sexta-feira, 15 de julho de 2022

TODA ARARUTA TEM SEU DIA DE MINGAU

 O Souza é daqueles taxistas que gostam de papear com os passageiros. Ouvir suas histórias, e, principalmente, contar as dele. 

Quando me levava para o trabalho, falava das pescarias, dos negócios, de futebol - nos fins de semana, jogava no time do bairro. Centroavante, sua paixão era mandar a bola na rede. 

Souza se gabava de ser um sedutor irresistível. Casadas, jovens, viúvas desfrutáveis, nenhuma resistia aos seus encantos. Até que...se apaixonou. Deixou a mulher com quem vivia há anos e tinha filhos para se juntar com uma morena bem mais nova do que ele. 

Reencontrei o Souza quase dez depois da nossa última conversa, numa corrida até o centro da cidade. Grisalho, rosto vincado, já não era o mesmo. Não pescava mais, nada de farras,  ia direto do trabalho para casa. "E o futebol?" perguntei.

- O pessoal me convida, mas já não jogo mais. O pior é que nem na tevê posso ver os meus joguinhos. Quem fica com o controle é ela.

Como diz aquele samba de Noel Rosa, "toda araruta tem seu dia de mingau".

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