sexta-feira, 27 de novembro de 2015

AMARGO RIO DOCE


Carlos Drummond de Andrade publicou em 1984 este poema profético:

LIRA ITABIRANA


O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos

Sem berro?



A mesma indignação que os brasileiros sentem hoje, ao constatar que as mineradoras, década após década, exploram o subsolo de Minas Gerais e outras regiões do país preocupadas unicamente com os seus lucros, mesmo que isto possa causar "acidentes" como o de Mariana, senti ao visitar Potosi, na Bolívia, em 1972.O relato está no blog 


http://umabandapelosandes.blogspot.com.br 


Lágrimas de Prata 




"En Potosi solo tenemos dos estaciones: el invierno y la estación del tren..."

É com esta frase, seguida de uma gargalhada, que os moradores da cidade costumam descrever o seu clima. Apesar de estar situada na mesma latitude de Belo Horizonte, em Potosi os termômetros raramente marcam mais de 20 graus, mesmo no auge do verão, por ser uma das mais altas cidades do mundo – fica 4 mil metros acima do nível do mar.
Ao chegar lá, eu já havia me acostumado com o ar rarefeito do altiplano. Meu choque foi outro: ver de perto um dos mais emblemáticos exemplos da rapina de um país cujas riquezas foram saqueadas enquanto quase toda a população, de absoluta maioria indígena, permaneceu, século após século, na extrema pobreza.
Fomos contratados para nos apresentar durante as tardes, nos intervalos entre uma e outra sessão do cinema local. O dono do cinema nos cedeu um quarto ao lado da sala de projeção para dormirmos. Enquanto os filmes rodavam, aproveitávamos para conhecer a cidade que, entre os séculos 16 e 18,  contribuiu para sustentar o império colonial espanhol e a renascença européia. Calcula-se que, apenas do Cerro Rico, morro que se sobressai na paisagem da cidade, foram retiradas 56.000 toneladas de prata, suficientes para ligar Potosi a Madri. As mineradoras continuaram em atividade até 1985,quando as minas, exauridas, foram praticamente abandonadas, deixando a maioria dos seus 120 mil habitantes da cidade sem trabalho.




A primeira impressão que se tem do Cerro Rico é de um imenso queijo cheio de buracos,  de cor avermelhada, pois nada cresce nas encostas. Visitar suas minas é um passeio obrigatório. Ver o que restou delas, e o contraste entre o quanto foi retirado e a miséria do entorno, dá vontade de chorar.
Apesar de seu aspecto desolador, o cerro ainda provoca cobiça: com as modernas técnicas de mineração, é economicamente viável extrair a prata remanescente nas suas rochas, moídas por máquinas de grande capacidade de produção. Ao fim do trabalho, nada mais restaria desse monumento ao colonialismo selvagem. Numa recente pesquisa de opinião promovida pelo governo sobre esta possibilidade, a população manifestou uma opinião unânime: prefere deixar o cerro como está, pois nada teria a ganhar com a sua exploração.
O centro histórico também tem corrido riscos. Seus prédios coloniais, quase todos em mau estado, ainda dão uma boa ideia do antigo esplendor do período colonial , quando era uma das cidades mais importantes e populosas do mundo. Considerada patrimônio histórico mundial pela Unesco, Potosi tem resistido às tentativas de governos e grupos econômicos interessados em demolir a área urbana para explorar o seu sub-solo, onde ainda há minerais valiosos.
Um dos poucos prédios preservados do Centro Histórico, o museu onde funcionava a Casa da Moeda, é outro símbolo do barbarismo espanhol. Era ali que a prata das minas era transformada em lingotes e moedas para abastecerem o império. 

