foram inesquecíveis no litoral do Rio Grande do Sul: teve muito sol, mar de águas tépidas, pouco vento e a barraca Dunas, do Claudinho, na beira da praia do Imbé. Não era uma barraca qualquer: além de bebidas, peixes e petiscos, havia uma pista de dança, e, claro, o puta som do DJ, comunicador e diretor de cinema Claudinho Pereira.
O Caribe veio para o Imbé: era salsa, merengue, reggae, rock
e outros ritmos da manhã à noite. No entardecer, sempre lotava. O pessoal ia chegando e se acomodando nas cadeiras e na areia para curtir a magia do por do sol colorindo o céu até entrada da noite, ao som de músicas suaves. Mais tarde, os clientes voltavam, banho tomado, para aperitivar ou jantar. Preta, mulher de Claudinho, comandava a cozinha. As festas só acabavam alta madrugada. Os bailes de reveillon e de carnaval atraíram veranistas de todo litoral. Foram milhares de pessoas, de todas as idades, disputando espaços na pista e na praia.