quarta-feira, 23 de abril de 2008

SUGAR BLUES


Para Billie Holiday,
cuja morte mudou minha vida,
e
Gloria Swanson,
cuja vida mudou minha morte.


William Dufty

terça-feira, 22 de abril de 2008

SUGAR BLUES


Para Billie Holiday,
cuja morte mudou minha vida,
e
Gloria Swanson,
cuja vida mudou minha morte.



William Dufty











O AMARGO SABOR DO AÇÚCAR

O jornalista norte-americano William Dufty era um viciado típico em açúcar. Obeso, sofria de vários problemas de saúde, da gastrite a dores de cabeça. Os remédios que tomava aliviavam os efeitos, mas nem ele nem os médicos se davam conta de que a solução seria atacar a causa. Até que um dia, na década de 60, conheceu a atriz Gloria Swanson, num coquetel para a imprensa, em Nova Iorque. Ao vê-lo adoçar o café, disse, suavemente: “Esta coisa é um veneno”.

Foi o início de uma relação que acabou em casamento. Dufty se deu conta de que era viciado. Ao abandonar o açúcar e adotar uma dieta à base de cereais integrais, recuperou a saúde e, em cinco meses, passou de 102 para 67 quilos. Daí para a frente, sua vida mudou completamente. Passou a pesquisar o tema e publicou o livro Sugar Blues, em que, com ironia e sarcasmo, denunciou os efeitos deavastadores do açúcar sobre a saúde e a benevolência com que a indústria de refino do produto e seus derivados foi tratada ao longo dos séculos pelos governos e pelas sociedades de medicina, mais preocupados em manter os seus ganhos bilionários com os impostos e com o tratamento dos doentes.
Em 1975 William e Gloria visitaram o Brasil, a convite de uma rede de televisão. Os anfitriões se decepcionaram. Na primeira entrevista coletiva que deu, a consagrada atriz norte-americana desdenhou as perguntas sobre cinema e fofocas do show business para se concentrar na campanha de esclarecimento sobre as conseqüências desastrosas do consumo de açúcar industrializado que vinha desenvolvendo em todas as suas aparições públicas nos Estados Unidos.

Foi a única chance que teve. Confinada numa suíte do hotel Nacional, no Rio de Janeiro, a dupla concedeu longas entrevistas que nunca foram ao ar. Assim como hoje, as indústrias de refrigerantes e alimentos açucarados eram grandes patrocinadores dos programas de televisão, e os empresários não queriam correr o risco de perdê-los.
No mesmo ano, a editora Ground lançou Sugar Blues no Brasil. O título do livro, imitando a logotipia de Coca Cola, me chamou a atenção, na Associação Macrobiótica de Porto Alegre, a macrô, onde costumava almoçar. Depois de lê-lo, abandonei o hábito de consumir açúcar e doces.

Em 2007, a editora Ground reeditou o Sugar Blues. Afinal, a realidade de hoje – e a ignorância sobre os efeitos nocivos do açúcar - não é muito diferente daquela descrita por Dufty há quarenta anos. Vale a pena ler. É um livro pode mudar a sua vida – para melhor.




Campanha contra o açúcar, na década de 70: Gloria Swanson e William Dufty jogam o produto no lugar mais apropriado: a lixeira.


Cultivada nos vales quentes da Índia, a cana de açúcar era consumida em forma de suco. Historiadores gregos e romanos se referem também a “mel sem abelhas” (melado) e “sal indiano” (suco solidificado), trazidos por exploradores em pequenas quantidades e usado para fins medicinais. Foi Dioscorides, escritor romano da época de Nero, quem deu ao produto seu nome latino: saccharum.
Invasores persas levaram mudas de cana para seu país, e cientistas da Universidade de Djondisapour desenvolveram o processo de solidificação e refino do suco para que, de forma sólida, pudesse ser transportado sem fermentar. 

