domingo, 30 de março de 2008

ILHA GRANDE



Chamar a Ilha Grande de paradisíaca não é exagero. Lá a natureza é exuberante, o clima excelente o ano inteiro, não há carros, caixas eletrônicos ou turismo de massa - só se chega até ela de barco. As flores e os pássaros estão em todo lugar e a água do mar, de cor verde esmeralda, é um convite ao mergulho. A ilha se tornou conhecida pela Penitenciária Cândido Mendes, onde foram confinados, entre tantos outros presos políticos, o escritor Graciliano Ramos, durante a ditadura Vargas (o livro Memórias do Cárcere foi escrito lá), e Fernando Gabeira, na década de 70. As ruínas do prédio, demolido em 1994, são agora atração turística, mas a maioria dos visitantes prefere mesmo curtir as praias, as matas, as montanhas. E, principalmente, a preguiça, numa das pousadas simples ou luxuosas, mas sempre aconchegantes e confortáveis.



ILHA GRANDE

Do Rio a Angra dos Reis são 150 quilômetros. Os ônibus saem de hora em hora. Além de Angra, há barcas que saem de Mangaratiba.

A chegada da barca sempre é uma festa.

A barca Charitas sai diariamente de Angra dos Reis às 15h 30min e duas horas depois atraca na vila de Abraão, a "capital" da Ilha Grande, com 3 mil habitantes. A barca é o principal meio de transporte de passageiros e cargas entre a ilha e o continente.

ILHA GRANDE


PLACAS NAS RUAS PARA CONSCIENTIZAR OS TURISTAS DA IMPORTÂNCIA DE PRESERVAR A NATUEZA










Deixe a trilha sonora ficar por conta da natureza.

Caçar e prender animais é crime em toda a Ilha.


A natureza não precisa de seu lixo. Leve-o de volta.














No meio da mata, uma jaqueira. Dormir debaixo de uma árvore destas é um perigo - uma jaca pode pesar até 10 quilos.

ILHA GRANDE


Esta é uma das 86 belas praias, quase todas acessíveis apenas por barco ou caminhadas pelas matas. A ilha é uma área de preservação ambiental. Nos seus 193 quilômetros quadrados há dois parques estaduais e uma reserva biológica.

ILHA GRANDE




Chamar a Ilha Grande de paradisíaca não é exagero. Lá a natureza é exuberante, o clima excelente o ano inteiro, não há carros, caixas eletrônicos ou turismo de massa - só se chega até ela de barco. As flores e os pássaros estão em todo lugar e a água do mar, de cor verde esmeralda, é um convite ao mergulho. A ilha se tornou conhecida pela Penitenciária Cândido Mendes, onde foram confinados, entre tantos outros presos políticos, o escritor Graciliano Ramos, durante a ditadura Vargas (o livro Memórias do Cárcere foi escrito lá), e Fernando Gabeira, na década de 70. As ruínas do prédio, demolido em 1994, são agora atração turística, mas a maioria dos visitantes prefere mesmo curtir as praias, as matas, as montanhas. E, principalmente, a preguiça, numa das pousadas simples ou luxuosas, mas sempre aconchegantes e confortáveis.

Abraão, a maior vila da ilha, onde estão quase todas as pousadas. Daqui saem barcos todas as manhãs para as outras praias e podem ser contratados guias para caminhadas ou escaladas às montanhas.

Do Rio a Angra dos Reis são 150 quilômetros. Os ônibus saem de hora em hora. Além de Angra, há barcas que saem de Mangaratiba.


A chegada da barca sempre é uma festa.




PLACAS NAS RUAS PARA CONSCIENTIZAR OS TURISTAS DA IMPORTÂNCIA DE PRESERVAR A NATUREZA









Deixe a trilha sonora ficar por conta da natureza. 
Caçar e prender animais é crime em toda a Ilha. 
A natureza não precisa de seu lixo. Leve-o de volta.







No meio da mata, uma jaqueira. Dormir debaixo de uma árvore destas é um perigo - uma jaca pode pesar até 10 quilos.


