
Lidar com dinheiro é difícil. Satisfazer necessidades ilimitadas com recursos limitados leva muita gente ao endividamento, a frustrações, a perdas. As reportagens dos jornais e tevês que tentam dar às pessoas orientação para não naufragarem são, em geral, ridículas. De nada adianta um economista engravatado dizer que você compre tudo à vista, econonize para viajar ou faça as compras de Natal em abril. A realidade é bem diferente.
Michael Phillips, 72 anos, foi vice-presidente do Banco da Califórnia e ficou famoso por ter criado o Mastercard. Largou a carreira de executivo financeiro para se dedicar à consultoria financeira pessoal e de empresas, misturando a sabedoria milenar oriental com sua experiência de vida. Em 1974 lançou o livro As Sete Leis do Dinheiro, manual prático para quem não consegue administrar o orçamento. É sério. Não tem fórmulas mágicas, não tem babaquices nem lições de moral. Vale a pena ler. A segunda edição foi lançada de 2008 pela editora Madras.
Aí vai um resumo das sete leis:
Primeira Lei: faça a coisa certa
"Vá em frente e faça o que quiser. Se preocupe com sua habilidade e competências, e não com o dinheiro.
O mais difícil para as pessoas compreenderem sobre o dinheiro é que ele virá a elas se estiverem fazendo a coisa certa. O dinheiro é secundário."
No comovente filme uruguaio "O Banheiro do Papa", baseado num fato real, os moradores de Melo, pequena cidade uruguaia próxima à fronteira com o Brasil, fizeram exatamente o contrário: gastaram o que tinham e o que não tinham na ânsia de ganhar dinheiro extra com a visita do papa João Paulo II, na década de 80. Contavam com os milhares de visitantes que, segundo as rádios locais, viriam para ver o Santo Padre. Foi apenas uma ilusão, que custou caro, pois não fizeram a coisa certa.
Segunda Lei: o dinheiro tem suas próprias regras
"Não seja perdulário, tome muito cuidado, você tem que prestar contas do que está fazendo, nunca ignore o que acontece com o seu dinheiro.Todas as despesas devem ser anotadas, mesmo se você for pobre. A maioria das pessoas inexpefientes comete o erro de esquecer esta regra fundamental, e muitas pessoas sofisticadas também. Os grandes sacerdotes desta lei são os contadores. Eles observam o que está entrando e como é a relação entre receita e despesa, para manter o orçamento em equilíbrio. "
Uma amiga, colega na redação do jornal Zero Hora, conhecida pela firmeza com que lidava com o seu dinheiro, foi "contratada" por um colega para administrar o orçamento dele. Apesar de ganhar um bom salário e ser solteiro, vivia endividado. Em alguns meses, colocou as suas contas em dia, muitas vezes dizendo NÃO quando ele implorava por uma quantia além do que ela determinava para passar o mês. Se você está em dificuldades e não tem um amigo/a assim, faça o que eu fiz há alguns anos: consulte um contador.
Terceira Lei: o Dinheiro é um Sonho
"O dinheiro é, em boa parte, um estado de espírito, muito semelhante aos estados alterados de consciência proporcionados pelo uso de drogas. Ao contrário de um patrimônio, para o dinheiro não há futuro nem passado, só presente. É uma forma de realizar coisas aqui e agora. A pessoa que passa a vida caçando dinheiro está atrás de algo irreal, e acabará com uma existência oca. Minha experiência com pessoas que estabeleceram por meta fazer muito dinheiro é que, quando conseguiram obtê-lo, há muito pouco o que fazer com ele, ou elas se modificaram de tal forma que não são mais o que queriam ser."
Quarta Lei: O Dinheiro é um Pesadelo
"Cerca de 90% dos crimes são cometidos por causa do dinheiro. Pelo menos 80% de todos os crimes consistem em assaltos, arrombamentos, furtos, falsificação. Outros motivos são assassinatos relacionados ao dinheiro. O dinheiro constitui um motivo significativo para que as pessoas estejam na prisão. Provavelmente suas aspirações (a ter $$$) e sua habilidade em acumulá-lo são radicalmente diferentes. Quem comete um crime, com frequência, deseja o dinheiro de um modo tão ardente que se dispõe a correr riscos maiores que a maioria. Alguém apanhado roubando um banco ou uma loja possui uma fantasia a respeito do que o dinheiro pode fazer, e não por estar com fome. O dinheiro é um pesadelo para quem está na prisão como resultado de problemas relativos à forma como tentou obtê-lo."
Quinta Lei: Não podemos, na verdade, dar dinheiro
"O dinheiro é um fluxo que pode ser visto em termos estáticos ou dinâmicos.Em termos dinâmicos, descreve um relacionamento: o emprestador/o que toma emprestado, o vendedor/comprador, o pai/criança. O dinheiro flui em certos canais, como a eletricidade através de fios. Mesmo numa doação, ou um presente, em que não ná retorno monetário, quem doa sempre espera um retorno, mesmo que seja emocional."
Sexta Lei: Não podemos, na verdade, receber dinheiro como presente
"O dinheiro tanto é emprestado como tomado emprestado ou investido. Nunca é dado ou recebido sem queles conceitos implícitos nele. Doar dinheiro requer algum pagamento em retorno. Se não forem reembolsados, os elementos do pesadelo surgem. Lembre-se da Segunda Lei, a qual se aplica também à sexta lei. Quando você obtém dinheiro, deve retribuir algo por isso. O presente em dinheiro não é, na verdade, um presente lógico."
Sétima Lei: Existem mundos sem dinheiro
"Quando você está dormindo e sonha, eis um mundo sem dinheiro. São os mundos das artes, música, poesia, dança, sexo.
Esta lei apresenta uma pequena e irônica distorção, pois o mundo em que vivemos é o mundo do dinheiro, e aqueles que não querem ver isso e negam a função do dinheiro serão, infelizmente, aquelas para os quais o mundo será menos agradável. "
Esta é a minha lei predileta. Curtir um dia de sol, um momento de ternura, o perfume de uma flor, o ar puro da praia ou da montanha. Coisas que não custam nada e dão sabor à vida. Dinheiro é, sim, indispensável. Mas o mais importante é aproveitar o que a vida oferece de bom.
Duas frases geniais:
"Se você alimentar um cão faminto, ele não o morderá. Eis a principal diferença entre o cão e o homem." Mark Twain
"Com um sorriso hei de pagar." De um samba de Noel Rosa