quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

ALGUNS ECONOMISTAS ME IRRITAM




As lojas de eletrodomésticos oferecem fogões de 600 reais em 20 prestações de 38 reais. As revendas de carros têm carros básicos com financiamentos de 60 meses. As construtoras financiam os imóveis em 20 anos.
Para os economistas que dão entrevistas na tevê, quem encara estas propostas só pode ser maluco e irresponsável. Engravatados, banho tomado, em seus escritórios limpos e organizados, eles dão a fórmula certa: pagar tudo à vista. Usar o limite do cheque especial só em último caso. Investir em CDB, na bolsa ou em lingotes de ouro (a poupança não rende nada)  até juntar o dinheiro suficiente para comprar o eletrodoméstico, o carro, o apartamento à vista.
Em que mundo eles vivem? Sei lá, mas não é o meu, nem o do seu Antônio, nem o da dona Teresinha. Pessoais normais têm, quase sempre, duas opções: comprar a prazo ou não comprar. Lá nos anos 70 resolvi comprar meu primeiro carro. Optei pelo consórcio. Ir pagando aos poucos, sem juros, até resgatar o bem, como pregam os doutores da economia. Paguei  meio ano, 10 meses, um ano, e nada de ser sorteado. Viajava de carona ou de ônibus, andava de táxi. Até que cansei. Retirei o que já havia pago e dei de entrada para comprar um fusca azul-calcinha usado, financiado em 12 vezes.
A vida é assim. O importante é ver se o financiamento cabe no orçamento. Se a tevê está funcionando, fica com ela em vez de se endividar com aquela megatela. O carro novo também pode esperar. Mas se não houver outro jeito, encara, aperta o cinto. E não dá bola para estes senhores que vivem num mundo ideal.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

JURUBEBA, O UNDERBERG NORDESTINO






Um aperitivo amargo, produzido na Bahia e muito popular no nordeste.
É um composto de vinho tinto de mesa (70%) e macerado de frutas de jurubeba. Tem também extratos de canela, cravo, quássia, boldo e genciana, xarope de açúcar, álcool etílico potável e caramelo de milho.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