Quando o Império Persa sucumbiu diante do exército Islâmico, uma das mais preciosas presas de guerra foi o segredo de transformar suco de cana em saccharum. Os árabes adotaram o açúcar na sua dieta, e levaram mudas de cana para plantar nos países conquistados – a Espanha entre eles.
O hábito de comer açúcar foi introduzido na Europa pelos cruzados. Eles voltavam da Terra Santa encantados com aqueles torrões doces que eliminava a fadiga e os deixavam cheios de energia. Os árabes acabaram sendo expulsos da Espanha, deixando para trás seus canaviais e a doce novidade.
Descoberta a América, enormes áreas de terras do Brasil, da América Central, do Caribe e outros territórios tropicais ocupados por portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e holandeses foram usadas para o plantio de cana, com a devastação da mata nativa. Com a bênção papal – uma Bula de 1455 autorizava os católicos a “atacar, subjugar e reduzir à escravidão os sarracenos, pagãos e outros inimigos de Cristo” - , africanos foram escravizados para trabalhar nos canaviais. Os índios foram praticamente exterminados, por não se adaptarem a um trabalho tão pesado. A mão-de-obra para o cultivo de cana foi responsável por dois terços dos 20 milhões de africanos escravizados entre os séculos 16 e 19.
Traficar negros, plantar cana, refinar açúcar e comercializar o produto na Europa e na América do Norte se tornou um negócio bilionário. Governos e empreendedores privados se lançaram numa corrida alucinada para satisfazer a voracidade cada vez maior dos europeus. Com o aumento da produção, caíram os preços, e comer alimentos açucarados – antes um vício caríssimo, restrito à nobreza - se tornou hábito entre todas as classes sociais das cidades européias. Aumentaram também, na mesma proporção, as mortes por doenças antes raras ou até desconhecidas, como a diabete. 

Em 1880, os dinamarqueses consumiam 14,5 quilos de açúcar refinado por ano. A média de mortes por diabetes era de 1,8 por 100 mil.
Em 1911, o consumo subiu para 41 quilos por pessoa. A média de mortes subiu para 8 por 100 mil.
Em 1934 o consumo era de 57 quilos por ano. A média de mortes foi de 18,9 por 100 mil.

Os dados são do ministério da Saúde da Dinamarca. 





William Dufty (1916-2002) nasceu no Michigan. Cursou a Universidade de Wayne e trabalhou como colunista e produtor de rádio. Carismático, escreveu para vários jornais entre eles o New York Post. Em 1950, trabalhou com sua grande amiga e famosa cantora de Jazz Billie Holliday, com quem criou a conhecida biografia “Lady Sings the Blues”. Casou com Glória Swanson, diva hollywoodiana da década de 1920 e grande ativista da saúde, e juntos empreenderam uma cruzada contra os males do açúcar. Em 1975 publicou Sugar Blues que rapidamente se tornou um sucesso com mais de um milhão de cópias vendidas.




SANGUE E LÁGRIMAS*

Cultivada nos vales quentes da Índia, a cana de açúcar era consumida em forma de suco. Historiadores gregos e romanos se referem também a “mel sem abelhas” (melado) e “sal indiano” (suco solidificado), trazidos por exploradores em pequenas quantidades e usado para fins medicinais. Foi Dioscorides, escritor romano da época de Nero, quem deu ao produto seu nome latino: saccharum.
Invasores persas levaram mudas de cana para seu país, e cientistas da Universidade de Djondisapour desenvolveram o processo de solidificação e refino do suco para que, de forma sólida, pudesse ser transportado sem fermentar.

