sexta-feira, 21 de setembro de 2018

CAMPO GRANDE

CAPITAL COM ARES DE INTERIOR



Até 1977, quando foi escolhida para capital do recém criado estado de Mato Grosso do Sul, Campo Grande tinha 180 mil habitantes. Em menos de 40 anos, sua população pulou para quase 900 mil. Gaúchos, goianos, mineiros, paranaenses, paulistas, paraguaios e bolivianos, entre outros migrantes, mudaram rapidamente  a fisionomia da cidade. Com avenidas largas, parques enormes, moderna e arborizada, Campo Grande tem a sua paisagem recortada por centenas de edifícios recém construídos. Mas é em casas, quase todas com árvores no quintal, que vive a grande maioria dos moradores. 
Situada no centro geográfico do estado,  a meio caminho dos rios Paraná (divisa com São Paulo) e Paraguai (fronteira com o Paraguai), a cidade tem clima de cerrado - seis meses secos, outros seis chuvosos. Em seu aeroporto internacional chegam levas de turistas brasileiros e estrangeiros  ávidos por conhecerem o pantanal e sua joia mais preciosa: Bonito. 
A capital tem uma excelente infraestrutura para o turismo, com bons hotéis, restaurantes e shoppings. 
É uma cidade hospitaleira, jovem, vibrante, luminosa. 








D.PEDRO II PARA PRESIDENTE



O perfil ideal para presidente da República é o de Dom Pedro II: preparado para exercer o poder, austero nos gastos pessoais e públicos, tolerante com os adversários e com a imprensa, excelente administrador, culto, viajante incansável, curioso insaciável , avesso aos cerimoniais e um homem que colocou a paixão pelo Brasil e os brasileiros acima de tudo - até do seu trono. Esta é a imagem que fica do imperador do Brasil de 1840 até 1889 depois da leitura da biografia escrita por José Murilo de Carvalho e editada pela Companhia das Letras.




Para um país traumatizado por uma sucessão de governantes que colocaram seus interesses pessoais e político-partidários acima dos da nação, Pedro de Alcântara representou uma rara exceção. Só Getúlio Vargas conseguiu alcançar a mesma dimensão como estadista.
Aclamado imperador aos cinco anos de idade, após a abdicação de seu pai, que voltou para Portugal, Pedro II passou os dez anos seguintes aos cuidados de tutores que o educaram. Órfão de mãe com um ano de idade e de pai com nove, dedicou-se aos estudos e ao assumir o trono, aos 15 anos, já demonstrava surpreendente habilidade política ao montar um ministério em que mesclava a experiencia com a juventude, a prudência com a ousadia.
O país que herdara enfrentava rebeliões separatistas e problemas políticos, sociais e econômicos agravados por uma década de governos provisórios.
Em poucos anos, o jovem imperador pacificou a nação e organizou o governo. Sua forma de administrar é um exemplo para empresas que se dizem modernas mas que, no fundo, usam, quase sem exceção, a velha técnica do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Como chefe de governo, reunia o ministério diariamente, ouvia os relatos dos ministros, trocava idéias com eles e, muitas vezes, acatava o ponto de vista da maioria. Definia as prioridades e deixava a execução dos projetos a cargo de cada ministro. Visitava obras, escolas e hospitais para conferir se suas diretrizes estavam sendo cumpridas.
Avesso a festas e beija-mãos, reduziu a um mínimo o seu quadro de servidores, e aplicava boa parte dos seus rendimentos em obras sociais. Sustentava cientistas e artistas com bolsas de estudos no país e no Exterior. Suas viagens aos Estados Unidos e à Europa foram custeadas com empréstimos bancários pessoais. A imprensa tinha total liberdade - para ele, os jornais eram as janelas por onde vislumbrava a realidade do país - mesmo quando o atacavam, e à sua família, da forma mais torpe. Era respeitado nos Estados Unidos e na Europa como estadista e como sábio.
Apeado do poder e expulso do país por um golpe liderado por militares, viveu modestamente, em hotéis europeus de segunda classe, até falecer, em 4 de dezembro de 1891, em Paris, aos 66 anos. Duzentas mil pessoas acompanharam o cortejo da igreja da Madeleine até a estação de trem. O corpo seguiu para Portugal, onde foi enterrado. No Brasil, manifestações espontâneas de pesar tomaram as ruas, apesar da hostilidade do governo republicano, que se recusou a decretar luto oficial e nem ao menos mandou representantes ao enterro.
Mas o livro não tem apenas os aspectos positivos da biografia de Dom Pedro II. Revela suas fraquezas, seus amores fora do casamento, a paixão pela condessa de Barral (que durou toda a vida), a condescendência para com a escravidão - à qual se opunha, mas não teve apoio político e coragem de extinguir -, e a sua postura impiedosa na guerra contra o Paraguai. Foi dele a decisão de massacrar o povo paraguaio até o quase extermínio, mesmo depois de Solano Lopez estar militarmente vencido.
Seus acertos, no entanto, superaram em muito os erros. E os governos que o sucederam, marcados pela politicagem, as ambições pessoais e a falta de patriotismo comprovaram a importância que os quase 49 anos do segundo reinado tiveram para o Brasil.
"O problema do Brasil não é a República nem a Monarquia. É a oligarquia absoluta".
Machado de Assis