CAPITANIA DE PORTO SEGURO

PARAÍSO ESQUECIDO POR QUATRO SÉCULOS


Porto Seguro já foi uma das capitanias hereditárias mais prósperas do Brasil. Só perdia para a de Pernambuco. Quando Pero do Campo Tourinho vendeu seus bens em Portugal - era um rico proprietário - e chegou com seiscentos homens em quatro naus, em 1534, para tomar posse da capitania, estava determinado a não apenas buscar riqueza fácil mas trabalhar duro para cultivar as terras, sem temer as dificuldades daquela época. Foi o único dos donatários que trouxe consigo a família - a mulher e os três filhos.
A fatia de terra concedida pelo rei de Portugal era imensa: ao norte ia até o rio Jequitinhonha, em Ilhéus; ao sul até o rio Doce, no Espírito Santo, e a oeste seus limites chegavam até as 200 léguas definidas pelo Tratado de Tordesilhas. A capitania atravessava Minas Gerais e chegava ao meio do território de Goiás, na altura de Brasília.
Tourinho fundou a vila de Porto Seguro, e nos primeiros anos usou mais as armas que trouxe para se defender do que as ferramentas de trabalho. Depois de muitas escaramuças, com mortos e feridos, conseguiu estabelecer uma convivência relativamente pacífica com os índios Tupiniquins, os mesmos que estavam à beira da praia de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, quando Pedro Álvares Cabral desembarcou, 34 anos antes. Os índios até ajudaram os colonos na construção de casas e na lavoura, em troca de pagamento.
Na faixa de terra próxima ao litoral havia lavouras de milho, algodão, fumo e principalmente mandioca, alimento básico de índios e colonos. Das matas eram tiradas toras de Pau Brasil, e a pesca de garoupa e outros peixes tornou Porto Seguro exportador para outras outras regiões da colônia. Mais tarde começou a plantação de cana, e no seu auge a capitania contava com cinco engenhos em funcionamento.
Mas a obsessão de Pero do Campo Tourinho pelo trabalho, ao contrário de seus conterrâneos  lusos, que corriam os riscos de desbravar as terras conquistadas pela riqueza fácil, deixando o trabalho braçal para escravos e índios, acabou contrariando interesses e criando rivalidades. Ele reclamava do exagero de dias santos - alguns deles para santos que nem eram oficializados pela igreja católica -, e  em 1543 foi denunciado por padres, acusado de heresia. Não guardar dias santos, naquela época, era crime.
Levado "a ferros" - acorrentado - para ser apresentado ao Santo Ofício, em Lisboa, pagou fiança e aguardou em liberdade por quatro anos até ser interrogado pela Inquisição portuguesa. Não adiantaram seus apelos para que o tribunal o julgasse com urgência pois a Capitania ficara acéfala. Absolvido, ele não voltou mais para a colônia.
Só em 1555 Fernão, um dos seus filhos, foi confirmado como herdeiro, mas morreu pouco depois. Sua irmã Leonor vendeu as terras para um nobre português, por não se considerar capaz de ficar à frente dos negócios. A Capitania já estava decadente, e os índios Aimorés, que haviam expulsado os Tupiniquins da região, começaram a hostilizar os colonos e a destruir suas plantações e casas.
Nômades, os aimorés, também chamados de botocudos pelos adornos que colocam nos lábios e orelhas, viviam da caça e das frutas abundantes. Usavam a tática de guerrilhas. Evitavam  confrontos diretos, e depois de atacar fugiam para a floresta.  Os colonos passaram a abandonar as lavouras e tentar a sorte em outras regiões, mais seguras.
Não demorou muito para que Porto Seguro e as vilas construídas nas elevações próximas ficassem reduzidas a poucas casas, com os moradores isolados, sobrevivendo do que plantavam e da pesca. E assim ficaram por quatro séculos. Graças a este isolamento, a densa floresta do extremo sul da Bahia, riquíssima em madeiras nobres, ficou preservada, e a região não teve escravidão, como ocorreu nas lavouras de cacau e cana, mais ao norte, de café, ao sul, e nas minas, a oeste.



A primeira missa no Brasil, em Porto Seguro.  No quadro de Victor Meirelles os índios eram tupiniquins. 



Os pataxós, como esta menina que vende artesanato no Arraial d'Ajuda, só começaram a chegar à região duzentos anos depois. 





Na década de 1930. Assis Chateaubriand, dono dos poderosos Diários Associados, criou uma campanha denominada Asas Para o Brasil. Queria incentivar o crescimento da aviação para apressar a integração ao país de regiões onde ainda não havia estradas. Eram os raids, ou  "revoadas": donos de aviões eram convocados a, em datas determinadas, mandarem seus pilotos, ou irem pessoalmente, até as cidades escolhidas. A ida dos aviões era precedida por reportagens sobre essas regiões, e a cobertura jornalística pelos jornais e pela revista O Cruzeiro ganhava páginas e páginas. 
Porto Seguro foi uma das cidades escolhidas, e o governo da Bahia teve que providenciar num campo de pouso e alojamentos para os participantes e convidados. A pista foi aberta no Arraial d'Ajuda, onde 22 aviões pousaram no dia 3 de maio de 1939.  As reportagens e crônicas da época, algumas escritas pelo próprio Chateaubriand,  exaltavam as belezas naturais mas também descreviam a pobreza e o abandono  em que viviam os moradores, o mau estado de conservação dos prédios e igrejas e denunciavam o absurdo da situação, justamente onde ocorreu o descobrimento do Brasil. 

