segunda-feira, 10 de março de 2008

CANADÁ ABAIXO DE ZERO

















No verão de 1998 troquei o calor de Porto Alegre pelo frio de no máximo zero grau. Em 10 dias no Canadá senti a sensação de estar num freezer. As calçadas cobertas por uma camada de gelo escorregadio, o cenário dominado pelo branco da neve, a vida nas cidades transferida por meses a fio para o interior dos prédios ou os subterrâneos e os shoppings. Nas estações de esqui, sol, cores, alegria.


A convite do governo canadense, conheci, junto com jornalistas e operadores de turismo brasileiros, as maiores estações de esqui do país e as cidades de Montreal, Toronto (no Leste), Calgary e Vancouver (no Oeste). De mar a mar, como diz o lema do Canadá.


Foi pouco tempo para percorrer o maior país do continente e o segundo do mundo em extensão territorial. Mas as fotos dão uma boa mostra desta experiência.






MONTREAL



















NIAGARA ABAIXO DE ZERO





ESQUIAR NO CANADÁ




O astral de um estação de esqui no inverno é parecido com o de uma praia badalada no verão. Os frequentadores vão até elas para descansar, respirar ar puro, tomar sol, encontrar amigos e... esquiar, claro. As roupas e os prédios têm cores exageradamente fortes, há bares, restaurantes e cafés por todo lado, boates animam as madrugadas. Apesar dos termômetros raramente atingirem temperaturas positivas, ninguém sente frio. Os casacos, o esforço físico dispendido nos esportes e a animação compensam, com sobra, os graus Celsius (ou Fahrenheit) que faltam no ambiente.
A neve é macia como a areia. Dá para cair, rolar, deitar sobre ela. Quem não gosta ou não sabe esquiar, pode pegar uma cadeirinha num teleférico para simplesmente olhar a paisagem lá de cima, beber alguma coisa no café e depois descer. Há passeios a pé (com sapatos especiais), de snowmobile, de trenó. Uma pausa no interminável inverno canadense.





Aprender a esquiar é como dar os primeiros passos sem o apoio das mãos e braços. Depois de passar meses engatinhando, temos que trocar a segurança de estar junto ao chão pelo difícil equilíbrio apenas nos pés e pernas, e ainda por cima colocar um pé lá na frente, levantar o de trás e se deslocar alguns centímetros sem cair. Uma barra. 
Nos esquis, o desafio é semelhante. Com os pés presos às pranchas de madeira, temos que avançar sobre a neve escorregadia deslizando, sem levantá-los do chão. Se inclinamos o corpo para trás, caímos de costas, se inclinamos para a frente, caímos de barriga. Começa um longo aprendizado na busca do ponto de equilíbrio - como aconteceu quando começamos a andar. 
Numa pista com pequena inclinação, o instrutor dá as dicas de como avançar, diminuir a velocidade, virar a esquerda, à direita. É so inclinar o corpo, juntar mais os bicos dos esquis para frear, deixá-los em paralelo para ganhar velocidade. Algumas quedas (e às vezes torções nos tornozelos) depois, a vibração: é possível - e delicioso - deslizar sobre a neve. 


MONT TREMBLANT


            Que tal um banho nesta piscina térmica ao ar livre com água a 28 graus, cercada de neve por todos os lados? 













           Mesmo para quem não saber esquiar, vale a pena subir a montanha de teleférico e curtir a paisagem bebendo um chocolate quente na cafeteria 


WHISTLER


Os indígenas que habitavam as montanhas chamavam de "whistler" a montanha que domina a região por causa do assobio do vento ao soprar nas suas encostas. A estação de esqui ficou com este nome.

BANFF

Esta estação de esqui está localizada dentro do Parque Nacional de Banff. Lá o número de moradores é controlado e não se permite o voo de helicópteros para não perturbar os animais selvagens





No topo da Look Out Mountain, acima das nuvens. 
Ao fundo, os picos das montanhas rochosas canadenses


Sunny Valley, estação de esqui localizada perto de Banff, na província de Alberta.
 Devido à altitude, aqui nunca falta neve de boa qualidade para esquiar.



                ONDE ESQUIAR

* Mont Tremblant. Freqüentada por quem mora em Montreal e outras cidades do estado de Quebec, no Leste do país.

* Banff e Sunny Valley, no parque nacional de Banff. Por estarem dentro de uma área de preservação (há rebanhos de alces, cabritos monteses e outras espécies de animais em estado selvagem) não são permitidos helicópteros, snowmobiles ou outros veículos barulhentos e poluidores. Empreendimentos imobiliários e construções são limitados. A grande cidade mais próxima é Calgary, localizada no lado ocidental das Montanhas Rochosas canadenses.


* Whistler fica do outro lado das rochosas. É a maior e a mais badalada estação de esqui do país. Chega-se lá a partir de Vancouver, na costa do Pacífico. 

Os locais estão assinalados no mapa com alfinetes amarelos


PARQUE NACIONAL DE BANFF


Maggie, uma motorista competente e bem-humorada, nos conduz pela autoestrada que atravessa o Parque Nacional de Banff . Localizado nas Montanhas Rochosas canadenses, província de Alberta, a oeste da cidade de Calgary, o parque tem 6.641 km² . O Parque de Banff foi o primeiro parque nacional do Canadá e hoje é um dos principais centros turísticos do país, atraindo mais de 4,5 milhões de visitantes por ano. O nome Banff vem de uma estação ferroviária da Canadian Pacific Railway, originário do município escocês Banffshire.

Apesar dos túneis sob as autopistas e das cercas, o atropelamento de animais selvagens é o mais sério problema dos administradores do parque.

