segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A BORÚSSIA DE OSÓRIO







De Osório até a Borússia é um pulinho - dois quilômetros de subida até o topo, mais outros dois para chegar até o topo do morro, onde estão as antenas de tevê e telefonia e a rampa para saltos de asa delta.
Muito poucos dos milhares de gaúchos que passam pela BR 101 rumo às praias do litoral norte se interessam por ver o que existe lá em cima da serra. O projeto da construção de um teleférico ainda é um sonho, mas a prefeitura está concluindo um mirante para atrair os visitantes. 
 Nos fins de semana, a estrada asfaltada vira pista para os ciclistas da cidade de Osório, que sobem o morro da Borússia para ver o belíssimo panorama, com o parque eólico e as praias lá ao longe.  



A capela do distrito de Borússia (foto) chama a atenção de quem vai pela estrada em direção a Caraá, onde estão as nascentes do rio dos Sinos.





sábado, 16 de fevereiro de 2013

THEOBALDO WEILER


PROFESSOR, COM MUITO ORGULHO  



Professor Theobaldo Weiler. Era assim que meu avô materno se apresentava. Tinha um orgulho enorme de sua profissão, e vibrava quando lia no jornal ou ouvia no rádio alguma notícia de um ex-aluno que se destacara na política ou na economia.
Nascido em Santa Clara, então distrito de Estrela, em 7 de junho de 1888, filho de José Weiler e Susanna Bender Weiler, Theobaldo estudou no Colégio Marista de Bom Princípio até 1912. Em janeiro de 1913 começou a lecionar numa escola de Lageado, e em julho daquele ano casou-se com Lúcia Dresch, com quem teve quatro filhos - Valéria, Hildegard, Virgílio e Ivo.  
Depois de dar aulas em escolas de Santa Clara, Feliz e Montenegro, se mudou para Boa Vista do Cadeado, hoje Augusto Pestana, perto de Ijuí. As escolas eram mantidas pelas comunidades de descendentes de  imigrantes alemães, que assim garantiam para seus filhos a educação básica, já que naquela época o governo brasileiro não tinha uma política de ensino público. Em 1940, com a declaração de guerra à Alemanha nazista, Getúlio Vargas decretou a proibição do uso das línguas alemã e italiana no país. Theobaldo ficou sem trabalho, pois não era fluente em português, e para sobreviver se associou ao genro Vilibaldo Heberle, meu pai, numa empresa de comércio - comprava produtos dos colonos e vendia a eles "secos e molhados" -  tecidos, bebidas, alimentos, instrumentos de trabalho etc.
Mas o professor não tinha foco nos negócios. Preferia trocar idéias com os fregueses, e na maioria das vezes as suas idéias era radicalmente contrárias às deles: apesar de terem nascido no Brasil, os colonos consideravam que a sua verdadeira pátria era a Alemanha, e Hitler o seu líder. Visceralmente contrário ao ditador, a quem chamava de este maldito cabo, Theobaldo, com suas opiniões ditas em voz tonitroante, afastava a freguesia...


  

Comemoração dos 50 anos de casamento de Theobaldo e Lúcia, com filhos, noras, genros e netos


Os avós Lúcia e Theobaldo com seis netos, filhos de Vilibaldo e Valéria Heberle: da esquerda para a direita, Inês (no colo da vó), Griseldis e Asta. Os guris: Milton, eu (o loirinho do meio)e Moacir.



Aposentado, o vovô passou a se dedicar ao que mais gostava depois de dar aulas: ler e escrever. Mandava regularmente artigos sobre a história do Rio Grande do Sul e os costumes da colônia alemã para o Anuário Inaciano (foto à direita), editado em alemão pelos padres Jesuítas do Colégio Anchieta, e para o Jornal do Dia, diário católico publicado em Porto Alegre que tinha um suplemento semanal em língua alemã. Seu último artigo foi publicado em 1972. Um ano depois falecia em Estrela, onde morava, aos 85 anos. Católico fervoroso, Theobaldo também participava ativamente das atividades de suas paróquias, especialmente dos corais. Na década de 60, quando vivia em Porto Alegre, costumava puxar o coro dos fiéis na missa dos domingos às nove horas na igreja São Sebastião, em Petrópolis.

O dia de Theobaldo e Lúcia começava sempre às sete horas. Ouviam o noticiário de meia hora da rádio Guaíba, enquanto tomavam café. Depois ele lia o jornal Correio do Povo, comentando as notícias que mais o interessavam - da previsão do tempo à guerra fria que ameaçava o mundo da época - enquanto Lúcia lavava a louça e limpava a casa.
Depois do almoço, o casal sempre rezava o terço, que invariavelmente terminava com uma prece: "Nossa Senhora Aparecida, livrai o Brasil do comunismo ateu!"
As tardes eram dedicadas à leitura e a redação dos artigos. Ah, e adorava conversar sobre política e história. Quando o assunto era a Segunda Guerra Mundial, ele sempre se exaltava ao lembrar os males causados pelos ditadores da Alemanha e da Itália. Citava um general alemão, executado  por traição: "Estes são os nossos chefes, um porco (Mussolini) e um burro" (Hitler).



Neste artigo, de 1972, Theobaldo escreve sobre as estradas no Brasil. Começa com as estradas que os imigrantes alemães encontraram no Rio Grande do Sul, ao chegarem a São Leopoldo em 1824,  e termina com o que havia mais moderno: a via Anchieta (São Paulo-Santos) e a Transamazônica. Ele publicou também uma pesquisa sobre as primeiras usinas hidrelétricas do Rio Grande do Sul, ainda no século 19. Elas tinham pequena capacidade de geração, mas se multiplicaram por dezenas de municípios e deram condições para a criação das primeiras indústrias de um Estado que até então tinha sua economia baseada apenas na pecuária e na agricultura.





"Aus des guten, alten zeit" (Dos bons, velhos tempos): numa série de artigos, Theobaldo descreve episódios da revolução federalista que só acabou com o acordo de Pedras Altas, em 1923. As batalhas entre maragatos e picapaus, que ensanguentaram o Rio Grande do Sul e sacudiram as colônias alemãs, foram vividos intensamente pelo então jovem professor nas colônias alemãs.



As fotos e reproduções são do arquivo de meu irmão Aldayr Heberle.