quarta-feira, 24 de maio de 2017

CIUDADANO ILUSTRE



A viagem de ônibus entre Petrolina, em Pernambuco, e Salvador, na Bahia, durou toda a noite. Insone, fiquei matutando sobre os moradores dessas pequenas cidade e povoados do caminho. Meia dúzia de ruas iluminadas e o sertão por todos os lados. Como é que estas pessoas aguentam viver nesse brejos, longe de tudo? Quanta solidão, quanta tristeza.
Muitas curvas depois,  entendi. Lembrei de Três Passos, cidade onde nasci, perto da fronteira com a Argentina.  Nunca mais voltei lá desde que minha família se mudou para Porto Alegre, no início da década de 1960, mas me lembro do seu lema: "A Capital do Progresso". 
 Sim, os moradores dessas pequenas e médias cidades sentem orgulho do lugar onde nasceram, estudaram, trabalharam, casaram. Nos seus cemitérios estão os seus pais, parentes, amigos. Têm o maior carinho pelos rios e riachos onde pescam, pelos campos onde caçam.  Cada uma tem o seu prefeito, o padre, os médicos, os professores, as misses, os heróis. Todas têm os seus  pequenos escândalos, cochichados nos bares. 
Para seus moradores, lugar onde nasceram nunca é o fim, mas o centro do mundo - nem que fiquem a centenas de quilômetros de alguma capital e ostentem nomes exóticos como São João da Urtiga, Anta Gorda ou... Três `Passos.
O filme hispano-argentino "Cidadão Ilustre", dirigido por Gastón Duprat e Mariano Cohn, lançado em 2016, aborda o tema de forma genial. Um argentino nascido na pequena cidade (imaginária) de Salas, quase 700 quilômetros ao sul de Buenos Aires, não se conforma com a mesmice do lugar e aos vinte anos emigra, com a cara e a coragem, para a Espanha. Lá se torna um escritor, com histórias baseadas em personagens e situações de sua terra natal.  Faz sucesso, e, livro após livro, se torna mais conhecido, traduzido para diversas línguas, convidado para inúmeros eventos culturais. 
Já cinquentão, rico e entendiado, há cinco anos sem escrever por falta de inspiração, ganha o Prêmio Nobel de literatura. Faz um discurso quase desaforado, qualificando a homenagem como o atestado de que nada mais lhe resta na vida.
Dias depois, de volta à sua confortável casa de Barcelona, recebe um convite do prefeito de Salas, para onde nunca mais havia voltado,  para ir à cidade por quatro dias. Ganharia a medalha de Ciudadano Ilustre, a mais alta honraria do município.
O resto do filme é sobre a experiência, no início hilária - como o desfile num carro de bombeiros - e depois cada vez mais conflituada, com a cidade e seus moradores. Rico, famoso, cosmopolita, vaidoso, teve que se confrontar com a mediocridade, a pequenez e a agressividade dos alguns de  seus moradores.  
Uma bela história, um belo filme.




segunda-feira, 22 de maio de 2017

UM EXEMPLO PARA OS HUMANOS




Grandes, pequenos, machos, fêmeas, de raça ou vira-latas, os frequentadores do cachorródromo do Parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre, só querem brincar, correr, conhecer os novos frequentadores, reencontrar os antigos. 
Ficam soltos, sem guias, e não se vê brigas nem disputas.  Os papais e mamães sentam nos bancos ou ficam por ali, acompanhando os filhotes. 
Que belo exemplo para os humanos.