Os indígenas eram usados como tração animal para movimentar as máquinas. Empurravam alavancas andando em círculos, como os bois nas antigas moendas. Quando desfaleciam, eram retirados e substituídos. Sulcos circulares nas pedras onde pisavam ficaram como marcas de tantos anos de trabalho. 
Nas minas, as jornadas se estendiam do amanhecer até a noite. Sem ver a luz do sol, mal alimentados e respirando ar rarefeito e contaminado, morriam em poucos meses. Em 1638, o frei Antonio de la Calancha escreveu que cada moeda de um peso custava a vida de 10 índios.
Nas ruas de Potosi, conversando com os descendentes destes quíchuas, concluí que a vida deles não melhorou muito de lá para cá. Mascam folhas de coca o dia todo para "quitar el hambre", bebem álcool puro para aliviar o frio depois deixá-lo queimar um pouco baixar o teor alcoólico e vagam pelas montanhas, sós ou em grupos, em busca de algumas gramas de prata que tenham escapado de cinco séculos de pilhagem.


sábado, 14 de novembro de 2015

WALL PAPER




Área de preservação da foz do rio Araranguá em Morro dos Conventos, Santa Catarina





Lagoas do Litoral Norte do RS


domingo, 1 de novembro de 2015

VAIDADE, TUDO É VAIDADE



Atire a primeira pedra quem não tiver vaidade. 
Eu, você, todos temos. É saudável, necessário. É por isso que nos vestimos bem, nos perfumamos, estudamos e trabalhamos muito, queremos nos destacar em alguma coisa - ciência, negócios, arte. 
Mas quando a vaidade ultrapassa os limites do bom senso, o efeito é o contrário. Nos achamos superiores aos comuns mortais.  Nos tornamos ególatras, perdemos o senso crítico. Acabamos nos afastando dos amigos, mas aceitamos, faceiros, os elogios dos bajuladores. 

Salomão, filho de Davi, rei dos judeus, teve uma vida de luxo e poder. 
Já no fim da vida, chegou à conclusão de tudo nesta vida é vaidade. 
Está no Eclesiastes. 



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Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.
Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois.
Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.
Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.
Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento.
E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito.
Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.

Eclesiastes 1:1-18



As 10 Vaidades, Segundo Salomão


1.       A vaidade da sabedoria"No futuro, todos nós seremos esquecidos. Todos  morreremos, tantos os sábios como os tolos" (2:15 e 16).
2.       A vaidade do trabalho: "A gente trabalha... para conseguir alguma coisa e depois tem que deixar tudo para alguém que não fez nada para merecer aquilo" (2:19-21)
3.         A vaidade dos objetivos humanos: "Deus faz que os maus trabalhem, economizem e ajuntem a fim de que a riqueza deles seja dada às pessoas de que Ele gosta mais" (2:26).
4.     Vaidade do sucesso: "Também descobri por que as pessoas se esforçam tanto para ter sucesso no trabalho: é porque elas querem ser mais do que os outros"  (4:4).
5.       A vaidade da avareza: "Descobri que na vida existe mais uma coisa que não vale a pena: é o homem viver sozinho, sem amigos, sem filhos, sem irmãos, sempre trabalhando e nunca satisfeito com a riqueza que tem" (4:7 e 8).
6.     A vaidade da fama: "O número de pessoas que um rei governa é muito grande; no entanto, quando deixa de ser rei, ninguém é agradecido pelo que ele fez" (4:16).
7.       A vaidade das riquezas: "Quem ama o dinheiro nunca ficará satisfeito; quem tem a ambição de ficar rico nunca terá tudo o que quer". (5:10).
8.       A vaidade da cobiça:  "É muito melhor ficar satisfeito com o que se tem do que estar sempre querendo mais." (6:9).
9.       A vaidade da frivolidade: "A risada dos tolos é como os estalos de espinhos no fogo - não quer dizer nada" (7:6).
10.     A vaidade dos elogios: "Eu vi o enterro de pessoas más.  Na volta do  cemitério,  notei  que  eram elogiadas, e isso na mesma cidade onde haviam feito mal" (8: 10).
         
          Todas as citações são da versão A Bíblia na Linguagem de Hoje. Os números entre parêntesis, indicam o capítulo e o versículo de Eclesiastes.