quarta-feira, 22 de julho de 2020

A LONGA VIAGEM DE JOY, O CUSCO DE ESTIMAÇÃO DE ALEXEI ROMANOV





Joy era um cocker spaniel nascido na Inglaterra.  Em 1914 foi dado de presente a Alexei Romanov pelo seu pai, Nicolau II, czar da Rússia. Por causa de seu temperamento irriquieto e  brincalhão ganhou este nome (alegria, em inglês), e conquistou o afeto do menino de 10 anos, herdeiro do trono russo. Alexei era hemofílico, tinha pouquíssimos amigos, e Joy acabou sendo seu companheiro inseparável.
Na revolução bolchevique iniciada em março de 1917, a família real foi aprisionada em São Petersburgo e enviada para Tobolsk,  e depois para Ecaterinburg, na Sibéria.  Com o czar, a czarina Alexandra, as filhas Olga, Tatiana, Maria e Anastassia, o médico da familia e três criadas, viajaram para o exílio também os três cachorros. 
Na noite de 16 para 17 de julho de 1918, todos foram executados a tiros por soldados do exército vermelho, com exceção de Joy, que estava cego, se assustou e fugiu. Foi encontrado dias depois, vagando pelas ruas, faminto e amedrontado, por um dos soldados que fazia a guarda da Casa Ipatiev, prédio onde os Romanov estavam presos. Com pena, cuidou dele. Pouco tempo depois, tropas do chamado exército branco, organizadas pelos ingleses, invadiram Ecaterinburg.  Pavel Rodzianko, um coronel  russo que lutava contra os bolcheviques , reconheceu Joy, pois havia servido  na guarda do czar.  Adotou-o, e quando a cidade foi retomada pelos revolucionários, levou-o junto na retirada. 
Na base militar inglesa instalada na cidade de Omsk, Joy reconheceu, pelo faro, Sofia Buxhoeveden, que havia sido dama de companhia da czarina. Começou a pular e correr em torno dela,  feliz por ter reencontrado a sua familia.  Nova decepção: Sofia não pode ficar com ele, e a retirada continuou até o porto de Vladivostok, onde o coronel Rodzianko embarcou  rumo a Londres, levando-o junto.
Na capital inglesa, o russo entregou Joy ao rei  George V, primo de Nicolau. O cão foi integrado ao grupo de cães de estimação da família real inglesa. 
Passou seus últimos anos de vida tranquilo, no castelo de Windsor, onde foi enterrado, no cemitério de cães da realeza.






A longa viagem de Joy: 9.600 quilômetros, de São Petersburgo até Vladivolstok, no mar do Japão., foi feita de trem, pela ferrovia Transiberiana. A distância é mais de duas vezes a de Porto Alegre a Belém do Pará. 







Fotos: Museu Municipal de Zlatoust

Fontes. jornal Siberian Times e site Beyond Russia


terça-feira, 14 de julho de 2020

FRIO RELATIVO, FRIO ABSOLUTO


Noite gelada de inverno. O ônibus da empresa  que fazia a linha Porto Alegre-Montevidéu  para na aduana brasileira, em Chuí. Os passageiros descem e entram no prédio de porta aberta, com funcionários encarangados de frio. Cumpridos os trâmites burocráticos, voltam rápido para o ônibus, que passa a fronteira e estaciona na frente da aduana uruguaia. 
Com a porta fechada e uma lareira acesa, os funcionários estão confortáveis vestindo blusões de lã.
O frio era o mesmo, mas os poucos metros de distância indicavam a diferença com que brasileiros e uruguaios encaravam os rigores do inverno.
Muita gente comenta que adora as baixas temperaturas, apropriadas para um fondue com vinho tinto à beira do fogo, roupas charmosas, um fim de semana na Serra.  Há também os que suportam melhor o frio. Para a maioria da população, no entanto, faltam roupas adequadas, as casas não tem isolamento térmico nem aquecimento . Sem falar nos irmãos que vivem nas ruas.
Para estes, o frio é um tormento.







Lar sem teto


2020



O primeiro inverno
em que eu hiberno