terça-feira, 21 de agosto de 2018

DE VOLTA AO SÉCULO XIX?


















Uma rua, a dos Andradas, separa os prédios que simbolizaram duas eras no jornalismo gaúcho. Ambos ocupavam uma quadra inteira da rua Caldas Júnior, no centro de Porto Alegre.  O prédio da foto de cima era do jornal A Federação. Fundado  em 1884 e sustentado economicamente pelo Partido Republicano, chegou a ter, na década de 1910, uma tiragem de incríveis 10 mil exemplares.  A redação e as rotativas foram transferidas para a este belo prédio de estilo em 1922, quando foi inaugurado.
A Federação tinha excelentes redatores, os mais modernos equipamentos e era muito bem feito para os padrões da época. Mas, por ser partidário, não tinha credibilidade. Era sempre o porta-voz do partido que o sustentava, assim como dezenas de outros periódicos, criados e fechados ao sabor dos movimentos políticos.  Encerrou suas atividades em 1937, quando a ditadura Vargas extinguiu todos os partidos políticos da época. 











O Correio do Povo, fundado em 1895 por Francisco Antonio Vieira Caldas Júnior, anunciava na capa da primeira edição os seus princípios básicos: estava a serviço dos leitores e de toda a população, sem defender partidos políticos ou governos.  Por cumprir o que prometera, o jornal cresceu rapidamente e se tornou, na década de 1920, o mais importante diário do Rio Grande do Sul, posto que ocupou até a crise econômica que o abateu na década de 1980.
A isenção, a busca da verdade dos fatos, a independência econômica e editorial se tornaram, no século XX,  compromissos de todo o veículo de comunicação que se preze. 
E os jornalistas? 
Até a década de 1960, quando foram criados os primeiros cursos de jornalismo e intensificada a campanha para a regulamentação da profissão,  era normal o jornalista ter outra fonte de renda, quase sempre a principal.  O jornalismo era a "cachaça", onde ele extravasava seus dotes literários, vivia as aventuras da reportagem. 
Com a exigência do diploma para o exercício da profissão, o ensino de jornalismo em universidades e a preocupação das empresas em contratar profissionais de qualidade, esta situação mudou. A independência intelectual,  a ética e a dedicação exclusiva ao trabalho  passaram a ser exigências básicas para exercer a profissão. 
Nada contra um jornalista trabalhar numa assessoria de imprensa de uma empresa, de um governo, de um partido. Mas isto não é jornalismo. 
Nas últimas duas décadas, no entanto, a crise política e econômica que atinge o Brasil e o crescimento da mídia digital têm afetado de forma  cruel as empresas de comunicação.  Jornalistas têm sido despejados às centenas das redações. Sem emprego, partem para outras atividades, se sujeitam a salários bem menores e muitas vezes mudam de profissão para sobreviver.  O Judiciário, ao derrubar a exigência do curso de jornalismo para exercer a profissão, contribuiu para piorar a situação.
O jornalismo militante, em que profissionais e empresas escancaram suas preferências políticas e vêem os fatos sob o viés de suas ideologias,  é cada vez mais praticado.  Com poucos repórteres qualificados,  depois de tantos "passaralhos" para a contenção de custos, as empresas de comunicação se tornaram vítimas das  fake news, que  proliferam nas mídias sociais como ervas daninhas em solo empobrecido. 
Estaremos voltando para o o jornalismo que se fazia no século XIX?  







sexta-feira, 17 de agosto de 2018

ALEMÃO (E JAPONÊS) É TUDO IGUAL...


