sábado, 21 de maio de 2022

BRENO CALDAS SEGUNDO PAULO BROSSARD

 

A ideia era escrever um livro sobre de Breno Caldas. O projeto, liderado pela jornalista Núbia Silveira, acabou não se concretizando, mas várias entrevistas foram feitas por ela, por mim e os amigos João Borges de Souza e Celito de Grandi. Uma delas com o jurista, professor, ex-senador e ex-ministro  Paulo Brossard de Souza Pinto, amigo de Breno Caldas e colaborador do Correio do Povo. 

Encontrei um trecho dela num velho notebook em que foi degravada. Foi feita em dezembro de 2011,  com o apoio do dr. Leo Iolovitch, seu genro, com quem dividia o escritório de advocacia na rua Dario Pederneiras. 


Brossard - O que vocês querem saber de Breno Caldas? O que vocês não sabem?
 Nós - Queremos traçar um perfil deste homem que foi um dos mais importantes do Estado durante 50 anos e de repente naufragou -a empresa, a família, naufragou tudo. Vendeu tudo que tinha para pagar  suas dívidas. Se tornou um homem  praticamente pobre e terminou seus dias de cabeça em pé.  
Brossard - Vocês já conversaram com Paulo Pasqualini? Porque o Arlindo, pai dele, trabalhou com o Breno durante anos. O Breno diz que ninguém, de todos os que tinham trabalhado com ele, ninguém se comparava ao Arlindo Pasqualini. Ele podia sair para o outro lado do mundo, saía tranquilo porque o Pasqualini tomava conta.


P – Como é que o senhor conheceu Breno Caldas?
Brossard – Eu tive um tio, Dario Borba Brossard, que foi o fundador da página Rural – que antecedeu o Suplemento Rural. Era uma página que saía às sextas-feiras. Meu tio Dario foi quem iniciou isto e até ele morrer – depois ele foi para a FAO, passou 17, 18 anos morando em Londres, mas depois ele voltou e retomou. De modo que eu tive este acesso.
Realmente eu estabeleci contato com ele porque eu comecei a atividade política e depois a atividade profissional.
O Breno era engraçado. O Breno não acreditava em política, não acreditava em políticos. Até uma vez eu disse a ele “ o senhor não deveria dizer isso, porque afinal há políticos e políticos, e o senhor conheceu pelo menos dois, e conheceu bem, e que não eram isso que o senhor está dizendo, e eram bem diferentes um do outro. O Raul Pilla e o Alberto Pasqualini. Ele foi obrigado a reconhecer, digamos assim, a procedência.
Mas ele dizia isso. Era um traço dele. Eu compreendo isso, porque o jornal é uma coisa que se presta muito pra revelar muito tipo de pessoa. Que quer trazer para o jornal, sei lá, suas materinhas, botar o nome, o retratinho, e isso ele deve ter pegado muita gente, ficado vacinado. Especialmente – e isto é especulação minha, não juro – mas o fato é que ele tinha esta coisa.
Eu me recordo por exemplo uma vez – eu frequentava muito o Correio do Povo, conhecia, eu estava ainda na faculdade, não tinha uma atuação política maior, e eu me lembro que houve uma sessão lá na faculdade, eu não me lembro exatamente qual era - eu era presidente da Feupa, Federação Universitária de Porto Alegre, quando a Assembleia Constituinte de 46 terminou os trabalhos, foi promulgada a constituição, e os constituintes vieram para seus estados e vieram aqui para Porto Alegre dois constituintes que eram professores. Era o Raul Pilla e o Elói José da Rocha, um professor da faculdade de Medicina e outro da Faculdade de Direito.
E eu promovi uma homenagem dos universitários, a que a Universidade depois aderiu, o reitor naquela época era o Armando Câmara, então eu convidei para falar em nome dos professores o doutor Martim Gomes e em nome dos estudantes o João Leitão de Abreu, que estava terminando o curso. E foi uma sessão bonita.
Eu fui ao Correio do Povo depois da sessão, não sei para falar com o Adail (Borges Fortes da Silva) , o secretário, para sair uma notícia, e o Breno saiu do gabinete dele, e conversou, eu tava ali, o meu tio estava ali também, e se falou naquele negócio, como é que tinha sido. “E o discurso do Pilla, trouxe?” perguntou ele. O Pilla tinha trabalhado no Correio como jornalista e depois continuou como colaborador. “Não trouxe. O senhor não costuma publicar. Levei pro Diário.“

 E ele disse “ publico sim. Me pede pro Ernesto (o Ernesto Correa) que eu publico."
Mas era assim. Geralmente o Correio não publicava. Foi a primeira vez que eu falei com ele.
Foi em 46. Eu me formei em 47, eu estava na faculdade. A partir daí foram se avizinhando, e quando eu ia lá para conversar sobre alguma coisa, às vezes até para pedir – vou dar um exemplo: Falando uma vez sobre coisas do campo – ele gostava muito – ele disse que tinha feito um aramado com eucalipto. E que ele tinha feito os aramados há 20 anos, 30 anos, e estavam rebentando. Eu tinha comprado um aramado e fui lá para conversar especificamente sobre isso, totalmente fora do jornal. Então fui fazendo relações com ele.
Depois disso, uma vez que outra eu levava um artigo lá pro Adail e o Adail publicava, embora o primeiro artigo meu que foi publicado foi publicado no Diário (de Notícias), onde eu tinha amigos como Say Marques, grande figura, o Ernesto, também me dava com ele.
Depois houve aquele negócio com o Brizola. Quando era governador, o Brizola resolveu interferir, e ai de quem fizesse isso, aí é que tá. Havia dois jornalistas que eram brizolistas, e o Breno deixava muita autonomia pro pessoal. Mas até um certo ponto. E estes dois passaram do limite, ao juízo dele. Não me lembro agora quem foram. O Breno escreveu uma nota assinada. Ele era muito malicioso, escrevia muito bem. Sabia botar uma ironia muito discreta. E chamou os dois e disse:
“Eu sempre dei aos meus empregados a maior liberdade, mas vocês não pensem que eu não vejo o que está acontecendo. Eu queria dizer a vocês o seguinte: no dia que eu quiser vender uma coluna no jornal eu vou vender. O dia que eu quiser. Agora, não chegou este dia ainda. De modo que eu não permito que vocês utilizem o jornal para fazer aquilo que querem"

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