domingo, 4 de outubro de 2009

ADIÓS, MERCEDES SOSA

"La Negra", com o compositor, pianista e maestro Ariel Ramírez, na gravação da Cantata Sudamericana, em 1972




Mercedes Sosa, junto com Atahualpa Yupanki, é a face mais conhecida da riquíssima música folclórica argentina, que floresce na paisagem árida da pré-cordilheira dos Andes.
Graças a ela, nós brasileiros pudemos tomar contato com algumas preciosidades do folclore argentino, chileno, boliviano, peruano. Com vigor, talento e coragem, Mercedes desbravou a selva da ignorância e do preconceito até hoje existentes no Brasil em relação à América hispânica. Com sua voz forte, ao som do inseparável bombo legüero, pregava com convicção religiosa um continente com "fronteras de flores y fuziles de mentira".
O primeiro contato com a zamba, a baguala, a chacarera e outros ritmos da Argentina criolla, de raízes indígenas, foi uma porrada na minha cultura musical, até então limitada à MPB, ao rock e aos clássicos.
Em dezembro de 1971, aos 21 anos, parti para uma viagem pela América do Sul, junto com alguns colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nunca havia atravessado o rio Uruguai.
A primeira parada foi em Salta, cidade do norte argentino, junto à Cordilheira. Nos hospedamos na casa de Manuel Castilla, um dos mais importantes poetas e compositores do país. Era o período das festas de fim de ano, e passávamos os dias e as noites bebendo vinho, mascando folhas de coca e ouvindo os grupos musicais da cidade. Um banho de ritmos, harmonias e instrumentos musicais criados pelos incas, como a quena e o charango.
Desde então a música folclórica argentina ganhou um lugar de honra na minha alma. Tive a felicidade de ouvir Mercedes Sosa em shows inesquecíveis em Porto Alegre e no Memorial da América Latina, em São Paulo, assim como Atauhalpa Yupanki e outros mestres. Uma das maiores emoções que já tive foi assistir a Misa Criolla interpretada por seu compositor, Ariel Ramírez, com um coral de crianças vindas da Argentina. Um dos meus discos prediletos é Cantata Sudamericana, outra obra de Ramírez em parceria com Felix Luna, na voz de Mercedes Sosa.
Buenos Aires é linda, cosmopolita, quase européia. Impossível não gostar da cidade. Mas se me perguntarem para que região da Argentina eu mais gostaria de ir, respondo: Santiago del Estero, Tucumán, Salta, Jujuy. Lá sim bate forte, ao ritmo do bombo legüero, o coração argentino.





"Si la muerte me lleva
no será para siempre
yo revivo en mis coplas
para ustedes, para ustedes"

Da música Alcen La Bandera, de Ariel Ramirez e Félix Luna
Álbum Cantata Sudamericana





terça-feira, 29 de setembro de 2009

EASY RIDER


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

VARIG, VARIG, VARIG








Na década de 80, quando a Varig era a Varig e o Rio de Janeiro a Cidade Maravilhosa, o xodó dos gaúchos era ir para o Rio no vôo 100, que saía do aeroporto Salgado Filho às 11h direto para o Galeão. Aos sábados, todos os vôos 100 lotavam, e a Varig tirou um Boeing 747, conhecido como Jumbo (aquele com dois andares), usado apenas em linhas internacionais, para atender à demanda. Era uma festa. Tinha gente que ia ao Rio de Jumbo no sábado para passar o fim de semana no Rio e voltar segunda, no vôo 100. Ao meio dia estava de volta.
Naquele tempo (faz muuuuito tempo) as passagens de classe econômica em vôos nos horários de almoço e jantar davam direito a almoço ou jantar, acompanhados de aperitivos - uísques importados, acreditem - e as bebidas da preferência do passageiro - vinhos finos, inclusive. Na hora de comprar o bilhete, era oferecida uma opção de cardápio - filé de gado, frango, peixe, um prato vegetariano ou, para os judeus, kosher.
Entrei em férias num sábado de dezembro e embarquei num jumbo para passar uns dias no Rio e depois seguir para Porto Seguro. Meu lugar era lá no fundo do avião, e demorei a chegar, pois o vôo estava completamente lotado.
Me acomodei, apertei o cinto e acompanhei as instruções de praxe para emergências. As turbinas já zumbiam quando os alto-falantes clamaram:
- Senhor Clovis Heberle, senhor Clovis Heberle, queira se apresentar à comissária de bordo na porta dianteira da aeronave.
Vermelho como um pimentão, desafivelei o cinto, levantei e percorri o interminável corredor, sob os olhares de todos os passageiros. Até chegar lá na frente, fiquei imaginando de tudo, até a expulsão do avião por algum motivo kafkiano.
A comissária, linda e sorridente, me esperava com uma pergunta singela:
- Foi o senhor que pediu comida vegetariana?

