sexta-feira, 6 de novembro de 2020

O DIA EM QUE CONHECI O ROBERTO

 Lidar com repórter - um bom repórter - é difícil. Ele contesta tudo, se acha o máximo, não quer perder tempo em assuntos que não vão render manchete. É turrão, marrento.Lidar com repórter à distância é mais difícil ainda. Ele pode inventar qualquer desculpa para furar uma pauta e ir a um bar beber com alguma gata que conheceu.

Em 1978 não havia celulares, muito menos smart phones. A comunicação era por telefone ou telex, aquelas engenhocas que transmitiam textos. O diretor da sucursal de São Paulo da Cia. Caldas Júnior, José Damas, contratou o Roberto como repórter. Eu era responsável pelo setor nacional da Central do Interior (estranho, né?), e articulava as relações entre as redações dos jornais da empresa - Correio do Povo, Folha da Tarde e Folha da Manhã - com as sucursais de Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Roberto se revelou um repórter responsável, com texto final, que encarava todas as pautas, de uma entrevista com o presidente da Fiesp a acompanhar a recuperação de um cavalo do dr. Breno Caldas que havia fraturado uma perna e estava sendo tratado numa clínica paulista. Conversávamos diariamente por telefone, trocávamos ideias, nos tornamos amigos. Mas eu só conhecia a sua voz - e ele a minha.
Aos 28 anos, eu tinha cabelos compridos e usava calças jeans e tênis, como era usual na época. E era assim que eu estava quando fui apresentado a ele, em São Paulo. Nos abraçamos e
explodimos numa gargalhada que durou longos minutos.
"Clovis, eu pensava que você era velho, barbudo, daqueles que fuma cachimbo e pensam cada palavra que dizem", disse ele.
E eu: "Pô, Roberto, eu tinha certeza de que tu era um garotão cabeludo, barba por fazer, vestindo macacão e camiseta colorida." Acontece que o Roberto estava impecavelmente vestido, barba feita, cabelos cortados e... negro, negro retinto.
Quinze anos depois nos reencontramos num voo para a Espanha, com um grupo de jornalistas convidados para o lançamento de um automóvel. E demos mais gargalhadas, ao recordar aquele dia em
que nos conhecemos.

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