terça-feira, 22 de setembro de 2020
UM PEQUENO GRANDE GESTO
sábado, 15 de agosto de 2020
FUMAR ERA UM HÁBITO
Até a década de 1980, chegar na casa de alguém, sentar e acender um cigarro era tão normal que havia cinzeiros junto às poltronas. Fumar era permitido nos ônibus interurbanos e nos aviões, que tinham cinzeiros acoplados junto aos bancos. Restaurantes e ambientes de trabalho ficavam cobertos por nuvens de fumaça. Campanhas anti-tabagistas tinham poucos resultados diante da publicidade das indústrias de cigarros, que associavam o ato de fumar a charme (havia uma marca chamada Charm), elegância, virilidade (nos homens) e personalidade e sucesso (nas mulheres, principalmente). Foi só depois de um acidente com um avião da Varig perto do aeroporto de Orly, na França, que incendiou por causa de uma bituca de cigarro, em julho de 1973, que as autoridades passaram a se preocupar com as consequências do tabagismo. Fumar nos banheiros dos aviões - onde começou o incêndio em que morreram 123 pessoas - foi proibido, e mais tarde criaram-se as alas de fumantes, como se a fumaça não fosse compartilhada por todos os passageiros e tripulantes.
Com o passar dos anos, aumentou a pressão contra o fumo em locais fechados. A publicidade de cigarros foi proibida, e as carteiras de cigarro passaram a exibir advertências sobre os malefícios do tabagismo. O que antes era um hábito virou um vício. Um vício caro para as pessoas e para o sistema de saúde dos países.
O que era usual se tornou um desrespeito absurdo contra os não-fumantes.
Os cinzeiros agora são objetos de decoração.
terça-feira, 4 de agosto de 2020
CRESCER SEM DESTRUIR
quarta-feira, 22 de julho de 2020
A LONGA VIAGEM DE JOY, O CUSCO DE ESTIMAÇÃO DE ALEXEI ROMANOV
Joy era um cocker spaniel nascido na Inglaterra. Em 1914 foi dado de presente a Alexei Romanov pelo seu pai, Nicolau II, czar da Rússia. Por causa de seu temperamento irriquieto e brincalhão ganhou este nome (alegria, em inglês), e conquistou o afeto do menino de 10 anos, herdeiro do trono russo. Alexei era hemofílico, tinha pouquíssimos amigos, e Joy acabou sendo seu companheiro inseparável.
Na revolução bolchevique iniciada em março de 1917, a família real foi aprisionada em São Petersburgo e enviada para Tobolsk, e depois para Ecaterinburg, na Sibéria. Com o czar, a czarina Alexandra, as filhas Olga, Tatiana, Maria e Anastassia, o médico da familia e três criadas, viajaram para o exílio também os três cachorros.
Na noite de 16 para 17 de julho de 1918, todos foram executados a tiros por soldados do exército vermelho, com exceção de Joy, que estava cego, se assustou e fugiu. Foi encontrado dias depois, vagando pelas ruas, faminto e amedrontado, por um dos soldados que fazia a guarda da Casa Ipatiev, prédio onde os Romanov estavam presos. Com pena, cuidou dele. Pouco tempo depois, tropas do chamado exército branco, organizadas pelos ingleses, invadiram Ecaterinburg. Pavel Rodzianko, um coronel russo que lutava contra os bolcheviques , reconheceu Joy, pois havia servido na guarda do czar. Adotou-o, e quando a cidade foi retomada pelos revolucionários, levou-o junto na retirada.
Na base militar inglesa instalada na cidade de Omsk, Joy reconheceu, pelo faro, Sofia Buxhoeveden, que havia sido dama de companhia da czarina. Começou a pular e correr em torno dela, feliz por ter reencontrado a sua familia. Nova decepção: Sofia não pode ficar com ele, e a retirada continuou até o porto de Vladivostok, onde o coronel Rodzianko embarcou rumo a Londres, levando-o junto.
Na capital inglesa, o russo entregou Joy ao rei George V, primo de Nicolau. O cão foi integrado ao grupo de cães de estimação da família real inglesa.
Passou seus últimos anos de vida tranquilo, no castelo de Windsor, onde foi enterrado, no cemitério de cães da realeza.
A longa viagem de Joy: 9.600 quilômetros, de São Petersburgo até Vladivolstok, no mar do Japão., foi feita de trem, pela ferrovia Transiberiana. A distância é mais de duas vezes a de Porto Alegre a Belém do Pará.
Fotos: Museu Municipal de Zlatoust
Fontes. jornal Siberian Times e site Beyond Russia
terça-feira, 14 de julho de 2020
FRIO RELATIVO, FRIO ABSOLUTO
Noite gelada de inverno. O ônibus da empresa que fazia a linha Porto Alegre-Montevidéu para na aduana brasileira, em Chuí. Os passageiros descem e entram no prédio de porta aberta, com funcionários encarangados de frio. Cumpridos os trâmites burocráticos, voltam rápido para o ônibus, que passa a fronteira e estaciona na frente da aduana uruguaia.
Com a porta fechada e uma lareira acesa, os funcionários estão confortáveis vestindo blusões de lã.
O frio era o mesmo, mas os poucos metros de distância indicavam a diferença com que brasileiros e uruguaios encaravam os rigores do inverno.
Muita gente comenta que adora as baixas temperaturas, apropriadas para um fondue com vinho tinto à beira do fogo, roupas charmosas, um fim de semana na Serra. Há também os que suportam melhor o frio. Para a maioria da população, no entanto, faltam roupas adequadas, as casas não tem isolamento térmico nem aquecimento . Sem falar nos irmãos que vivem nas ruas.
Para estes, o frio é um tormento.
Lar sem teto
sábado, 27 de junho de 2020
ZÉ RAMALHO, O NETO DO AVÔRAI
José Ramalho Neto nasceu em Brejo do Cruz, na Paraíba, mas foi criado em João Pessoa, onde deveria, pela vontade da família, estudar medicina. Mas ele preferiu seguir a vocação do pai, e se tornou um dos mais populares compositores e intérpretes que surgiram no nordeste e conquistaram o Brasil.
Seu talento explode tanto nas melodias como nas letras, poesia pura. Vejam:
"Neblina turva e brilhante
em meu cérebro coágulos de sol
amanita matutina
e que transparente cortina
ao meu redor" (Avôhai)
Zeca Baleiro gravou, em maio de 2014, no teatro Castro Alves, de Salvador, Chão de Giz, um show dedicado a Zé Ramalho, a quem chama de "admirável bardo". É esplêndido, tanto pela interpretação impecável como pelos arranjos. Para ouvir em silêncio respeitoso. E muitas vezes.