***

Quando os alto-falantes do aeroporto do Galeão anunciaram a última chamada para o embarque eu estava no bar da ala internacional, fazendo um lanche. Paguei a conta e saí às pressas para não perder o vôo.
O avião taxiava para decolar quando me dei conta de que havia esquecido a bolsa (daquelas de usar a tiracolo, onde levava tudo, dos óculos escuros às contas a pagar).
Chamei a aeromoça e pedi que o avião voltasse para eu recuperar minha bolsa no bar. Educadamente, ela explicou que isto não seria possível, mas que faria contato com o pessoal do setor de achados e perdidos para relatar o fato e passar os meus dados pessoais.
Pouco antes da chegada em Porto Alegre, quando eu já havia feito e refeito a lista de tudo que havia perdido, a aeromoça veio me dizer que a bolsa fora achada por um turista suíço e seria enviada para o meu endereço. Três dias depois ela chegou, num envelope de plástico lacrado. Não faltava nada.

****

Já fazia muito calor quando embarquei às 7 horas da manhã em Fortaleza para um vôo até Porto Alegre com escalas em Recife, Salvador, Rio, São Paulo e Curitiba. Logo que as portas foram fechadas os comissários de bordo distribuíram toalhinhas quentes de algodão embebidas em água perfumada. Sentado na terceira fila, observei que meus companheiros dos bancos próximos olhavam para as toalhas fumegantes, enroladinhas em forma de charuto, sem saber o que fazer. Provavelmente era a primeira viagem de avião deles.
Peguei a minha, abri e passei pelo rosto, a nuca e o pescoço. Delícia!
Imediatamente todos passaram a fazer o mesmo, timidamente.
Na decolagem de Salvador meus vizinhos já estavam relaxados. Eram colegas em férias. Conversavam animadamente, e não desgrudavam das janelas. Quando passou o carrinho com as bebidas - já era mais de dez e meia - pediram uísque. Esvaziaram os copos e pediram mais uma dose, e mais uma. Beberam uísque sem parar, até desembarcarem, bêbados e felizes, no Rio de Janeiro.
Continuei viagem, e depois da decolagem em Curitiba, zonzo com tantas escalas, resolvi fazer o mesmo que os nordestinos: pedi uísque. Bebi várias doses, até desembarcar, às cinco da tarde. Bêbado e exausto.

O belo jingle de Natal da Varig:
https://www.youtube.com/watch?v=4RVQnYxhvKg















sexta-feira, 18 de setembro de 2009

PORTO ALEGRE VISTA LÁ DO ALTO


O príncipe Charles comentou, há alguns anos, que os arquitetos fizeram mais danos à paisagem de Londres do que os alemães com seus bombardeios na Segunda Guerra Mundial.
Lembrei do comentário ao ver o centro da cidade de Porto Alegre, com seus milhares de edifícios colados uns aos outros. Imaginei esta mesma paisagem antes da demolição dos prédios desta area para a construção desenfreada destes blocos de concreto, sem qualquer preocupação estética ou respeito pelo patrimônio histórico.
Somente a partir da década de 70 conservacionistas conseguiram impedir a destruição de alguns casarões, que ainda estão aqui e ali para testemunhar como era bonita esta cidade.

