terça-feira, 24 de março de 2015

LEONCIO LOBATO JÚNIOR





Contador de profissão - foi chefe do setor de contabilidade do Senai/RS até se aposentar -, meu sogro Leoncio Lobato Júnior (9/6/1913- 30/10/1998) era um homem metódico, organizado.  Trabalhou  desde criança.  Ainda menino, recebia moedas para fazer tarefas como buscar água no rio em Triunfo,  cidade onde foi morar com os pais e irmãos ao chegarem de Curitiba, na década de 1920.
No seu primeiro emprego, já em Porto Alegre, criou o hábito de economizar. Nas suas primeiras férias,  tinha juntado o suficiente para comprar uma passagem de navio na linha Ita que ia de Porto Alegre ao Rio de Janeiro. Se encantou pela então capital do país, para onde voltava sempre que podia.
O orçamento da família era cumprido religiosamente: apenas 20 por cento do salário podia ser comprometido com dívidas; os impostos e demais contas eram pagos antes do vencimento, e uma parte ia para a poupança. Todos os recibos e comprovantes eram guardados em caixas de metal. 
Nada faltava, mas não havia luxos naquele casarão de dois andares da rua Faria Santos, em Petrópolis, onde morava com a esposa Suelly e os sete filhos. Com o dinheiro poupado mês a mês, adquiriu outros imóveis, que alugava.
Mas o geminiano Leoncio tinha o seu lado bon vivant:  gostava de cinema, fumava charutos de qualidade,  apreciava um bom uísque ou vinho e, antes do almoço, costumava tomar sol no quintal, ouvindo as notícias do dia no seu  rádio a pilha. 
Era fascinado pelo jogo cartas, especialmente o pôquer. Acreditava na sorte,  "que vem e vai,  como as marés", mas também da capacidade do jogador de ocultar seus sentimentos: o  "poker-face", como dizia. Nas tardes de sábado e às vezes num dia de semana, à noite, se reunia com um grupo de amigos para jogar. Os valores eram simbólicos - ninguém ganhava nem perdia mais do que o equivalente a meia dúzia de cervejas.
Além de Copacabana, onde acabou comprando um apartamento,  e do Imbé, onde tinha uma casa de veraneio, Leôncio gostava muito de ir para Rivera e para Montevidéu. Jogava nos cassinos, abastecia seu estoque de charutos e se deliciava com a tranquilidade e a atmosfera européia dessas cidades uruguaias.
Varava as madrugadas lendo e ouvindo música.  Sua biblioteca tinha muitos livros em inglês, língua que aprendeu sozinho, com o dicionário sempre ao lado da poltrona.  Gostava de fazer palavras cruzadas em inglês.
Marcado pelos anos duros da Segunda Guerra Mundial, sabia de cor todos os episódios do conflito e podia discorrer por horas sobre o assunto. Admirava especialmente Winston Churchill, o líder da resistência inglesa contra o nazismo. Desenvolveu a teoria de que as tragédias das guerras têm o seu lado positivo: obrigam os governos, as empresas e as pessoas a serem eficientes e unidos em torno de um objetivo comum. "Um dos problemas do Brasil é nunca ter enfrentado uma guerra", dizia.
Seu hobby era cuidar das rosas que cultivava no jardim.  Fazia os consertos da casa.  Para isso, tinha toda a espécie de ferramentas, meticulosamente organizadas num armário embutido. Até hoje uso a caixa de ferramentas e a furadeira elétrica que ele me deu de presente, depois do casamento. "Vais precisar muito disso daqui para a frente".
Jogador de pôquer, Don Leoncio, como era chamado por um dos genros, argentino, raramente  expressava suas emoções. Achava que um homem de verdade devia guardar para si o seu jogo, tirar o melhor proveito das cartas recebidas do destino,  atravessar as fases de maré baixa  sem queixas e aproveitar os momentos bons da melhor maneira possível - nem que fosse uma boa refeição. 
Depois de cada almoço, costumava  dizer: "Comemos e bebemos muito bem, graças a Deus".





Leoncio, já idoso, com a esposa Suelly e as filhas Lizete (à esquerda) e Lais, no quintal da casa da Faria Santos, 107. 



Foto roubada: meu sogro ouvindo seu radinho na hora do almoço













domingo, 22 de março de 2015

OUTONO









quarta-feira, 11 de março de 2015

QUASE OUTONO






Uma caminhada pela beira da praia num fim de tarde, privilégio de quem vive no Litoral


Morro Alto visto da Estrada do Mar






segunda-feira, 9 de março de 2015

BATACLAN E EU


Cândido José dos Santos, o Bataclan, era vegetariano e para exaltar as virtudes de uma alimentação saudável, sem bebidas alcoólicas, cigarros e drogas, corria pelas ruas do centro de Porto Alegre, quase todas as manhãs, de calção e camiseta, mesmo em dias frios. Isso desde a década de 1940, quando chegou à cidade.
À tarde voltava às ruas para trabalhar: vestido a rigor - terno, gravata, chapéu - fazia propaganda de produtos, de bares e o que mais aparecesse. Morreu em setembro de 1990. Tinha mais ou menos 90 anos.
Fotografar as maratonas de Bataclan sempre rendia boas imagens para os fotógrafos dos jornais da Caldas Júnior - Correio do Povo, Folha da Manhã, Folha da Tarde. 
Na cena acima,  fotografada em 1980, acabei, sem querer,  fazendo companhia ao "Atlas de Ébano", como era conhecido, na rua da Praia,  perto da redação da Folha da Tarde, onde trabalhava.