terça-feira, 14 de abril de 2009

TEST DRIVER POR ACASO

 Um Rolls Royce estacionado na rua, em Barcelona, se torna atração turística (maio de 1994)


Dirigir um carro por algumas horas ou alguns dias e fazer uma reportagem sobre ele é um desafio cheio de armadilhas para quem não tem prática neste tipo de teste. Acostumados a dirigirem seus carrinhos básicos, repórteres de primeira viagem correm o risco de escrever coisas como "o carro é bom, mas falta o limpador do parabrisa traseiro" descrevendo um sedan - os limpadores traseiros são necessários apenas nos modelos hatch, nos quais o ângulo de quase 90 graus faz com que a água e a lama se acumulem no vidro.
Outros reproduzem o que disseram colegas experientes, que ao trocarem idéias sobre um lançamento fazem críticas ácidas sobre o motor, a suspensão, o acabamento. "Queimar" um modelo recém lançado é problema certo, ao menos para o editor, já que a empresa automobilística  que pagou a viagem do repórter tem justificadas expectativas de que a avaliação seja favorável.
A maioria, por preguiça, acaba fazendo o mais fácil: reproduzir, com algumas mudanças no texto, o material de divulgação distribuído pelas sempre eficientes assessorias de imprensa das montadoras.
Minha primeira experiência como test driver ocorreu por acaso. Fui premiado pelo diretor de Zero Hora Augusto Nunes com uma viagem de uma semana a Barcelona, em 1994. O convite da Volkswagen era para o lançamento do Seat Córdoba, com visita à fábrica de Martorell e um passeio/teste pelas montanhas de Montserrat, nos arredores da capital catalã. A empresa alemã, controladora da Seat, estava iniciando a exportação do veículo para o Brasil, e convidou jornalistas especializados de todo país.
Ainda bem que entre eles se encontravam dois amigos, um de Florianópolis e outro de São Paulo, pois no vôo observei que os setoristas dessa área são avessos a intrusos. Formam seus grupos, geralmente falando baixo, e ignoram colegas que não são do ramo. Nos almoços e jantares, a mesma coisa. Não raramente, mesmo depois de anos de estrada, eu preferia jantar sozinho, ou com algum eventual conhecido também rejeitado.
Com o passar do tempo entendi que eles não têm nada contra - nem a favor - dos colegas "de fora". Como se dedicam apenas a esse setor, acabam formando laços de amizade e companheirismo, com as variáveis de inimizades e antipatias eventuais ou permanentes. Além disso,  a maioria deles tem também interesses comerciais - a busca de anúncios para seus jornais - e há uma constante troca de informações sobre verbas, mudanças de chefias nas montadoras e outros assuntos que não interessam a quem quer apenas fazer a sua reportagem.
O primeiro teste quase foi um fiasco. Distraído na autoestrada, em alta velocidade, fui alertado pelos sinais indicativos de dobrar à esquerda para pegar uma estrada de terra e quase capotei o carro com uma freada violenta e uma guinada brusca. Escrevi a matéria orientado pelo editor Gilberto Leal, a quem, dali para a frente, sempre recorri para, ao menos, revisar os textos antes da publicação. Dali para a frente passei a participar do grupo de jornalistas escalados pela direção do jornal para testes, tarefa que aceitei com prazer por gostar de carros. Era, também, uma forma de romper a rotina da redação, conhecer novos lugares e pessoas.

TEST DRIVE SEM MISTÉRIOS


* Todos os carros são bons, ao menos enquanto novos. Um Mille Fire é um carro excelente - robusto, econômico e espaçoso para seu tamanho - para quem só tem condições de comprar um popular. 
* A matéria deve ser sempre útil para o leitor. Quais as vantagens do veículo? O que ele tem de melhor e de pior que os seus concorrentes? Como é a assistência técnica? O valor de revenda?
* Aponte os defeitos dentro do contexto do veículo. Não se pode exigir de um carro de baixa cilindrada o desempenho de um equipado com um motor potente.
* Nem sempre o que é moderno é melhor. Marcas conservadoras resistem a equipar seus utilitários com as úlimas novidades tecnológicas até elas provarem que são eficientes. 
* Tente tirar o máximo do carro testado, mas preste atenção aos seus limites como motorista e às leis do trânsito para não causar acidentes nem levar multas


MEMÓRIAS DE UM TEST DRIVER

* O melhor teste: uma Land Rover Discovery. Depois de uma noite fria num hotel de Monte Verde, divisa de Minas Gerais com São Paulo, descemos a serra por trilhas no meio do mato. Jamais pensei enfrentar ribanceiras, barro e outros obastáculos com tanta segurança. Em casos extremos a Discovery acelera e trava sozinha - o motorista só tem que mantê-la na trilha. Na estrada de asfalto até São Paulo ela manteve a eficiência, com excelente stabilidade e conforto.
* O melhor carro: BMW série7. Na autopista São Paulo-Campinas pude andar a 160 km/k sem sentir qualquer trepidação ou ao menos ouvir o ronco do motor. Na estrada secundária, cheia de curvas, meu parceiro, da Folha de São Paulo, pediu para descer para acalmar o estômago.
* A maior emoção: num final de tarde, num hotel-fazenda do interior de São Paulo, dois balões foram colocados à disposição dos jornalistas pela assessoria de imprensa da Mercedes Benz, que lançava um novo modelo do Classe A. Experimentar a sensação de voar num balão movido a gás aquecido, impelido pelo vento, é única. Ao sobrevoarmos (o piloto e eu) um hospital psiquiátrico construído no meio do campo, os internos se reuniram no pátio e começaram a gritar "vai cair, vai cair".
Descemos sãos e salvos.









sexta-feira, 10 de abril de 2009

RESSACA

Quem salva a vida
do salva vidas????