Os aviões decolaram e Porto Seguro voltou à sua rotina até 1944, quando a Força Aérea Brasileira usou o campo de aviação como base de operações de defesa do Litoral contra  ataques alemães. Nas décadas seguintes se intensificou a cobiça pelas madeiras nobres, já raras na mata atlântica do nordeste e do sudeste. Os troncos eram cortados a machado e levados aos portos mais próximos para  abastecerem as madeireiras.  
Em 22 de abril de 1973, o aniversário do descobrimento foi comemorado com a inauguração da BR 101, que finalmente permitiu o acesso dos brasileiros a Porto Seguro. Começava uma nova era, e em poucos anos a cidade se tornou um dos mais importantes polos turísticos do país. As árvores de madeiras nobres, como o jacarandá,  passaram a ser avidamente cortadas e por madeireiras agora instaladas  no meio da mata.  Caminhões carregados de toras disputavam com carros e ônibus a pista da BR 101.
Como um novo eldorado, o sul da Bahia foi ocupado sem qualquer respeito ao meio ambiente.  O custo social e ecológico desta ocupação foi e continua sendo muito alto. Mas a beleza das praias e a hospitalidade dos moradores são um apelo irresistível. Conhecer e curtir Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Arraial d'Ajuda, Trancoso e Caraíva  é um privilégio. 










As informações deste post são do livro Porto Seguro, História de uma Esquecida Capitania, de Roberto Martins, cedido pelo meu amigo  Neo Gonçalves de Oliveira, antigo morador e líder comunitário do Arraial d'Ajuda.

domingo, 1 de dezembro de 2019

AEROPORTOS HOSTIS


Os arquitetos que planejaram as ampliações da maioria dos aeroportos brasileiros esqueceram dos problemas de locomoção de pessoas idosas e com deficiências físicas. Para estas, os longos corredores dos terminais de embarque são torturantes. O Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, o maior e mais movimentado do país, é o pior exemplo.  Não tem esteiras horizontais ou qualquer outro facilitador.
 Nas conexões,  os passageiros descem do avião sem saber em qual portão embarcarão, e não têm onde nem para quem  pedir informações. Os corredores se bifurcam, e é muito fácil se perder e ter que recomeçar a caminhada, que pode demorar mais de dez minutos.
A falta de planejamento chega a atingir um serviço básico como os banheiros. Nos femininos geralmente há filas. É constrangedor. 
 Em São Paulo  há opções melhores: o aeroporto de Congonhas, menor e localizado dentro da cidade, e o de Viracopos, em Campinas, que tem um carro de golfe elétrico para transportar os passageiros pelo terminal.
O aeroporto Internacional  Tom Jobim, do Rio de Janeiro, o segundo do país em tamanho e movimento, é exceção. Tem esteiras horizontais e oferece cadeiras de rodas para quem não pode caminhar.  E no Rio ainda tem o Santos Dumont, pequeno, bem organizado e no centro da cidade.



Aeroporto de Guarulhos: no terminal doméstico, um desafio para idosos, crianças  e pessoas com dificuldade para caminhar


sábado, 23 de novembro de 2019

SÁBADO À NOITE NO ARRAIAL D'AJUDA



Todo mundo espera alguma coisa
De um sábado à noite
Bem no fundo todo mundo quer zoar (Cidade Negra)









quinta-feira, 21 de novembro de 2019

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MEIO AMBIENTE E O FUTURO DA HUMANIDADE

ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DE IMBÉ-BRAÇO MORTO


 A ameaça mais grave à humanidade nesse início de século XXI é o ataque sem trégua ao meio ambiente, decorrente dos efeitos contidos nos atuais conceitos de progresso global.
Imbé, uma faixa de areia cercada pelas águas do mar e das lagoas onde só são permitidas construções de dois andares, está vivendo um momento emblemático: seus moradores terão que decidir se aceitam as mudanças no Plano Diretor que permitem a construção de edifícios de até 15 andares, ou exigem, nas audiências públicas que antecedem a aprovação no novo Plano pela Câmara de Vereadores, o respeito ao meio ambiente e a qualidade de vida. 
1.    Origem de Imbé
Projeto do engenheiro e urbanista Luiz Arthur Ubatuba de Farias (1908-1954).
Seguindo as premissas e concepções de Escola inglesa de Morfologia Urbana, em cujas bases conceituais estruturadas sobre a paisagem e resultados visíveis, em 1938, o engenheiro e urbanista projetou um loteamento inédito no Brasil, conhecido como Centro Histórico de Imbé.
 O projeto apresenta uma peculiaridade, obedecem à um traçado curvilíneo, uma visão tripartite, que consiste no estudo do plano urbano, do sistema viário e no padrão de uso e ocupação, destinados a unidades unifamiliares. No seu desenvolvimento foram projetadas ruas de 7,00m, compatíveis com o loteamento destinado a unidades unifamiliares, como também estudo de manter a iluminação, ventilação e a paisagem, como estabelece a Escola Inglesa de Morfologia Urbana.
Pergunta:
Por que transformar este lindo projeto em vários paredões que acabarão com a Iluminação, Ventilação, Paisagem e demais prejuízos?
2.    Quem apresenta este estudo?