VISTA LÁ DO ALTO

Aquela mancha verde no meio do mar de edifícios é o Parque da Redenção, ou Parque Farroupilha, o Ibirapuera de Porto Alegre, visto do 10º andar de um edifício da avenida Independência.

O local foi doado à cidade em 24 de outubro de 1807 pelo governador Paulo José da Silva Gama "para os utilíssimos e necessários fins de conservação de gados que matam nos açougues desta vila". Uma cláusula do contrato estabelecia que a área não poderia ser alienada sem expressa autorização de Sua Alteza Real, Dom João VI. Essa cláusula foi que salvou o atual Parque Farroupilha.

O campo se localizava próxima ao portão de entrada da cidade (à direita, na foto, onde hoje existe a Praça do Portão). Abrigava os carreteiros que comercializavam o gado da região. Era chamada de Campos da Várzea do Portão e, depois, Campo do Bom Fim face a proximidade da Igreja do Nosso Senhor do Bom Fim e das festas que ali se realizavam.

Em 1826 foi Dom Pedro I que impediu o loteamento e venda do da área, com o argumentode que se tratava de local para exercícios militares.

Algum tempo depois a área serviu de cenário ao movimento pela libertação do escravos, sendo denominada de Campo da Redenção. Em 7 de setembro de 1884 a Câmara propõe a denominação de Campos da Redenção em homenagem a libertação dos escravos do terceiro distrito da Capital, registrando vitória da luta abolucionista que resultou na redenção de centenas de escravos um ano antes da libertação dos sexagenários e quatro antes da libertação geral do país.

Esse nome permanece na memória dos Porto-alegrenses até hoje. O primeiro ajardinamento ocorreu por ocasião da Grande Exposição de 1901, no vértice próximo a atual Praça Argentina. Nesta época ja existiam na área do Parque a Escola Militar (1872) e a Escola de Engenharia (1896). A valorização do espaço proporcionou a instalação de equipamentos, tais como corrida de cavalos em círculo, circo para touradas e o velódromo da União Velocipédica.

No início da década de 1930, na administração do Prefeito Alberto Bins, foi contratado o arquiteto e urbanista Alfredo Agache para elaborar o anteprojeto de ajardinamento do Campo da Redenção. No dia 19 de setembro de 1935 o Campo da Redenção recebeu a denominação de Parque Farroupilha. São 37 hectares de gramados, árvores e um lago.

Informações do site

http://www.aredencao.com.br/.

VISTA LÁ DO ALTO*

Um ângulo, três momentos





* Título tirado da letra do samba Sei Lá, Mangueira, de Hermínio Belo de Carvalo e Paulinho da Viola.
Vista assim do alto,
Mais parece o céu no chão.
Sei lá,
Em Mangueira a poesia feito o mar se alastrou,
E a beleza do lugar...
Pra se entender,
tem que se achar,
que a vida não é só isso que se vê,
é um pouco mais.
Que os olhos não conseguem perceber,
E as mãos, não ousam tocar,
E os pés, recusam pisar.
Sei lá, não sei,
sei lá, não sei
Só sei que toda a beleza de que lhes falo,
Sai tão somente do meu coração.
Em Mangueira a poesia,
Num sobe e desce constante,
Anda descalço ensinando,
Um modo novo da gente viver,
De pensar e sonhar, de sofrer.
Sei lá, não sei, sei lá, não sei lá,
A Mangueira é tão grande
Que nem cabe explicação.

sábado, 12 de setembro de 2009

HOTÉIS CONFORTÁVEIS


Entardecer em Porto Alegre visto da piscina aquecida do Piazza Navona




Escolher um hotel ou pousada cinco estrelas com diárias de quinhentos reais ou dólares para se hospedar é fácil, desde que você tenha muito dinheiro ou não precise pagar a conta ( estive em alguns, mas sempre como convidado). Complicado é achar um lugar onde se tem todo conforto pagando em torno de  200 reais, fora da alta temporada, claro. É preciso pesquisar, pedir sugestões a amigos, e mesmo assim há um risco enorme de se quebrar a cara. Os sites não são confiáveis - os editores sempre mascaram os defeitos e exageram nas qualidades, e é grande o risco de uma decepção na hora de chegar.