Durante algum tempo, depois que eu fui trabalhar no jornal Zero Hora, o presidente da empresa, Nelson Sirotsky,  me cumprimentava dizendo "oi, Hélvio".  Achava que eu era o editor Hélvio Schneider, que já trabalhava lá há alguns anos.  Temos a mesma idade,  mais ou menos a mesma altura,  e na época os dois éramos magros.  Acabou notando as diferenças entre nós, talvez por ter nos visto juntos.
Quando ando na rua, é comum me abanarem alegremente me chamando pelos mais variados nomes. Não faço ideia de quem seja, mas sempre sorrio e abano de volta, como se conhecesse. Fazer o que?
Às vezes, quando conheço alguém, vem a pergunta, como no caso da dona de uma geriatria de Mariluz:  "mas você não é o Odacir, lá de Bento?" 
Mesmo explicando que só estive em Bento Gonçalves uma vez na vida, a pessoa custa a acreditar. "Mas é igualzinho ao Odacir, um gringo lá da ferragem". 
Cheguei à conclusão de que alemão (e gringo) é tudo igual. Como japonês. Levo na esportiva. 
Só me incomodei um dia que uma senhora, dona de um mercado onde fui fazer compras, me cobrou uma dívida. "Pô, Sérgio, tu ficou de vir pagar em seguida e nunca mais!", vociferou. Mostrei a carteira de identidade, mas mesmo assim ela continuou desconfiada de que eu era o Sérgio, o sem vergonha que deixou uma conta pendurada e sumiu do mapa...



domingo, 12 de agosto de 2018

MARES BRAVIOS DO ATLÂNTICO SUL




Barra do rio Tramandaí, em Imbé/RS, açoitada pelo vento sudoeste com rajadas de até 90 km/h


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O PASSADO DE PORTO ALEGRE



Com um pouco de imaginação dá para viajar no tempo até o século 19 e desfrutar, de uma dessas sacadas, do pôr de sol no rio Guaíba. Ou de um sarau em que o proprietário desse casarão da rua Riachuelo, o Conde Porto Alegre, recebia seus convidados vestidos a rigor. 

Patrimônio Histórico da capital gaúcha, o prédio, construído em 1830 e comprado pelo governo do Estado do RS em 1930, foi cedido para o Instituto dos Arquitetos do Brasil/RS para a sua restauração. A parte de trás, sede do Instituto, está pronta, mas a fachada continua se deteriorando, à espera de doações.










domingo, 1 de julho de 2018

QUEM PRECISA DE PSIQUIATRA?




"Tu tá achando que eu tou louco?", reagiu um colega de trabalho quando eu sugeri que ele fizesse terapia, se possível com médico psiquiatra. Se ele tivesse aceitado a sugestão certamente teria superado com muito menos sofrimento, os problemas pessoais e profissionais que vinha enfrentando.
Não que encarar um terapeuta seja fácil, especialmente para os homens. Falo por experiência própria. Na minha primeira "temporada", só consegui começar a falar de mim depois de uns seis meses de sessões semanais. Depois fui encarando com naturalidade os questionamentos do psiquiatra. 
Anos depois, nova temporada. Com a ajuda do médico - terapêutica e medicamentosa - consegui juntar os cacos  do que havia se tornado a minha vida. 
Uma sessão por semana era pouco, mas depois de um ano eu já havia conseguido me reorganizar. Até hoje, e já lá se vão 20 anos, continuo a rever o "meu" psiquiatra, e agora amigo, uma vez por mês.  Conversamos sobre viagens, política, vinhos, lembranças e, claro, os meus problemas, que, como os de todo mundo, não são poucos. 
Fico pensando o que teria acontecido comigo sem este apoio. Um profissional preparado, experiente,  pode, com a avaliação correta de uma situação,  fazer com que o paciente mude a rota de sua vida e evite a colisão, um desastre. 
Penso também em tantas pessoas que , com  terapia e/ou medicamentos, poderiam, e poderão,  ter uma vida melhor, muito melhor.