Breve aqui mais um condomínio "de luxo" de Xangri-lá. À direita fica a estrada do mar. À esquerda casas, a avenida Paraguassu, e, algumas quadras depois, lá longe, o mar.
Imaginei este papo enquanto esperava minha salada de frutas num café da Padre Chagas, a rua mais chique de Porto Alegre, observando dois caras sentados numa mesa próxima à minha. Haviam desembarcado de um New Beetle, fumavam charutos, pediram champanha importada e ficaram tentando, sem sucesso, chamar a atenção das mulheres que passavam mexendo nos seus um notebooks e celulares incrementados. Pareciam aqueles tipos que ganharam dinheiro fácil e depois tomam porres para comemorar os golpes de aplicaram nos trouxas. A cena dos dois me fez lembrar a paisagem do Litoral gaúcho onde brotam os condomínios "de luxo" - assim mesmo, entre aspas. Vender aqueles terrenos deve realmente ser um milagre da arte de marquetear/maquiar/enganar. Convencer alguém a pagar no mínimo 300 mil reais por um pedacinho de areia e depois gastar outros 200 mil (ou mais) para construir uma casa de veraneio longe do mar, cercada de muros e de vizinhos é algo admirável. Ou esta nossa classe média é mesmo otária????
Diálogo imaginário numa happy hour da Calçada da Fama, numa sexta-feira, quando as ruas do bairro Moinhos de Vento,em Porto Alegre, ficam congestionadas de Toyotas, Hondas, BMWs e outros carrões de mais de 60 mil. Sentados numa mesa da calçada de um café, dois jovens empreendedores batem papo.
Johnny - Cara, fechei um negócio da China. Vou emplacar meu segundo milhão (de dólares, hehehehe). Comprei baratinho mais uma área grande junto à Estrada do Mar para transformar em condomínio de luxo.
Johnny - Cara, fechei um negócio da China. Vou emplacar meu segundo milhão (de dólares, hehehehe). Comprei baratinho mais uma área grande junto à Estrada do Mar para transformar em condomínio de luxo.
Rudy - Mas alí é um areal brabo. E fica tri longe da praia.
Johnny - Bobagem. Tou cercando a área com muros de três metros, e cavando lagos artificiais com retroescavadeiras. A areia que sai dali serve pra elevar o nível do terreno. Depois é só plantar grama e umas palmeiras pros otários imaginarem que estão em Palm Beach ou Jurerê Internacional.
Johnny - Bobagem. Tou cercando a área com muros de três metros, e cavando lagos artificiais com retroescavadeiras. A areia que sai dali serve pra elevar o nível do terreno. Depois é só plantar grama e umas palmeiras pros otários imaginarem que estão em Palm Beach ou Jurerê Internacional.
Rudy - Estás brincando. Na Flórida e em Jurerê o mar é limpo , o clima bem mais ameno e os condomínios ficam junto ao mar. E nestes teus condomínios os terrenos são pequenos e as casas grandes. Fica um vizinho de cara para o outro. E com estes muros enormes, parecem presídios.
Johnny - Outra bobagem. E mal começaste a beber. O que a classe média quer é justamente a segurança dos muros. E quanto às casas ficarem coladas, melhor ainda. Quem chegou lá precisa mostrar aos outros o seu status. O carrão zerinho, o home theater, as roupitchas trazidas de Newyork...
Quanto a este mar de chocolate, quanto mais longe, melhor. Uma piscina, mesmo pequena, resolve. Quando o tempo estiver pra praia, é só botar a família na Hilux e ir.
Rudy - É, mas do outro lado da estrada tá cheio de malocas. Outro dia li num jornal uma reportagem sobre esta vizinhança. Os miseráveis vivem no meio do lixo, dos porcos e galinhas. Parece a Índia.
Johnny - Ora, deixa de ser ingênuo. Os meus clientes não tão nem aí para a maloqueirada, querem é poder acionar o controle remoto e abrir o portão para o seu refúgio. E não te preocupa com a mídia. Esta reportagenzinha que viste foi um acidente de percurso. Parece que a repórter quase foi pra rua por causa dela. Cada lançamento já prevê algumas páginas de anúncios coloridos, para, digamos, amortecer o espírito crítico dos jornalistas. Eles sabem que não devem se meter. Tem tanto outro assunto pra cobrir no veraneio. A moda de praia, por exemplo... gargalhadas...
Rudy - É, mas do outro lado da estrada tá cheio de malocas. Outro dia li num jornal uma reportagem sobre esta vizinhança. Os miseráveis vivem no meio do lixo, dos porcos e galinhas. Parece a Índia.