A Associação Comunitária do Imbé - ACI, fundada em 1985, portanto a mais antiga do litoral norte do estado e mais antiga que o próprio Município de Imbé, que têm como objetivo organizar e centralizar forças de veranistas e moradores da comunidade para representar, de maneira mais eficaz, interesses comuns e principalmente o da preservação do meio ambiente. Estando sempre presente e tomando iniciativas para impedir, através de ações, que possam evitar a poluição de nossas águas e de nosso ambiente, como também atenta a organização do crescimento urbano de Imbé e suas normas de uso e ocupação do solo.

3.    A quem o progresso serve?
O progresso é um mito ideológico interessado em convencer que a história tem destino certo e glorioso.
Vamos analisar a quem o progresso serve, quais são os riscos e custos de natureza social, ambiental e de sobrevivência da espécie e que catástrofes futuras ele pode gerar.
Dessa forma buscamos apontar elementos para desconstruir o discurso hegemônico sobre a globalização associada à ideia de progresso inexorável!
A capacidade de produzir mais e melhor não cessa de crescer e é assumida pelo discurso hegemônico como sinônimo do progresso trazido pela globalização.
Mas observem, traz também consigo exclusão, concentração de renda, subdesenvolvimento e graves danos ambientais, agredindo e restringindo direitos humanos essenciais.
 Será, por conta desse tipo de desenvolvimento, que seremos mais felizes?
As consequências negativas do progresso, acumulam um passivo crescente de riscos graves que podem levar de roldão o imenso esforço de séculos da aventura humana para estruturar um futuro viável e mais justo para as gerações futuras.
Trata-se aqui de analisar a quem dominantemente esse progresso serve e quais os riscos e custos de natureza social, ambiental e de sobrevivência da espécie que ele está provocando; e que catástrofes futuras ele pode ocasionar. Mas, principalmente, é preciso determinar quem escolhe a direção desse progresso e com que objetivos.
O Estatuto da Cidade veio para salvar as regiões urbanas de seu desenvolvimento injusto, díspar, desordenado e antidemocrático, combatendo a ambiciosa disputa por parte daqueles que desejam adquirir cada vez mais imóveis para fins especulativos e de reserva de valor, sem destiná-los a uma função social, de forma a impossibilitar um justo ordenamento e um adequado crescimento. Todavia, como se dissertou, a aplicabilidade desse instituto no meio urbano dependerá dentre outros fatores, em especial, da ciência desta lei pela população. Eis o grande obstáculo a ser superado!
O adensamento populacional não amplia os espaços, estreita-os; não assume responsabilidades sociais e ambientais; pelo contrário, acumula problemas, transforma-se em sintoma de sobrecarga.
Quem é prejudicado?
Para evitar problemas, empreendimentos e atividades podem ser objeto de avaliação específica no momento do seu licenciamento urbanístico, através do EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança).
Qualquer atividade de porte mais expressivo desenvolvida em uma área urbana gera impactos nas suas imediações. Alguns empreendimentos e atividades, no entanto, interferem na dinâmica urbana de tal maneira que as normas de uso e ocupação do solo não são suficientes para evitar os conflitos decorrentes de sua implantação. Dependendo de sua dimensão e caráter, essas interferências podem impactar a qualidade de vida dos moradores e usuários da vizinhança:
·        Perda de Iluminação
·        Perda de Ventilação
·        Perda da Paisagem
·        Aumento de temperatura
·        Aumento do ruído
·        Aumento tráfego
·        Aumento da poluição dos corpos hídricos lindeiros
·        Perda da privacidade
·        Adensamento populacional
·        Geração de tráfego e demanda por transporte público
·        Perda de áreas de Preservação Permanente
·        Agravamento da travessia pela ponte, já é um caos no verão
·        Sobre carregamento da infraestrutura urbana:

