segunda-feira, 20 de abril de 2020

O SOFRIMENTO DE COPACABANA



Uma amiga carioca que passou a páscoa em Copacabana conta que nas calçadas semidesertas pedintes disputam as pessoas que saem para comprar remédios e comida. Sem restaurantes, bares e lojas abertas, eles passam fome. Quatro semanas de isolamento social deixam suas marcas nas ruas e avenidas, com lixo amontoado e um forte cheiro de fezes e urina dos moradores de rua.
Esta é a realidade visível do bairro. A invisível está entre as paredes dos apartamentos, a maioria de quarto e sala ou "quitinetes" de um só ambiente com uma pequena cozinha e banheiro. Neles, 146 mil pessoas se amontoam em apenas 4,10 quilômetros quadrados. É o bairro com maior densidade demográfica e mais alta percentagem de idosos do Brasil.
Nos anos 50 e 60, ter um apartamento em Copacabana para morar ou passar temporadas era um sonho de consumo da classe média/alta.brasileira. As construtoras realizaram este sonho fazendo também edifícios com unidades cada vez menores e a preços mais acessíveis.
Hoje, estes proprietários - e seus filhos - são idosos, e o bairro, um asilo sem atendentes.
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sábado, 4 de abril de 2020

PADRE LEO, UM SANTO PADRE




"O maior milagre da igreja católica é que tantos fiéis ainda vão às missas, apesar dos sermões dos padres"  A frase é atribuída ao papa emérito Bento XVI, mas é muito difícil de acreditar que ele seja o autor. Quem assiste a missas regularmente, no entanto, há de concordar que a maioria dos sermões são tediosos e muitas vezes incompreensíveis. Com raras exceções, os religiosos simplesmente cumprem uma tarefa, nos 20 minutos da missa destinados à pregação, falando sobre temas relativos à fé e aos trechos bíblicos, sem muita conexão com as dúvidas, os problemas e as necessidades dos fiéis.
Este não era o caso do padre Léo. Ninguém ficava indiferente quando ele falava. Muito pelo contrário. Ele atraía multidões de pessoas de todas as idades, e eram comuns explosões de  risos, de choro. Ninguém bocejava, jamais. Tinha carisma e o dom da palavra para trocar em miúdos assuntos bíblicos e da fé, dilemas existenciais, e problemas das relações humanas.
Os temas espirituais eram, claro, o foco de suas palestras, transmitidas pela rede de tevê  Canção Nova, com sede na cidade de Cachoeira Paulista, SP.  
Mas ele temperava as conversas - suas pregações tinham um tom coloquial - com histórias de sua infância, menino de familia pobre do vilarejo de Biguá, distrito de Delfim Moreira, Minas Gerais. Preocupado com a questão ecológica, alertava para as consequências do desmatamento, da impermeabilização do solo em grandes cidades como São Paulo, e da falta de cuidados das pessoas em pequenos gestos como jogar uma bituca de cigarro no chão.
Léo Tarciso Gonçalves Pereira nasceu em 9 de outubro de 1961, e em 1981 ingressou no Seminário dos Padres do Sagrado Coração de Jesus de Lavras, MG. Fez noviciado em Jaraguá do Sul e cursou filosofia em Brusque,  Santa Catarina. Cinco anos depois de ordenado padre, em 1995, fundou em São João Batista, SC, a Comunidade Betânia, para acolher principalmente  dependentes químicos, menores abandonados e mães solteiras. 
Padre Léo faleceu em janeiro de 2007, aos 45 anos,  vítima de um câncer linfático. Pregou até o fim: nos últimos meses falava sentado, e tinha que ser amparado para caminhar. Mas nunca perdeu o otimismo e a fé.
Seu trabalho pelos marginalizados criou na população catarinense a fama de santo, e motivou o arcebispado de Florianópolis e iniciar, junto ao Vaticano, o processo de beatificação, aceito em março de 2020. 






Para os católicos brasileiros, Léo já é considerado santo. 
Um santo padre.