Imbé, Rio Grande do Sul, Brasil.
Lua cheia, maré alta.
Clique duas vezes sobre as fotos para ampliá-las.

A VIDA NO INTERIOR

Procissão do Senhor morto, na sexta-feira da paixão.
Católicos de Tramandaí saem da igreja às ruas, já de noite, para relembrar as cenas da crucificação de Jesus.

A PAZ É POSSÍVEL

quarta-feira, 8 de abril de 2009

CAUSOS DE REDAÇÃO

As novas tecnologias causam um misto de fascínio e temor nas redações ao serem adotadas. Depois de assimiladas, o que antes causava pavor se torna corriqueiro. Quando Zero Hora abandonou as máquinas de escrever, as laudas de papel, a barulheira e a fumaça de mil cigarros, houve um cronista que abandonou o treinamento para o uso dos computadores, com a justificativa de que jamais se adaptaria a eles. Continuou redigindo suas crônicas na máquina de escrever, em casa. Outro estranhou o silêncio da nova redação, olhou para os lados e bradou: "Isto aqui é o IML na hora do pique!".

Na década de 80, quando o departamento de jornalismo da RBSTV começou a fazer transmissões ao vivo, houve uma justificada ansiedade dos repórteres, acostumados a gravar seus boletins e repetí-los até que ficassem perfeitos. A ansiedade podia se transformar em pânico, de acordo com o grau de autocontrole de cada profissional.
O Cpers fazia uma assembléia geral no ginásio Gigantinho, e uma repórter foi escalada para entrar ao vivo no Jornal do Almoço. Era o seu primeiro boletim, e seus nervos estavam à flor da pele. Eu era chefe de reportagem e dialogava com ela pelo rádio tentando tranquilizá-la. Sugeria que respirasse fundo, fizesse de conta de que aquele boletim era gravado, tomasse um copo d'água. Mas à medida que o momento de entrar no ar se aproximava ela ficava mais nervosa.
O chefe de redação estava passando por alí e, depois de ouvir alguns minutos do meu diálogo infrutífero, tomou o microfone das minhas mãos e berrou: "Te acalma, pôrra".
Foi o santo remédio...

Outro episódio aconteceu na Zero Hora, num sábado em que eu era responsável pela redação. A rádio Gaúcha recém havia alugado um helicóptero para fazer seus boletins sobre trânsito, eventualmente compartilhado por equipes do jornal e da TV. Alguns fotógrafos adoraram a possibilidade de colher imagens lá de cima.

Naquele dia a OSPA, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, fazia um concerto ao ar livre junto à Usina do Gasômetro e a fotógrafa sugeriu fotos aéreas, para a capa da edição de domingo. Também deslumbrado com a novidade, topei na hora. Consegui o helicóptero e reservei espaço para a foto.
Mas foi um vexame. Imaginem a cena: no meio do concerto, um helicóptero identificado com a sigla da empresa começou a sobrevoar a orquestra e o público, cada vez mais baixo. O barulho das hélices abafava o som dos instrumentos, e o vento produzido por elas fazia voar as partituras. O público, atônito, gritava "fora, fora" e fazia gestos para o aparelho de afastar, enquanto a fotógrafa, perfeccionista, buscava o melhor ângulo para a imagem da capa. Quando o piloto se deu conta da babada, o estrago já estava feito.
Não fiquei sabendo se o concerto recomeçou ou não. Só sei que a capa não teve a foto aérea.











domingo, 5 de abril de 2009

BUENOS AIRES EM DOIS TEMPOS

Puerto Madero, o velho porto abandonado há décadas e agora recuperado, se tornou o símbolo da faceta moderna da capital argentina, com praças, bares e restaurantes. Além de atração turística, é um ponto de encontro dos portenhos.


A fragata Sarmiento, que já foi da marinha argentina, agora é museu náutico

As vacas, exposição temática em que cada escultor levou para as ruas de Puerto Madero o resultado de sua criatividade.



A Ponte da Mulher, de forma curvilínea, representa um par dançando o tango. Obra do aquiteto espanhol Santiago Valls, liga os dois lados do complexo turístico.


BUENOS AIRES EM DOIS TEMPOS

21 de março de 1984: milhares de pessoas comemoram os 100 dias do governo do presidente Raul Alfonsin, uma das figuras mais importantes da história do partido União Cívica Radical. Seu governo marcou a redemocratização da Argentina, encerrando o longo período da ditadura militar.
Alfonsin morreu na quarta-feira passada, dia 31 de março de 2009, aos 82 anos.



Os manifestantes se reuniram junto ao Obelisco, marco central da cidade, na avenida 9 de Julho,

"Nuestra causa es la causa de los desposeídos" , lema da UCR, opositora do peronismo.


Alfonsin discursa no ato público, já à noite, para a multidão reunida na frente da Casa Rosada, palácio do governo argentino.
Foi uma festa histórica, com bombos, choripan e fogos de artifício.







quinta-feira, 2 de abril de 2009

ENTARDECER DE OUTONO

Lagoa de Tramandaí, 18h 4 min


Iate Clube Guaíba, Porto Alegre, 18h 20min