Quando o Império Persa sucumbiu diante do exército Islâmico, uma das mais preciosas presas de guerra foi o segredo de transformar suco de cana em saccharum. Os árabes adotaram o açúcar na sua dieta, e levaram mudas de cana para plantar nos países conquistados – a Espanha entre eles.
O hábito de comer açúcar foi introduzido na Europa pelos cruzados. Eles voltavam da Terra Santa encantados com aqueles torrões doces que eliminava a fadiga e os deixavam cheios de energia. Os árabes acabaram sendo expulsos da Espanha, deixando para trás seus canaviais e a doce novidade.
Descoberta a América, enormes áreas de terras do Brasil, da América Central, do Caribe e outros territórios tropicais ocupados por portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e holandeses foram usadas para o plantio de cana, com a devastação da mata nativa. Com a bênção papal – uma Bula de 1455 autorizava os católicos a “atacar, subjugar e reduzir à escravidão os sarracenos, pagãos e outros inimigos de Cristo” - , africanos foram escravizados para trabalhar nos canaviais. Os índios foram praticamente exterminados, por não se adaptarem a um trabalho tão pesado. A mão-de-obra para o cultivo de cana foi responsável por dois terços dos 20 milhões de africanos escravizados entre os séculos 16 e 19.
Traficar negros, plantar cana, refinar açúcar e comercializar o produto na Europa e na América do Norte se tornou um negócio bilionário. Governos e empreendedores privados se lançaram numa corrida alucinada para satisfazer a voracidade cada vez maior dos europeus. Com o aumento da produção, caíram os preços, e comer alimentos açucarados – antes um vício caríssimo, restrito à nobreza - se tornou hábito entre todas as classes sociais das cidades européias. Aumentaram também, na mesma proporção, as mortes por doenças antes raras ou até desconhecidas, como a diabete.


Em 1880, os dinamarqueses consumiam 14,5 quilos de açúcar refinado por ano. A média de mortes por diabetes era de 1,8 por 100 mil.
Em 1911, o consumo subiu para 41 quilos por pessoa. A média de mortes subiu para 8 por 100 mil.
Em 1934 o consumo era de 57 quilos por ano. A média de mortes foi de 18,9 por 100 mil.

Os dados são do ministério da Saúde da Dinamarca.

* Texto condensado do primeiro capítulo do livro, intitulado Mercado Branco



SUGAR BLUES*

O açúcar refinado é letal porque fornece apenas aquilo que os nutricionistas descrevem como calorias nuas e vazias - os minerais naturais presentes na cana e na beterraba são retirados no refino. Por isso, o açúcar drena e consome gradativamente as vitaminas e sais minerais do corpo pelas exigências de sua digestão e eliminação.
O equilíbrio é tão essencial a nossos corpos que possuímos diversas alternativas para enfrentar o repentino choque provocado por uma maciça ingestão de açúcar. Minerais, tais como o sódio (do sal), o potássio e o magnésio (dos vegetais) e o cálcio(dos ossos) são mobilizados e utilizados em transmutações químicas. Ácidos neutros são produzidos para tentar equilibrar o fator ácido-alcalino do sangue e fazê-lo voltar ao normal.
A ingestão diária de açúcar produz uma condição continuamente superácida e mais e mais minerais são requisitados para o seu reequíbrio.

Para proteger nosso sangue, tanto cálcio é retirado dos ossos e dentes que surgem cáries e um enfraquecimento generalizado.
Com o passar do tempo, o excesso de açúcar afeta cada órgão do corpo. Inicialmente ele é estocado no fígado, sob a forma de glicose (glicogênio). Como a capacidade do fígado é limitada, o excesso de glicogênio retorna ao sangue sob a forma de ácidos gordurosos. Estes são levados para todo o corpo e estocados nas áreas mais inativas: a barriga e as nádegas.
Todos os alimentos contém energia e mais alguma coisa. Todos os alimentos contém alguns nutrientes, sob a forma de proteínas, carboidratos, vitaminas ou minerais. A sacarose contém apenas energia calorífica. Não é digerida na boca nem no estômago. Passa diretamente ao intestino grosso e aí entra na corrente sangüínea. Cabe ao pâncreas aumentar a produção de insulina para reequilibrar a taxa de glicose do sangue.

Quando o pâncreas, sobrecarregado por por anos e anos de trabalho extra, já não consegue produzir a insulina suficiente, o açúcar fica no sangue. É a diabete.”

