Martin era um menino problemático: muito indisciplinado, na escola não conseguia nem aprender a ler escrever. Em casa, não parava quieto. Incomodava todo mundo. Os corretivos do pai e dos professores eram surras e punições cada vez mais violentas, até que, aos 13 anos, ele fugiu da casa onde morava com os pais e irmãos, numa pequena cidade da Irlanda dos anos 1970.
Logo ele começou a ser seguido por um cachorro de rua, e depois por outros cinco, com quem compartilhava a comida que achava no lixo, e o pão e o leite que roubava na frente das casas depois que o liteiro e o padeiro passavam.
Os cães passaram a ser a sua familia. Com o tempo Martin conseguiu entender a sua linguagem e os seus códigos de procedimento, a disputa pela liderança, as demonstrações de afeto, de medo, de raiva. Tornou-se o líder da matilha.
Na sua ausência, a mãe dele ficou sabendo que o filho não era burro nem indisciplinado: ele sofria de uma doença, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. A cura era a paciência e o afeto, e não as pancadas e humiliações.
Depois de três anos, com a ajuda de dois amigos que se compadeceram de sua situação - nunca mais havia tomado banho ou trocado de roupas - foi convencido a voltar à convivência da familia e dos humanos.
A história de Martin McKenna está descrita em "O Menino que Falava com os Cães", livro que ele escreveu já adulto, quando emigrou para a Austrália, casou e teve filhos. Foi a esposa e a filha mais velha que o ensinaram a ler e escrever. Com a habilidade em entender a linguagem dos cães, ganha a vida com consultoria a famílias de animais agressivos e incontroláveis. Dá entrevistas e participa de programas sobre o assunto.É um livro comovente e interessante, até para quem não é apaixonado por cães.
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