sábado, 13 de novembro de 2010

A CASA DA VÓ DILINA


A foto abaixo, de 1977, é do arquivo do Correio do Povo e foi cedida pelo seu autor, o repórter fotográfico José Ernesto.

Por quase trinta anos, o casarão da esquina da rua Sarmento Leite com a avenida Osvaldo Aranha foi arrendado à viúva Adelina Verissimo Orsini até o seu falecimento, em 1966. O prédio, demolido no final da década de 70, até hoje vive na memória afetiva de seus netos, que lá passaram momentos felizes na infância.


Laís Lobato Heberle no coquetel de lançamento do Centro Histórico-Cultural da Santa Casa de Misericórdia (outubro de 2007)

Passar as tardes com a avó materna Adelina, carinhosamente chamada de vó Dilina, e as tias-avós Ana (Nica) e Ernestina (Titina), que também moravam no prédio, era um dos passeios prediletos da neta Laís, de seus irmãos e primos. Na casa da avó sempre tinha um licor de butiá preparado por ela para oferecer às visitas, algumas delas vindas de Rio Grande, sua cidade natal. De vez em quando aparecia o tio Sady Orsini, advogado, que aproveitava as pausas entre uma audiência e outra para conversar com a mãe, a irmã Suely e as tias Nica e Titina.

Em longo depoimento que deu à Equipe de Pesquisa Histórica da Santa Casa, Laís fez uma viagem sentimental ao tempo em que o casarão, com seus quartos e corredores enormes, reinava majestoso naquela esquina estratégica do centro de Porto Alegre. A seguir, um pequeno trecho:

"A minha avó Adelina Verissimo Orsini morava numa casa da Santa Casa, na rua Sarmento Leite 289, esquina com a Osvaldo Aranha, defronte à Faculdade de Engenharia. No lugar onde era a casa da minha vó hoje é a Faculdade de Medicina e um estacionamento(...). Ela continuou morando lá até 1966, quando faleceu. Aí a casa foi entregue à Santa Casa. Eu ia muito à casa da vó. Casa, não. Na verdade era um quarto, mas era uma casa para a gente. Ela vivia muito bem naquele quarto. Ela tinha um Alvará da Santa Casa que permitia locar outros quartos. Este Alvará ficava na parede do quarto dela. Geralmente ela alugava para estudantes universitários. Tinha uma sacada e era muito organizada, super caprichosa, os guardanapos bordados. Era tudo muito bonito, muito organizado. A gente sempre escutava os sinos da igreja da Conceição.
Aí então era a hora de ligar o rádio da minha tia-avó Nica e escutar a Ave-Maria. Ouvíamos os sinos nesses pátios aqui. Era onde se escondiam os ninhos de Páscoa e a gente tinha que procurá-los. Eram três pátios internos, e o térreo dava para a calçada. A gente era proibida de chegar naquele portão e sair para a calçada; só podia brincar naqueles pátios. Tinha goiabeira... era a maior alegria. Os bondes passavam ali. Lembro que minha vó descia, pegava o bonde na esquina e ia ao Mercado. Tinha na esquina a padaria dos portugueses".


Outros depoimentos:

"Morar nas casas da Santa Casa, na avenida Independência, era a glória. Para mim era um sonho alguém estar ali naquelas casas".
(Dercy Furtado)
"As casas da Independência eram altas. Era assim: tocava a campainha, a gente puxava uma cordinha para não se descer a escada. "
(Cecy Piva)

"Ninguém queria sair das casas porque era um ponto excelente, compreende? E não eram casas caras, e eram muito grandes, dava para muita gente morar."
(Paixão Cortes)

Leia também o post As Casas da Santa Casa, neste blog:
https://clovisheberle.blogspot.com.br/2010/11/as-casas-da-santa-casa_13.html




Um comentário:

Isabel disse...

Lindas lembranças, a casa da vó Dilina deveria ser uma aventura muito boa ir lá, curtir a vó, são lembranças para se guardar para o resto da vida!!