GLICOSE NÃO É AÇÚCAR

Glicose é um açúcar encontrado em frutas e vegetais. É um material chave para o metabolismo de todas as plantas e animais. A glicose está sempre presente em nossa corrente sangüínea, e é freqüentemente chamada de açúcar no sangue.
Sacarose é o açúcar refinado feito de cana de açúcar ou de beterraba.
A utilização da palavra açúcar como sinônimo de glicose é um erro. Nosso corpo precisa de glicose, mas não de sacarose. São duas substâncias completamente diferentes.

* Informações do livro

UM VÍCIO PERMITIDO

A adição à sacarose refinada obtida pelo processamento químico do suco da cana (o açúcar) começa quando a criança troca o seio da mãe pela mamadeira. O leite de vaca adoçado, misturado com achocolatado ou café, substitui o materno. Depois vêm os doces, os sorvetes. Nas festas infantis não faltam negrinhos, branquinhos, tortas e, claro, refrigerantes.
O que são os refrigerantes? Água gaseificada + xarope açucarado, aromatizado artificialmente. Não contém vitaminas, proteínas nem sais minerais. Crianças, adultos e idosos bebem refri para matar a sede, e também junto com as refeições e lanches. Não bebem café, chá ou sucos sem adicionar açúcar. Comem doces e chocolates o dia todo. O açúcar vicia, tanto quanto a cocaína, a nicotina, a cafeína, o álcool. Um vício permitido!
Famosos confessam candidamente, em entrevistas, serem “chocólatras”, como se isso fosse chique! A cada Páscoa, pessoas humildes gastam boa parte de seus salários em ovos de chocolate, empurrados por reportagens em jornais, rádio e TV e pela publicidade. Indústrias de bebidas e de alimentos investem fortunas em anúncios de refrigerantes, doces e sovetes, tendo como alvos principais as crianças e os adolescentes. É um crime contra a saúde pública.

Assim como a propaganda de cigarros e bebidas alcoólicas, a desses produtos teria que ser restrita. As garrafas de refrigerantes deveriam ter uma advertência bem visível:
“Esta bebida faz mal à saúde. Causa obesidade, desnutrição, cáries e dermatites, enfraquece os ossos, afeta o sistema digestivo e intestinal, altera o humor. ”

NATUREBA? NÃO !

Não é preciso ser natureba para preservar a saúde dos efeitos nocivos da sacarose. O importante é se livrar do vício e não passar dos limites. O mel é doce e muitas as frutas também. Fornecem toda a glicose de que o organismo necessita, sem agredí-lo.
Para adoçar o café, o chá ou os sucos existe a Stevia, adoçante natural extraído de uma planta originária do Paraguai. O açucar mascavo é outra opção. Os supermercados têm bolos e pães saborosos, feitos com ingredientes integrais, naturais e fibras. Em vez de refrigerantes, água mineral, água de coco e sucos de frutas.
Se depois do janta dá vontade de comer uma sobremesa, que tal um figo cristalizado?
Em pouco tempo, o organismo se tornará um grande aliado. Passará a rejeitar qualquer exagero.

SUGAR BLUES

Campanha contra o açúcar, na década de 70: Gloria Swanson e William Dufty jogam o produto no lugar mais apropriado: a lixeira.

William Dufty (1916-2002) nasceu no Michigan. Cursou a Universidade de Wayne e trabalhou como colunista e produtor de rádio. Carismático, escreveu para vários jornais entre eles o New York Post. Em 1950, trabalhou com sua grande amiga e famosa cantora de Jazz Billie Holliday, com quem criou a conhecida biografia “Lady Sings the Blues”. Casou com Glória Swanson, diva hollywoodiana da década de 1920 e grande ativista da saúde, e juntos empreenderam uma cruzada contra os males do açúcar. Em 1975 publicou Sugar Blues que rapidamente se tornou um sucesso com mais de um milhão de cópias vendidas.