Johnny - Ora, deixa de ser ingênuo. Os meus clientes não tão nem aí para a maloqueirada, querem é poder acionar o controle remoto e abrir o portão para o seu refúgio. E não te preocupa com a mídia. Esta reportagenzinha que viste foi um acidente de percurso. Parece que a repórter quase foi pra rua por causa dela. Cada lançamento já prevê algumas páginas de anúncios coloridos, para, digamos, amortecer o espírito crítico dos jornalistas. Eles sabem que não devem se meter. Tem tanto outro assunto pra cobrir no veraneio. A moda de praia, por exemplo... gargalhadas...
Rudy - Mas tu te deste conta de que não falta muito pra acabar a duplicação da BR 101? Cada vez que eu vou pra Santa chego mais rápido. Mais um pouco e chegar a Jurerê vai ser uma barbadinha e o pessoal endinheirado vai preferir construir lá.
Johnny - Fala baixo, fala baixo. Antes disso eu ainda vou vender um monte de gelo na Sibéria. Não é por nada que saí do zero pra chegar onde cheguei, ao contrário de ti, que é de família rica.
Rudy - Tá legal, saquei. E como vais chamar o condomínio?
Johnny - Golden Jail.
Rudy - Gostei! Vamos brindar ao teu segundo milhão.
Johnny - Golden Jail.
Rudy - Gostei! Vamos brindar ao teu segundo milhão.
Imaginei este papo enquanto esperava minha salada de frutas num café da Padre Chagas, a rua mais chique de Porto Alegre, observando dois caras sentados numa mesa próxima à minha. Haviam desembarcado de um New Beetle, fumavam charutos, pediram champanha importada e ficaram tentando, sem sucesso, chamar a atenção das mulheres que passavam mexendo nos seus um notebooks e celulares incrementados. Pareciam aqueles tipos que ganharam dinheiro fácil e depois tomam porres para comemorar os golpes de aplicaram nos trouxas. A cena dos dois me fez lembrar a paisagem do Litoral gaúcho onde brotam os condomínios "de luxo" - assim mesmo, entre aspas. Vender aqueles terrenos deve realmente ser um milagre da arte de marquetear/maquiar/enganar. Convencer alguém a pagar no mínimo 300 mil reais por um pedacinho de areia e depois gastar outros 200 mil (ou mais) para construir uma casa de veraneio longe do mar, cercada de muros e de vizinhos é algo admirável. Ou esta nossa classe média é mesmo otária????
2 comentários:
Salve Clóvis. Estou com 34 anos de idade e tenho casa em Xangri-lá desde 1977. Fica na Ibirapuitã, uma quadra após a Paraguassu, em direção ao mar, exatamente na divisa com Atlantida. Não mais que 10 minutos de caminhada até a faixa de areia. Quando meu avô ergueu a casa, dava para ver a praia da janela de casa. Sequer tinha luz em alguns pontos do balneário. Ver as fotos de criança hoje é algo que espanta diante da comparação com o que se transformou. Desde que comecei a trabalhar em 1992 (então na RBS) nunca mais passei os dois meses por lá. A última vez que passei um fim de semana faz uns cinco anos. Simplesmente odiável ter congestionamento até no supermercado. Bons tempos de infância que se comia pastel no centrinho de Capão, se fazia compras no Real, jogava-se boliche no demolido fliperama e Atlântida não era 'planeta', mas apenas uma praia a mais em que à noite se jogava minigolfe ou se comprava a Zero Hora de domingo na revistaria junto à praça. Hoje, praia no verão é um inferno. Praia boa é no inverno. Desculpa o mau humor, o saudosismo até antipático, mas faço esta introdução pra dizer que mesmo sendo jovem ainda concordo contigo quanto ao teu comentário. Jamais, jamais, gastaria rios de dinheiro pra montar uma casa às margens da Estrada do Mar naqueles belos condomínios com vista pra Serra. Se quero ver Serra, compro um sítio em São Chico, terra boa fora do eixo da exploração Gramado-Canela. Bom no nosso litoral é dar aquela caminhadinha pra ou na praia, ter o mar na frente de casa ou a poucas quadras, dormir depois do almoço, pegar um segundo banho no fim da tarde. Ir para o litoral para tomar banho de piscina ? Se é por isso, o União Moinhos fica a duas quadras aqui de casa e me oferece uma piscina olímpica pra dar uma braçadas. Na boa, o que descreveste é real. Perdoe-me a palavra de baixo calão, mas é muita gente comprando merda pra ostentar. Abraço, Alexandre Aguiar.
O maior problema do nosso Litoral não é o mar cor de chocolate, o Nordestão do verão ou o vento sul no inverno. É a total falta de espírito público dos políticos.
Eles só enxergam os seus interesses, e como todos são construtores, donos de imobiliárias ou de bares e restaurantes, acham que têm que ir atrás do "progresso" a todo custo, afora os que só querem roubar, mesmo.
Um abraço
Clovis
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