sexta-feira, 19 de abril de 2019

SEGUNDA PROFISSÃO: TERAPEUTA


Todos temos que ir a um salão de beleza ou ao barbeiro, pelo menos uma vez por mês. As mulheres muito mais: unhas, cabelo, tonalizar, depilar, sempre tem alguma coisa para arrumar.
O salão acaba se tornado um grande consultório onde se fala de tudo, e o cabeleireiro se torna confidente dos clientes, que desabafam sobre seus problemas, reclamam da situação do país, pedem conselhos. Desconfio até que algumas pessoas vão dar um retoque no cabelo para ter com quem trocar ideias. E ter um consulta grátis.
Motoristas de táxi também são psicólogos amadores. É só dar trela para um taxista com alguma quilometragem e ele contará tantas histórias que preencheriam o tempo de uma corrida de 50 quilômetros. Os passageiros mal apertam o cinto de segurança e já começam a desfiar suas agruras, dúvidas, dramas. Mulheres traídas pelos maridos, funcionários demitidos ou simplesmente pessoas que precisam de alguém para ouvi-los, todos têm no motorista um confidente, mesmo que nunca o tenha visto - e não mais o verá.
Lá na década de 70, quando trabalhei no jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre, coloquei dois repórteres a viver a experiência de motorista de táxi por uma semana. O seu dia-a-dia no volante e as histórias contadas pelos outros motoristas renderam excelentes reportagens. 
Mas, mesmo que o paciente seja um parlapatão incontrolável, é bem difícil bater um papo-cabeça com um(a)dentista. 
Deitado imóvel na cadeira, uma luz a ofuscar os olhos, boca aberta com chumaços de algodão entre as gengivas e os lábios, aterrorizado com brocas, agulhas, estiletes e outros instrumentos de tortura, o coitado mal consegue articular respostas como "ahããã", "ão", "á". 
E, terminada consulta, sair dali o mais rápido possível...

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