domingo, 1 de maio de 2022

MARTINICA, 1902: INFERNO NO PARAÍSO

 


Até maio de 1902 Saint-Pierre era a mais próspera cidade da colônia francesa da Martinica, maior até que a capital, Fort-de-France. De seu porto saíam navios abarrotados de rum produzido de suas plantações de cana de açúcar, além de café e outros produtos. 

Nas últimas semanas de abril, porém, o vulcão do Mount Pelée, situado junto a ela, começou a dar sinais de atividade, após 51 anos.  Um fazendeiro subiu até o topo da montanha de 1.397 metros e observou, horrorizado, a lava cinzenta fervendo na cratera. Voltou a galope e despachou um aviso para o governador, pedindo que a cidade fosse evacuada pelo risco de uma erupção eminente. Recebeu de volta apenas um agradecimento cordial.

 Apelos ao prefeito também foram em vão. Mais preocupado com seu projeto político - haveria eleição dali a poucos dias e ele queria se manter no cargo - continuou com os preparativos para um  banquete para 400 convidados.  No dia 2 de maio o vulcão começou a expelir fumaça sulfurosa e fios de lava  deslizavam pela encosta da montanha. As cinzas cobriram a cidade, matando animais.  Fazendas próximas à montanha foram destruídas pela lava, que também alcançou e matou um  grupo de trabalhadores.

Em vez de cumprir o seu dever e determinar à população que deixasse a área, o prefeito divulgava mensagens tranquilizadoras. O jornal local publicou o parecer de um especialista em vulcões garantindo que a erupção ficaria por isso mesmo, e logo tudo voltaria ao normal. O tal especialista, anônimo, era uma invenção do diretor do jornal, mais interessado nas verbas do governo que na informação correta.

O governador, do mesmo partido do prefeito, chegou no dia 7 para conferir como estava a situação. Encontrou as ruas desertas, cobertas de uma grossa camada de cinzas. A população estava trancada em casa para poder respirar. Ele e a esposa decidiram dormir lá em vez de voltar à capital, localizada a 24 quilômetros de distância.

O fazendeiro que tentou soar o alarme saiu de sua casa com a família e se refugiou no alto de um morro próximo. De lá ele viu quando, na manhã do dia seguinte, uma enorme explosão seguida do jorro de lava saiu do Mount Pelée e em poucos minutos atingiu Saint-Pierre. No porto, navios carregados de rum pegaram fogo e o rum incandescente cobriu o mar, matando dezenas de pessoas que tentavam se salvar entrando na água. Apenas dois dos 29.935 moradores sobreviveram: um sapateiro que trabalhava no porão de sua casa e um prisioneiro que estava de castigo numa pequena cela do subsolo da cadeia.

Entre as vítimas estavam o governador e sua esposa, o prefeito e o dono do jornal. 

 do livro "O Dia do Fim do Mundo, de Gordon Thomas e Max Morgan Witts





Saint Pierre foi reconstruída, mas nunca mais se recuperou. Depois de 120 anos, sua população mal passa de quatro mil pessoas. 

Na foto da Wikipédia, a cidade com o Mount Pelée ao fundo.







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