No parque vivem em liberdade animais como ursos pardos e negros, alces, veados, cougars, lobos, carneiros selvagens, caribus, renas, coiotes, linces e marmotas.
Clique na foto para ampliá-la




ARTE EM GELO


As baixas temperaturas conservam as esculturas de gelo por semanas, meses.

A Canadian Pacific Railways, viação férrea canadense, construiu, no início do século 20, uma linha de trens que atravessa o país de costa a costa, paralelamente à fronteira com os Estados Unidos, e alguns ramais para cidades do norte. Como o Canadá era parcamente povoado, a empresa construiu hotéis de luxo junto aos trilhos para atrair turistas e aumentar o número de passageiros em seus trens. Um deles é este, semelhante a um castelo, perto de Banff.

"A million dollars view" - uma vista de um milhão de dólares. Este é o nome desta sala, de onde se tem uma visão privilegiada das montanhas.

Cada diretor de redação tem o seu critério ao escalar o jornalista para participar de uma viagem a convite, aquela em que o convidado tem todas as despesas pagas, e, em geral, produz uma reportagem sobre o assunto que a motivou. Mas todas elas tem uma coisa em comum: sobra pouco ou nenhum tempo para conhecer os lugares por onde se passa.
É preciso seguir o roteiro montado pelas empresas, sempre interessadas em tirar o máximo proveito do investimento. São fusos horários adversos, poucas horas de sono/ muitas de voo, cidades vistas das janelas dos ônibus durante os transbordos dos hotéis até os aeroportos. Na volta, editores ansiosos pelas reportagens, trabalho atrasado e a inveja mal-disfarçada dos colegas: “aí, hein, a gente aqui dando duro e você fazendo turismo..”.
Minha viagem aos Emirados Árabes durou sete dias. Três deles foram passados a bordo de aviões – menos mal que em classe executiva. Por causa da diferença de sete horas no fuso horário entre os Emirados e o Brasil, o sono só vinha lá pelas seis horas, quando para o meu corpo o relógio marcava onze. Duas horinhas de sono e o despertador tocava para mais um dia de atividade intensa. Na volta desembarcamos às 6 horas para uma escala em Frankfurt, e o vôo de volta para o Brasil estava marcado para as 19h. Em vez ficar dormindo no hotel, fiquei com a maioria que preferiu andar pela cidade até a hora do embarque.
Em Barcelona, boa parte das fotos foram batidas da janela do ônibus que nos levava para os compromissos da programação. Alguns colegas simplesmente sumiam para poderem passear. Eu preferia levantar duas horas antes dos outros e ir dormir de madrugada, depois que os bares fechavam.
Na ida à Suécia, uma exceção: preparado por assessores de imprensa, o roteiro deixou um dia inteiro livre, em Copenhagen. Em compensação, na volta, em vez de um dia de descanso na escala de Madri, viajamos quatro horas de ônibus até uma pequena cidade do interior para visitar uma fábrica de leite que usa as embalagens produzidas pelos nossos anfitriões.
Nenhuma dessas maratonas, no entanto, foi mais estafante que a da visita ao Canadá. Cruzamos o país de ponta a ponta, com quatro horas de diferença entre o leste e o oeste, ficando um dia em cada cidade (Montreal-Calgary-Vancouver-Toronto). As viagens de ônibus até estações de esqui, objetivo da viagem, consumiam de duas a três horas. Um exemplo: acordamos às quatro horas em Mont Tremblant e engolimos o café da manhã às pressas para chegar a tempo do embarque, em Montreal. Depois de três horas de vôo, chegamos a Calgary, do outro lado do país... na hora do café. Em compensação, na volta de Vancouver para Toronto perdemos o almoço e o jantar. Ruben, um jornalista uruguaio, deu o tom da viagem. A cada desembarque, exclamava: “como voy a dormir! Como voy a dormiiiiiir!”


Ruben, à esquerda, exausto, dormindo apesar do sol no rosto durante a viagem de ônibus entre Toronto e Niágara, no Canadá.


4 comentários:

Unknown disse...

Pô, taí um país que eu gostaria muito mesmo de conhecer, todos os que moraram ou passaram por lá, como é o teu caso, dizem maravilhas do Canadá, qualidade de vida, trabalho, cultura, segurança e uma natureza belíssima. Tem todo esse frio aí, mas isso gaúcho leva um pala e tira de letra, ou não? Belas fotos. Grande abraço Heberle, cidadão do mundo, belas fotos.

Clovis Heberle disse...

Caro Ulisses,
o Canadá é tudo isso, e mais uma coisa importante: lá eu não me senti um estrangeiro. É um país jovem (como o Brasil), com muito imigrante, onde se fala duas línguas e as diferentes culturas convivem sem problemas.
Que legal que gostaste das fotos. Tive que fazer uma edição rigorosa para não atrolhar com cartões postais.
Abraços
Clovis

Anônimo disse...

Oi, Clóvis!
Belos cartões postais. Lindos pra olhar. Mas já não tenho prazer pelo frio, não. Ao contrário, cada inverno aqui nos Pampas dá a sensação de ser mais rigoroso. Essa viagem tua foi em 1998, né? Veja só como o tempo voa, rapaz.
Forte abraço.

Clovis Heberle disse...

Oi, anônimo!
Em primeiro lugar gostaria de saber quem és...
Sabe que depois do inverno de 2007 eu também fiquei traumatizado - cheguei a escrever uma croniqueta sobre a friagem, com dicas de vinhos tintos e escalda-pés. Vários amigos me garantiram que baterão asas rumo a lugares mais quentes, como as aves migratórias, assim que as primeiras ondas de frio chegarem, em junho. Eu, como faço há 25 anos, me mandarei para a Bahia...
Abraços