Um bom hotel ou pousada deve ter, pelo menos, boa localização, quartos espaçosos, colchões firmes (os macios massacram a coluna), silêncio à noite (os que ficam em avenidas movimentadas devem ter vidros anti-ruído), ar condicionado ou ventilador de teto, um bom café da manhã e atendimento amistoso.

A primeira pousada em que me hospedei, em Porto Seguro, há 25 anos, tinha apenas o quatro com banheiro e uma pequena varanda com rede. Nada de ar condicionado, piscina. Nem TV ela tinha. Mas foi uma descoberta. Não havia portaria, a chave ficava com o hóspede. O próprio dono , sua mulher e filhos faziam e serviam o café da manhã e providenciavam na troca das toalhas e lençóis. A convivência com eles foi uma lição sobre a Bahia e os baianos.
De lá para cá, as pousadas foram se sofisticando, e oferecem tudo aquilo que existe nos melhores hotéis, com a vantagem de serem pequenas e darem atendimento personalizado. Algumas contam com cozinha completa, TV a cabo e acesso à internet sem fio, sem que isso pese no valor da diária. Vou indicar alguns dos melhores hotéis e pousadas onde me hospedei, e espero que você contribua com outras dicas. Quem sabe montamos um banco de dados sobre pousadas e hotéis maneiros e acessíveis?
Pousada Brisas do Mar, em Floripa

Pousada Arraial Candeias, no Arraial da Ajuda


AS DICAS




Rio de Janeiro
Hotel Atlantis, no Arpoador. Excelente localização, entre Copacabana e Ipanema, tem todos os serviços e é confortável. Da piscina, na cobertura, se tem uma vista da praia, de um lado, e das favelas nos morros, do outro.

Belo Horizonte
Hotel Ibis. A duas quadras da praça da Liberdade, foi construído junto a uma mansão dos anos 50, onde funciona a portaria e o restaurante. O ponto fraco é a falta de aquecimento nos quartos - no inverno faz frio à noite.
Hotel Savassi. O mais chique da belô dos anos 60, ainda conserva o seu charme - tem até pianista no restaurante, à noite.

Porto Seguro
Atravesse o rio Buranhém e se hospede numa pousada do Arraial da Ajuda (neste blog tem um post enorme sobre o vilarejo). Há diárias e opções para todos os bolsos e gostos. A minha dica é a pousada Arraial Candeias, linda, confortável e bem localizada. A piscina é excelente, os apartamentos são amplos e têm ar condicionado.

Florianópolis
Na praia do Campeche, o hotel-pousada São Sebastião da Praia. Localizado perto da praia, a dois quilômetros da avenida Pequeno Príncipe, entre árvores e flores, atrai micos das matas próximas, que às vezes dão shows para os hóspedes. Conta com uma boa piscina e quadra de tênis, e o restaurante funciona para café, almoço e jantar. Há uma academia ao lado, para quem quiser fazer esteira. Os apartamentos são enormes, com quarto e sala (antigamente tinha fogão e cozinha completa) e ar condicionado.

Um pouco mais adiante, no Condomínio Novo Campeche, uma pequena pousada chamada Brisas do Mar é uma pequena jóia. São apenas 10 apartamentos quarto e sala, com cozinha completa, TV a cabo, internet wireless. Não tem piscina, mas para chegar até a praia basta caminhar uma quadra.

Porto Alegre
Todos os hotéis (até o Sheraton) dão bons descontos para quem se hospeda nos fins de semana (sexta-feira inclusive). Sugiro o flat Piazza Navona, localizado na avenida Independência, próximo à João Telles. A piscina aquecida na cobertura faz a diferença.