sexta-feira, 13 de maio de 2022

PEGUEI UM ITA NO SUL

 



"Peguei um Ita no norte/e fui no Rio morar/adeus, meu pai, minha mãe, adeus Belém do Pará"
 Dorival Caymmi.


Década de 1930. O  jovem Leoncio Lobato Junior guardou, mês a mês, uma parte do salário de seu primeiro emprego, e nas férias pegou um Ita em Porto Alegre e foi realizar o desejo de conhecer o Rio de Janeiro. 

"Era uma beleza. A gente viajava com todo conforto, comendo e bebendo do bom e do melhor,  conversando com os outros passageiros e jogando cartas", contava o seu Leoncio, meu sogro, que se encantou pelo Rio e repetiu a viagem outras vezes. 

Os Ita (pedra, em tupi-guarani) eram navios a vapor da Companhia Nacional de Navegação Costeira - a Costeira - fundada no Rio em 1883 por imigrantes portugueses, os irmãos Lage. Numa época em que as rodovias e as ferrovias eram raras,  o Itaciqué, o Itaipú, o Itapé, o Itanagé, o Itanité, o Itaimbé, o Itapagé, o Itaberá, o Itagiba, o Itaguassu, o Itajubá, o Itapema, o Itapuca, o Itapuhy, o Itapura, o Itaquatiá, o Itaquera, o Itassucê, o Itatinga e o Itaúba levavam passageiros e cargas entre Manaus, Belém, São Luís, Fortaleza, Recife, Natal, Aracaju, Salvador, Ilhéus, Vitória, Rio de Janeiro, São Sebastião, Florianópolis, Rio Grande e Porto Alegre. 

A Costeira operou até 1965, quando a frota foi incorporada pelo Lloyd Brasileiro. Em 1970 os navios foram levados até um estaleiro do Rio, onde acabaram corroídos pela ferrugem.

Que tal se ainda fosse possível  ir até o cais de Porto Alegre e embarcar num Ita para Rio Grande, Florianópolis, Rio ou, quem sabe Manaus?

Bons tempos, aqueles.




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