Esta é uma das 86 belas praias, quase todas acessíveis apenas por barco ou caminhadas pelas matas. A ilha é uma área de preservação ambiental. Nos seus 193 quilômetros quadrados há dois parques estaduais e uma reserva biológica.

sábado, 22 de março de 2008

EL TEMPLO DE LA PERDICIÓN

Trabalhávamos muito na sucursal de verão de Zero Hora, instalada no hotel Beira Mar, em Tramandaí, nos anos 80. Certamente tanto como agora. Pelo menos doze horas por dia, isto quando não éramos acordados de madrugada para cobrir algum rolo policial. Mas também nos divertíamos bastante. Depois de enviar a última matéria, íamos jantar juntos e depois dar uma circulada pela cidade.
Naquela época os argentinos vinham a Tramandaí em ônibus de turismo e se hospedavam no nosso hotel, geralmente por uma semana. À noite ficávamos batendo papo, e naturalmente nos tornávamos amigos deles. Cada despedida era uma festa, e às vezes lágrimas rolavam nos rostos de hermanas enfeitiçadas por algum repórter da sucursal.
O contrário também acontecia. Um dos nossos ficou enlouquecido por uma argentina, muito bonita na flor dos seus trinta e poucos anos. Ela parecia corresponder, mas havia um problema: o marido estava junto, e não desgrudava dela. Solidários, tentamos vários estratagemas para separá-los, pelo menos algumas horas, para que os dois pudessem, digamos, se entender. Tudo em vão. Decidimos jogar pesado: embebedar o maridão, para que ele, entregue a morfeu, deixasse a esposa e nosso apaixonado colega à vontade.
Bate-bate era um boteco de madeira escondido entre as dunas, cerca de um quilômetro depois da plataforma de pesca. Lá só se serviam batidas, todas de altíssimo teor alcoólico. O bar estava na moda - a moçada enfrentava a areia da beira da praia para passar algumas horas lá, bebendo e ouvindo música. Casais se perdiam nas dunas, motoristas tinham dificuldade em achar a trilha depois de provar os coquetéis de cachaça.
Alguns dias antes, no carnaval, a turma do Bate-Bate havia desfilado na avenida Emancipação, um garçom vestido de padre à frente. Conferimos se a batina ainda estava lá, e combinamos que no dia seguinte voltaríamos com um grupo de turistas argentinos, com a condição de que fossem recebidos pelo falso padre. O Bate-Bate mudou de nome: passou a ser El Templo de La Perdición.Convidados, os argentinos adoraram a idéia. Estavam loucos para conhecer o templo. Lotamos três carros (o meu e dois do jornal - a Núbia Silveira que me perdoe) e nos mandamos. O padre esperava na frente do barracão, e junto com a bênção entregava a cada um de nós um copo daquelas batidas. Discretamente, todos olhávamos o copo do maridão, mas ele era o que menos bebia. Lá pelas tantas, decidimos voltar. Jantamos no Carlão, um restaurante à beira do rio, no Imbé, e depois viemos até a minha casa. Bebemos, cantamos, conversamos, e o maridão, sóbrio. O dia amanhecia quando o grupo, exausto e conformado com mais uma derrota, retornou ao hotel. A esposa continuou intocada até seu retorno à Argentina. Sim, ela chorou na despedida.



Na foto de Sílvio Ávila, tirada na minha casa em Imbé, alguns personagens desta história. Sentados, da esquerda para a direita, os jornalistas Flávio Dutra, Roger Bitencourt e Luís Artur Ferrareto. De pé, o motorista Ari, eu e o fotógrafo Antônio Pacheco. Os demais são nuestros amigos argentinos, entre eles la señora y su marido.



INTERPRETANDO DESEJOS

Oito da manhã da quarta-feira de cinzas de 1987. Ao chegar para trabalhar no hotel Beira Mar de Tramandaí, onde estava instalada a redação de Zero Hora para a cobertura do veraneio no Litoral Norte (eu dormia na minha casa, em Imbé), vi um grupo de rapazes com roupas orientais - aqueles trajes soltos que iam até os pés, turbantes na cabeça.
Achei que eram foliões saindo de algum baile à fantasia, e subi até o primeiro andar para organizar a pauta do dia.
Alguns minutos depois, o recepcionista ligou para pedir ajuda: não entendia o que uns caras com roupas estranhas falavam. Desci e lá estavam os supostos foliões. Em inglês britânico, explicaram que eram indianos, marinheiros de um petroleiro que chegara no dia anterior. Estavam de folga, e tinham o dia para ficar em terra firme. Queriam comprar lembranças para as esposas, e perguntaram se eu podia acompanhá-los por meia hora.
Topei, e saímos pela cidade. Eles queriam comprar tecidos e trocar dólares. Banquei o intérprete e voltei para a redação. Mais tarde o recepcionista ligou novamente. Os indianos queriam falar comigo. Meio constrangidos, explicaram que estavam há três meses no mar, e gostariam de ... tirar o atraso.
Passei o problema ao funcionário, e ele ligou para a dona de um "drink bar", conhecida dele. Explicou a situação - marinheiros estrangeiros, com grana, que não falavam português, querendo apenas os prazeres do sexo.
Acertou os detalhes com ela ( quantos eram, quanto custava), chamou um taxi e deu as instruções para que fossem e voltassem seu contratempos.
Já passava das duas da tarde quando eles vieram me agradecer, risonhos como crianças que ganharam um brinquedo.
E voltar para o navio, e para suas esposas.