a)    As ruas estreitas não atenderão o fluxo dos veículos. (sem solução).
b)    Aumento da estrutura pública para a Limpeza de vias públicas e coleta de resíduos sólidos urbanos (exigirá novos investimentos).
c)    Aumento no destino final de resíduos sólidos urbanos (novos investimentos)
d)    Sistema de Tratamento de Esgotos (não exigível para unidades unifamiliares).
e)    Sério problema do destino final dos efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto. (lagoa de infiltração).
f)     Aumento da demanda de energia elétrica (novos investimentos).
g)    Aumento da demanda de água tratada (novos investimentos).
h)    O EIV é, portanto, um procedimento prévio e obrigatório para se obter licenças ou autorizações para se construir, ampliar ou funcionar, para aqueles empreendimentos que a legislação determinar como obrigatório.
i)      O EIV deve contemplar todos os aspectos que o empreendimento gera na área onde será implantado e entorno, incluindo no estudo a análise e proposição de solução para: adensamento populacional; uso e a ocupação do solo; valorização imobiliária; áreas de interesse histórico, cultural, paisagístico e ambiental; equipamentos urbanos, incluindo consumo de água e de energia elétrica, bem como geração de resíduos sólidos, líquidos e efluentes de drenagem de águas pluviais; equipamentos comunitários, como os de saúde e educação; sistema de circulação e transportes, incluindo, entre outros, tráfego gerado, acessibilidade, estacionamento, carga e descarga, embarque e desembarque; poluição visual, sonora, atmosférica e hídrica; vibração; periculosidade; geração de resíduos sólidos; riscos ambientais; impacto socioeconômico na população residente ou atuante no entorno, e; impactos sobre a fauna e flora.
A Prefeitura Municipal de Imbé apresentou e divulgou o EIV?

Afinal, quem se beneficia?
Imbé vivia normal, com seu lençol freático não contaminado, pois a fossa e o sumidouro (destino do efluente da fossa) mantinham as condições satisfatórias, aí surge a ganância por parte de empreendedores na busca de lucros!
A Prefeitura Municipal de Imbé é seduzida e pressionada por aqueles que desejam o lucro fácil. O veranista e a população de Imbé terão que ver suas ruas esburacadas e mal recompostas, enfrentar os problemas de circulação durante a implantação do Sistema de Tratamento de Esgotos e pagar pelo esgoto que não desejou.  Pois já possuía o seu tratamento em sua unidade unifamiliar. Tudo isso em benefício único dos empreendedores, satisfeitos com a possibilidade de transformar aquela cidade jardim em um aglomerado de edifícios, formando uma grande barreira à iluminação, ventilação, paisagem e outras perdas já mencionadas!
Afinal qual foi o benefício social e onde está a justiça social?

3. Áreas de Preservação Permanente-APP 
Resolução CONAMA nº 369/2006:
Considerando que as Áreas de Preservação Permanente-APP, localizadas em cada posse ou propriedade, são bens de interesse nacional e espaços territoriais especialmente protegidos, cobertos ou não por vegetação, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas:
    Construindo em área de preservação (Art. 2º Resoluções CONAMA nº 302 e 303/2002)
c) cem metros, para o curso d’água com cinquenta a duzentos metros de largura;
d) duzentos metros, para o curso d’água com duzentos a seiscentos metros de largura; (O curso d’água tem mais de 200m de largura!)

Esta lei aplica-se a partir de sua data de publicação, portanto, tudo que for autorizado para construção, após sua publicação, deverá atender a mesma!
Como foi autorizada a construção do edifício de 15 andares sobre esta Área de Preservação?
Como foi autorizada a construção sem apresentação e divulgação do
Estudo do Impacto vizinhança?
Como foi autorizada a construção sem a existência do Sistema de Tratamento de Esgotos?
Como foi autorizada a construção, sem o Plano Diretor do Município de Imbé, que neste presente momento encontra-se em fase de discussão para posterior aprovação?



