domingo, 26 de fevereiro de 2017

UM PASSEIO POR MONTEVIDÉU




Se você entrar num táxi, ao pedir para o motorista levar a um determinado lugar, ele responder "con mucho gusto",  não se surpreenda. Nem se a balconista da farmácia, na saída, disser "que te vayas lindo". 
 A amabilidade é uma característica dos uruguaios, e uma de tantas razões para visitar Montevidéu, onde o tempo parece passar mais devagar e se pode caminhar pelas ruas e  apreciar suas belezas sem medo. 
As novidades?  
 O temido presídio de Punta Carretas virou um shopping sofisticado;  lojas da ciudad vieja vendem produtos feitos com fibras de cânhamo e outros derivados da cannabis; o novo aeroporto, com sua arquitetura futurista.  
Mas o mais importante é que a cidade continua  acolhedora como sempre. 
Vamos passear juntos?

(clique sobre as fotos para ampliá-las)




De arrojadas linhas futuristas, o novo aeroporto de Carrasco, amplo e confortável, foi inaugurado em 2009. 
    O projeto é do arquiteto uruguaio Rafael Viñoly.





O caminho do aeroporto até o centro da cidade pelas ramblas pode ser mais longo, mas vale a pena. Toda a orla do rio/mar da Prata é urbanizada. São 25 quilômetros de calçadões, com um visual belíssimo.

PLAZA DE LA INDEPENDENCIA



A imponente estátua de  Jose Artigas se destaca na praça, coração da cidade.
 Em torno dela estão a Presidência da República, o Palácio Salvo, a Porta da Cidadela e vários prédios do início do século passado.



O Palácio do Governo mais parece um prédio de escritórios comerciais. Não se vêem guardas nem soldados.


Museu da República, antigo palácio presidencial, 
localizado ao lado do novo 




Solis,  primeiro teatro construído no Uruguai, foi inaugurado em 1856. Depois da independência, em 1830, os estancieiros começaram a enriquecer e a morar em residências luxuosas na capital do país. Sentiam falta de atividades culturais, e um grupo de empresários reuniu recursos para uma empresa destinada a construir um teatro digno de receber orquestras e grupos teatrais da Europa.
O projeto foi um sucesso e o teatro foi acrescido de duas alas laterais.
Em 1930, em dificuldades devido à crise econômica mundial, o teatro Solis, homenagem ao navegador espanhol Juan de Solis, que desbravou o rio da Prata,  foi cedido ao governo uruguaio, que o controla até hoje através de uma fundação.




Na entrada, colunatas gregas e uma imponente luminária de cristais de 350 quilos



 O teatro tem lugar para 1.100 pessoas, na plateia central e os quatro andares. 
As poltronas são forradas de veludo vermelho. 
O Solis, totalmente restaurado, tem visitas guiadas a cada hora.  
Um belo mergulho na história cultural uruguaia.





O Palácio Salvo, concluído em 1928, é um símbolo da prosperidade do Uruguai nas primeiras décadas do século XX.
Tem 95 metros de altura e durante alguns anos foi o edifício mais alto da América do Sul. Está bem conservado e pode ser visitado com guia.  
Em seus 27 andares funcionam escritórios comerciais e alguns são habitados.


Estátua de Jose Gervasio Artigas (1764-1850),  reverenciado como o fundador da nacionalidade uruguaia.
Lutou contra os espanhóis, se destacou nos ataques aos ingleses que invadiram Buenos Aires, mais tarde divergiu dos argentinos, e acabou rompendo  com os líderes uruguaios quando estes pediram a ajuda dos luso-brasileiras para expulsar os ingleses que haviam tomado Montevidéu. Não admitia o domínio argentino nem brasileiro.  Queria um país independente na Banda Oriental. 
Derrotado pelos luso-brasileiros vindos de Rio Grande, que em 1820 ocuparam a região,  refugiou-se no Paraguai, onde viveu recluso até morrer, aos 86 anos.  Só cinco anos depois seus restos mortais foram trazidos para o Uruguai, que então já era a pátria  com que sonhara.




Em 1977,  em plena ditadura militar, foi inaugurado, debaixo da estátua de Artigas na Praça da Independência, um Mausoléu para honrar o Pai da Pátria.  Lá estão as suas cinzas, guardadas dia e noite por dois soldados imóveis, substituídos a cada hora. 
Sobre a urna há um painel com frases do herói exaltando a liberdade e os direitos dos cidadãos. Mas ele só foi colocado lá depois da redemocratização, em 1985. 






A Porta da Cidadela é o que restou da muralha que cercava a Cidade Velha de Montevidéu, demolida em 1829 devido ao crescimento da cidade. 
Ao fundo, a Praça da Independência e a avenida 18 de Julho, 
data da independência uruguaia, declarada em 1830.  


PEATONAL SARANDI




Rua de pedestres (peatones), a Sarandi vai da Cidadela até a ponta do istmo onde nasceu Montevidéu, chamada de Cidade Velha. Repleta de bares, restaurantes e lojas, é passagem obrigatória de turistas estrangeiros. 