quinta-feira, 13 de março de 2008

COMO VOY A DORMIIIIIIR!

Cada diretor de redação tem o seu critério ao escalar o jornalista para participar de uma viagem a convite, aquela em que o convidado tem todas as despesas pagas, e, em geral, produz uma reportagem sobre o assunto que a motivou. Mas todas elas tem uma coisa em comum: sobra pouco ou nenhum tempo para conhecer os lugares por onde se passa.
É preciso seguir o roteiro montado pelas empresas, sempre interessadas em tirar o máximo proveito do investimento. São fusos horários adversos, poucas horas de sono/ muitas de vôo, cidades vistas das janelas dos ônibus durante os transbordos dos hotéis até os aeroportos. Na volta, editores ansiosos pelas reportagens, trabalho atrasado e a inveja maldisfarçada dos colegas: “aí, hein, a gente aqui dando duro e você fazendo turismo..”.
Minha viagem aos Emirados Árabes durou sete dias. Três deles foram passados a bordo de aviões – menos mal que em classe executiva. Por causa da diferença de sete horas no fuso horário entre os Emirados e o Brasil, o sono só vinha lá pelas seis horas, quando para o meu corpo o relógio marcava onze. Duas horinhas de sono e o despertador tocava para mais um dia de atividade intensa. Na volta desembarcamos às 6 horas para uma escala em Frankfurt, e o vôo de volta para o Brasil estava marcado para as 19h. Em vez ficar dormindo no hotel, fiquei com a maioria que preferiu andar pela cidade até a hora do embarque.
Em Barcelona, boa parte das fotos foram batidas da janela do ônibus que nos levava para os compromissos da programação. Alguns colegas simplesmente sumiam para poderem passear. Eu preferia levantar duas horas antes dos outros e ir dormir de madrugada, depois que os bares fechavam.
Na ida à Suécia, uma exceção: preparado por assessores de imprensa, o roteiro deixou um dia inteiro livre, em Copenhagen. Em compensação, na volta, em vez de um dia de descanso na escala de Madri, viajamos quatro horas de ônibus até uma pequena cidade do interior para visitar uma fábrica de leite que usa as embalagens produzidas pelos nossos anfitriões.
Nenhuma dessas maratonas, no entanto, foi mais estafante que a da visita ao Canadá. Cruzamos o país de ponta a ponta, com quatro horas de diferença entre o leste e o oeste, ficando um dia em cada cidade (Montreal-Calgary-Vancouver-Toronto). As viagens de ônibus até estações de esqui, objetivo da viagem, consumiam de duas a três horas. Um exemplo: acordamos às quatro horas em Mont Tremblant e engolimos o café da manhã às pressas para chegar a tempo do embarque, em Montreal. Depois de três horas de vôo, chegamos a Calgary, do outro lado do país... na hora do café. Em compensação, na volta de Vancouver para Toronto perdemos o almoço e o jantar. Ruben, um jornalista uruguaio, deu o tom da viagem. A cada desembarque, exclamava: “como voy a dormir! Como voy a dormiiiiiir!”


Ruben, à esquerda, exausto, dormindo apesar do sol no rosto durante a viagem de ônibus entre Toronto e Niágara, no Canadá.


segunda-feira, 10 de março de 2008

CANADÁ ABAIXO DE ZERO

















No verão de 1998 troquei o calor de Porto Alegre pelo frio de no máximo zero grau. Em 10 dias no Canadá senti a sensação de estar num freezer. As calçadas cobertas por uma camada de gelo escorregadio, o cenário dominado pelo branco da neve, a vida nas cidades transferida por meses a fio para o interior dos prédios ou os subterrâneos e os shoppings. Nas estações de esqui, sol, cores, alegria.


A convite do governo canadense, conheci, junto com jornalistas e operadores de turismo brasileiros, as maiores estações de esqui do país e as cidades de Montreal, Toronto (no Leste), Calgary e Vancouver (no Oeste). De mar a mar, como diz o lema do Canadá.