sexta-feira, 15 de novembro de 2019

IMBÉ APRISIONADO





Ao planejar Imbé, em 1939, o engenheiro Ubatuba de Farias se preocupou com a direção dos ventos, a insolação das casas e outras características desta faixa de areia limitada pelo mar, de um lado, e pelas lagoas e o rio Tramandaí.
Agora, 80 anos depois, um novo Plano Diretor que permite a construção de edifícios mudará radicalmente esta concepção.
Observem a projeção gráfica deste novo Imbé. Onde até agora os ventos circulavam livremente haverá uma barreira de concreto.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

GUARDIÕES DO IMBÉ



Advogados, juristas, engenheiros, professores, funcionários públicos. Jovens, de meia idade ou aposentados, eles têm em comum a causa da defesa da praia do Imbé, no litoral norte do Rio Grande do Sul, da ação predadora dos administradores públicos e especuladores imobiliários.
Estão organizados desde 1985 na Associação Comunitária do Imbé - Braço Morto. Durante o verão se reúnem informalmente todas as semanas para tomar cafezinho e trocar idéias, e pelo menos uma vez na temporada são convocadas Assembleias Gerais, com a participação de associados e veranistas. No inverno se comunicam pela internet e em encontros em Porto Alegre ou no Imbé.
As vitórias que a associação já obteve são notáveis. Em 1986 conseguiu barrar a construção de molhes da barra do rio Tramandaí, depois de comprovado que a obra causaria a invasão da parte norte da praia pelas águas do mar. Outra luta judicial, seguida de vitória, foi o embargo da retirada das dunas para a construção de um calçadão na beira mar. O prefeito da época teve que mudar o projeto, respeitando as dunas.
A associação também recorreu à Justiça para demolir um estaleiro particular, construído irregularmente, com a complacência da prefeitura, na margem do rio Tramandaí. Agora, a luta é para impedir que a prefeitura e a Câmara de Vereadores prossigam nos seus propósitos de liberar a construção de edifícios,  deformando o projeto urbanístico que concebeu o Imbé como Cidade-Jardim,  de residências unifamiliares. Um desafio formidável. Mas ninguém espere que estes guardiões do interesse público desistam.





Noite de 8 de novembro de 2019:  a população do Imbé, convocada pela associação, lota o auditório da Escola de Música do município para discutir o Plano Diretor com secretários da prefeitura. 
Na primeira fila, o presidente, pastor Ronaldo Lindemann (quarto da esquerda para a direita)




23/2/2020: associados e dirigentes da associação participam de um protesto contra a construção de um edifício de 15 andares em frente ao rio Tramandaí. A associação pediu à 9ª Vara Ambiental da Justiça Federal a demolição do prédio por se encontrar em Área de Preservação e afrontar o Estatuto das Cidades. A decisão ainda não foi tomada. 

 