Foi pouco tempo para percorrer o maior país do continente e o segundo do mundo em extensão territorial. Mas as fotos dão uma boa mostra desta experiência.






MONTREAL



















NIAGARA ABAIXO DE ZERO





ESQUIAR NO CANADÁ




O astral de um estação de esqui no inverno é parecido com o de uma praia badalada no verão. Os frequentadores vão até elas para descansar, respirar ar puro, tomar sol, encontrar amigos e... esquiar, claro. As roupas e os prédios têm cores exageradamente fortes, há bares, restaurantes e cafés por todo lado, boates animam as madrugadas. Apesar dos termômetros raramente atingirem temperaturas positivas, ninguém sente frio. Os casacos, o esforço físico dispendido nos esportes e a animação compensam, com sobra, os graus Celsius (ou Fahrenheit) que faltam no ambiente.
A neve é macia como a areia. Dá para cair, rolar, deitar sobre ela. Quem não gosta ou não sabe esquiar, pode pegar uma cadeirinha num teleférico para simplesmente olhar a paisagem lá de cima, beber alguma coisa no café e depois descer. Há passeios a pé (com sapatos especiais), de snowmobile, de trenó. Uma pausa no interminável inverno canadense.





Aprender a esquiar é como dar os primeiros passos sem o apoio das mãos e braços. Depois de passar meses engatinhando, temos que trocar a segurança de estar junto ao chão pelo difícil equilíbrio apenas nos pés e pernas, e ainda por cima colocar um pé lá na frente, levantar o de trás e se deslocar alguns centímetros sem cair. Uma barra. 
Nos esquis, o desafio é semelhante. Com os pés presos às pranchas de madeira, temos que avançar sobre a neve escorregadia deslizando, sem levantá-los do chão. Se inclinamos o corpo para trás, caímos de costas, se inclinamos para a frente, caímos de barriga. Começa um longo aprendizado na busca do ponto de equilíbrio - como aconteceu quando começamos a andar. 
Numa pista com pequena inclinação, o instrutor dá as dicas de como avançar, diminuir a velocidade, virar a esquerda, à direita. É so inclinar o corpo, juntar mais os bicos dos esquis para frear, deixá-los em paralelo para ganhar velocidade. Algumas quedas (e às vezes torções nos tornozelos) depois, a vibração: é possível - e delicioso - deslizar sobre a neve. 


MONT TREMBLANT


            Que tal um banho nesta piscina térmica ao ar livre com água a 28 graus, cercada de neve por todos os lados? 













           Mesmo para quem não saber esquiar, vale a pena subir a montanha de teleférico e curtir a paisagem bebendo um chocolate quente na cafeteria 


WHISTLER


Os indígenas que habitavam as montanhas chamavam de "whistler" a montanha que domina a região por causa do assobio do vento ao soprar nas suas encostas. A estação de esqui ficou com este nome.

BANFF

Esta estação de esqui está localizada dentro do Parque Nacional de Banff. Lá o número de moradores é controlado e não se permite o voo de helicópteros para não perturbar os animais selvagens





No topo da Look Out Mountain, acima das nuvens. 
Ao fundo, os picos das montanhas rochosas canadenses


Sunny Valley, estação de esqui localizada perto de Banff, na província de Alberta.
 Devido à altitude, aqui nunca falta neve de boa qualidade para esquiar.



                ONDE ESQUIAR

* Mont Tremblant. Freqüentada por quem mora em Montreal e outras cidades do estado de Quebec, no Leste do país.

* Banff e Sunny Valley, no parque nacional de Banff. Por estarem dentro de uma área de preservação (há rebanhos de alces, cabritos monteses e outras espécies de animais em estado selvagem) não são permitidos helicópteros, snowmobiles ou outros veículos barulhentos e poluidores. Empreendimentos imobiliários e construções são limitados. A grande cidade mais próxima é Calgary, localizada no lado ocidental das Montanhas Rochosas canadenses.


* Whistler fica do outro lado das rochosas. É a maior e a mais badalada estação de esqui do país. Chega-se lá a partir de Vancouver, na costa do Pacífico. 