sábado, 2 de novembro de 2019

LORD, FOREVER






2012 - 2019

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

PÉ NA BUNDA À HUNGARA


A vida de jornalista é sempre sujeita a sobressaltos. As demissões, justificáveis ou não, fazem parte da vida profissional de todos, e acabam sendo aceitas como algo inevitável. Eu próprio fui vítima de duas rasteiras inesquecíveis, e vivi e ouvi falar de outras tantas.
Mas os húngaros superaram tudo que eu já havia visto. Numa excelente reportagem de Rafael Cariello publicada na revista Piauí de abril de 2017 sobre as tropelias do governo direitista liderado pelo primeiro ministro Viktor Orbán, aquele que fechou com arame farpado as fronteiras do país para impedir a entrada de refugiados, Cariello narra, com riqueza de detalhes, o fim do jornal Népzabadság (A Liberdade do Povo).
Do fim do domínio comunista até 2006,  quando a Hungria foi governada pelos socialistas, o Népzabadság, de Budapeste,  era o mais importante jornal do país. Mas quando o governo foi derrotado pelo partido Fidesz, numa eleição marcada por denúncias de corrupção e irresponsabilidade fiscal dos socialistas, os novos dirigentes iniciaram uma campanha implacável contra todos os jornais e canais de tevê que ousavam criticá-los. 
Orbán, aluno aplicado do russo Vladimir Pútin e do turco Recep Erdogan, começou cortando toda a verba publicitária oficial e das estatais. Empresários amigos dos novos dirigentes passaram a receber privilégios, como contratos para obras em licitações duvidosas, e também eles direcionaram a publicidade para veículos simpáticos ao novo regime.
Abalado pela natural queda de circulação resultante da concorrência da mídia digital e pela perda de receita, o Népzabadság encolheu e passou a demitir jornalistas. Em 2014 a empresa que o publicava foi vendida para um especulador austríaco.  Dois anos depois começaram as especulações de que o novo dono negociava a sua venda. A angústia dos jornalistas e gráficos foi aliviada pela notícia de que uma nova redação estava sendo construída do outro lado do rio Danúbio, em Buda, e uma nova fase estava começando.
No dia 7 de outubro de 2016, uma sexta-feira,  depois do fechamento, os jornalistas foram instruídos a colocarem suas coisas em caixas numeradas, pois no dia seguinte uma empresa de mudanças levaria tudo para a nova redação, onde seria produzida, no domingo, a edição de segunda-feira.
No sábado mensagens começaram a circular entre os jornalistas com a informação de que era tudo mentira: o jornal não voltaria mais a ser publicado.
Alguns funcionários desinformados chegaram a ir até o novo prédio para trabalhar, mas foram barrados por seguranças.
O outrora crítico jornal húngaro havia sido vendido e, quando voltou a circular, mudou de lado - passou a apoiar o governo.  
Aos jornalistas restou o desemprego ou mudar de profissão.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

BASTA DE CAVALOS PUXANDO CHARRETES



Charrete elétrica, em Petrópolis, RJ (foto O Dia) 

Numa das primeiras vezes que estive nas Termas do Gravatal, SC, há mais de dez anos, caí na tentação de conhecer o lugar numa daquelas simpáticas charretes puxadas por cavalos.
Éramos apenas eu e minha mulher de passageiros, mas na primeira subida notei que o cavalo, magro, tinha dificuldades para aguentar o tranco. Perguntei se ele estava alimentado. "Quando largar vocês eu vou dar comida a ele", respondeu o cocheiro. Mandei parar ali mesmo, paguei a corrida e pedi que o alimentasse e deixasse descansar.
Desde então sempre que vejo este tipo de veículo lembro o episódio, e me dá uma pena danada ver os pobres bichos ali, parados o dia inteiro, esperando passageiros para mais uma corrida.
Em outras cidades turísticas os Promotores Públicos estão questionando a tração animal para transporte público - as charretes levam até seis passageiros, e não há qualquer controle das prefeituras sobre maus tratos e condições de "trabalho" dos cavalos.
Em Petrópolis, RJ, a Câmara de Vereadores aprovou um decreto proibindo tração animal nas charretes. Modelos com motores elétricos estão em testes. Em Campos do Jordão SP), tuc-tuc (motos adaptadas) estão substituindo os cavalos, mas ainda restam algumas. Em Aparecida (SP), onde fiéis usam charretes para ir do santuário até a porto de Itaguaçu, no rio Paraíba do Sul, onde os pescadores teriam encontrado a imagem de Nossa Senhora, a polêmica está criada, e uma outra solução está sendo buscada pelas autoridades locais e a a administração do santuário.
Basta de maltratar cavalos.





Charretes puxadas a cavalo em Gravatal /SC



sexta-feira, 25 de outubro de 2019

TODOS SOMOS JAQUE



Um senhor grisalho, magrinho, notou minha impaciência com a velhota que, com gestos lentos, catava moedas na carteira para pagar as compras na caixa do supermercado.
- Já sei o teu nome: é Jaque!
Olhei para ele surpreso, e sem me dar tempo da abrir a boca, completou:
- Jaque. Já que estás aposentado, faz isso, faz aquilo. Todos nós, depois que paramos de trabalhar fora, ganhamos este nome. E como tem coisas para fazer, na nossa casa, na casa da vizinha viúva, das cunhadas, das tias entrevadas, da sogra. Eu era contador, agora virei eletricista, encanador, pintor, motorista, cozinheiro.
Concordei com ele, num sorriso solidário. Me lembrei de um amigo que um dia desabafou: se pelo menos pedissem uma coisa de cada vez...