Os locais estão assinalados no mapa com alfinetes amarelos


PARQUE NACIONAL DE BANFF


Maggie, uma motorista competente e bem-humorada, nos conduz pela autoestrada que atravessa o Parque Nacional de Banff . Localizado nas Montanhas Rochosas canadenses, província de Alberta, a oeste da cidade de Calgary, o parque tem 6.641 km² . O Parque de Banff foi o primeiro parque nacional do Canadá e hoje é um dos principais centros turísticos do país, atraindo mais de 4,5 milhões de visitantes por ano. O nome Banff vem de uma estação ferroviária da Canadian Pacific Railway, originário do município escocês Banffshire.

Apesar dos túneis sob as autopistas e das cercas, o atropelamento de animais selvagens é o mais sério problema dos administradores do parque.

No parque vivem em liberdade animais como ursos pardos e negros, alces, veados, cougars, lobos, carneiros selvagens, caribus, renas, coiotes, linces e marmotas.
Clique na foto para ampliá-la




ARTE EM GELO


As baixas temperaturas conservam as esculturas de gelo por semanas, meses.

A Canadian Pacific Railways, viação férrea canadense, construiu, no início do século 20, uma linha de trens que atravessa o país de costa a costa, paralelamente à fronteira com os Estados Unidos, e alguns ramais para cidades do norte. Como o Canadá era parcamente povoado, a empresa construiu hotéis de luxo junto aos trilhos para atrair turistas e aumentar o número de passageiros em seus trens. Um deles é este, semelhante a um castelo, perto de Banff.

"A million dollars view" - uma vista de um milhão de dólares. Este é o nome desta sala, de onde se tem uma visão privilegiada das montanhas.

Cada diretor de redação tem o seu critério ao escalar o jornalista para participar de uma viagem a convite, aquela em que o convidado tem todas as despesas pagas, e, em geral, produz uma reportagem sobre o assunto que a motivou. Mas todas elas tem uma coisa em comum: sobra pouco ou nenhum tempo para conhecer os lugares por onde se passa.
É preciso seguir o roteiro montado pelas empresas, sempre interessadas em tirar o máximo proveito do investimento. São fusos horários adversos, poucas horas de sono/ muitas de voo, cidades vistas das janelas dos ônibus durante os transbordos dos hotéis até os aeroportos. Na volta, editores ansiosos pelas reportagens, trabalho atrasado e a inveja mal-disfarçada dos colegas: “aí, hein, a gente aqui dando duro e você fazendo turismo..”.
Minha viagem aos Emirados Árabes durou sete dias. Três deles foram passados a bordo de aviões – menos mal que em classe executiva. Por causa da diferença de sete horas no fuso horário entre os Emirados e o Brasil, o sono só vinha lá pelas seis horas, quando para o meu corpo o relógio marcava onze. Duas horinhas de sono e o despertador tocava para mais um dia de atividade intensa. Na volta desembarcamos às 6 horas para uma escala em Frankfurt, e o vôo de volta para o Brasil estava marcado para as 19h. Em vez ficar dormindo no hotel, fiquei com a maioria que preferiu andar pela cidade até a hora do embarque.
Em Barcelona, boa parte das fotos foram batidas da janela do ônibus que nos levava para os compromissos da programação. Alguns colegas simplesmente sumiam para poderem passear. Eu preferia levantar duas horas antes dos outros e ir dormir de madrugada, depois que os bares fechavam.
Na ida à Suécia, uma exceção: preparado por assessores de imprensa, o roteiro deixou um dia inteiro livre, em Copenhagen. Em compensação, na volta, em vez de um dia de descanso na escala de Madri, viajamos quatro horas de ônibus até uma pequena cidade do interior para visitar uma fábrica de leite que usa as embalagens produzidas pelos nossos anfitriões.
Nenhuma dessas maratonas, no entanto, foi mais estafante que a da visita ao Canadá. Cruzamos o país de ponta a ponta, com quatro horas de diferença entre o leste e o oeste, ficando um dia em cada cidade (Montreal-Calgary-Vancouver-Toronto). As viagens de ônibus até estações de esqui, objetivo da viagem, consumiam de duas a três horas. Um exemplo: acordamos às quatro horas em Mont Tremblant e engolimos o café da manhã às pressas para chegar a tempo do embarque, em Montreal. Depois de três horas de vôo, chegamos a Calgary, do outro lado do país... na hora do café. Em compensação, na volta de Vancouver para Toronto perdemos o almoço e o jantar. Ruben, um jornalista uruguaio, deu o tom da viagem. A cada desembarque, exclamava: “como voy a dormir! Como voy a dormiiiiiir!”


Ruben, à esquerda, exausto, dormindo apesar do sol no rosto durante a viagem de ônibus entre Toronto e Niágara, no Canadá.