 Catedral de Montevidéu, na Plaza de La Constituición,
 a mais antiga e importante da cidade 


La Corte, famoso restaurante instalado num palacete, 
tem mesas no calçadão para quem só quer beber alguma coisa
ou fazer um lanche


Más puro versoCafeteria, livraria e loja de discos,
 num prédio que é uma obra de arte. 

                                                      
Vale a pena conhecer a livraria, nem que seja para tomar um cafezinho e apreciar sua beleza. 


 
  
 O nome do restaurante, Sin Pretensiones, engana. O ambiente,  aconchegante, com quadros e objetos antigos poer todo lado, parece um brechó.  A chef, uma uma jovem chef pós-graduada em restaurantes estrelados de Milão e Paris, é criativa e foge do trivial.  
Para quem quer fazer uma pausa nas carnes vermelhas,  há uma excelente opção no cardápio:  salmão com purê de abóbora. 
Alta gastronomia.      


  

Os pratos são preparados à vista do cliente, na cozinha integrada ao salão - uma coifa potente leva os cheiros para fora.
A temperatura é climatizada, a música ambiente de boa qualidade e os preços razoáveis - um almoço para duas pessoas, com cerveja artesanal, não custa mais de 40 dólares.  
E enquanto a comida não chega, vale a pena olhar os quadros, os livros e os objetos de decoração. Tudo está à venda. 




O MERCADO DO PORTO



A rua que desce da Sarandi até o porto também é fechada para o trânsito de automóveis. 



Policiais fazem as rondas nestes veículos elétricos  



O Mercado do Porto é o maior centro gastronômico da cidade, especializado, claro, nas parrilladas, carnes grelhadas em braseiros.


Onde tudo começou: o mercado e la Ciudad Vieja com seus prédios do início do século XX, quase todos bem conservados

 Voltados para os turistas estrangeiros, estes restaurantes têm preços mais altos que as centenas de outros espalhados pela cidade. Mas não resista à tentação de almoçar aqui. 



Carlos Gardel, garoto-propaganda ...









O porto tem localização privilegiada,
ao abrigo da baía de Montevidéu, no rio da Prata. 







(continua no post abaixo.
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

MONTEVIDEANAS



Rapazes fumam baseados na Ciudad Vieja, divertindo-se com o espanto dos turistas que os fotografam.  Plantar e fumar maconha não é proibido aos cidadãos uruguaios.  A compra de uma quantia considerada como de consumo próprio também será permitida pelo projeto aprovado pelo Congresso, mas ele ainda não foi totalmente regulamentado. Falta definir como será a comercialização, restrita a farmácias autorizadas. 
O presidente Tabaré Vazquez não parece, ao contrário do seu antecessor Jose Mujica, ter pressa em facilitar o acesso à droga. Talvez por ser médico, e saber das consequências do seu uso, principalmente entre jovens.



 Plantas de canabis sativa decoram a entrada desta loja, a 200 metros do Mercado do Porto. Lá dentro,  quase tudo que está exposto é feito com fibras de cânhamo, e o cheiro característico da erva domina o ambiente. Eventualmente o freguês pode ser convidado a compartilhar de um baseado, mas não há o produto à venda.







A maioria dos fregueses são turistas querendo un recuerdo







 

 A partir de 1ª de julho de 2017, cinco meses depois da publicação deste post, a venda de maconha em farmácias foi autorizada.


DA TORTURA AO CONSUMO



O presídio de Punta Carretas, construído em 1910, foi o mais conhecido centro de tortura e assassinato de presos políticos durante a ditadura militar do Uruguai (1973-1985).  
O ex-presidente José "Pepe" Mujica, líder tupamaro, passou mais de 10 anos preso nele.  



Demolido na década de 1990, restou do presídio apenas a fachada. Ele agora é o mais sofisticado shopping da capital uruguaia. 



POR LAS CALLES







Em fevereiro tem carnaval. 
Ao ritmo do murgas e candombes,  18 comparsas de foliões desfilaram pelas ruas Carlos Gardel e Ilha das Flores, na Cidade Velha,  para um público de 20 mil pessoas, com transmissão ao vivo pelas tevês

 
Fotos do jornal El Pais, de Montevidéu




Comparada com as cidades brasileiras, Montevidéu é uma cidade segura. Pode-se caminhar sem medo pelas ruas, admirar seus prédios históricos, sentar num café com mesas na calçada.
 Mas os táxis, para a segurança dos motoristas, têm uma divisória. Os passageiros ficam no banco de trás, apertados, e sem ar condicionado. O pagamento (só em dinheiro) é feito por uma abertura. E a divisória priva o passageiro de conversar com o taxista.
Os carros, em geral, são antigos e mal conservados. 
A exceção é a frota do aeroporto, de confortáveis camionetes Mercedes Benz, com ar condicionado - e sem divisórias.



Contêineres como estes estão espalhados pela cidade. 
Um para lixo seco, outro para reciclável. 




Já não há mais lugar para os apaixonados colocarem cadeados (para depois jogar a chave fora), em sinal de eterna paixão, na fonte do Facal,  o café mais tradicional do centro.




Junto à fonte, dançarinos de tango se apresentam todas as tardes para os frequentadores e para quem passa na avenida 18 de Julho.  Numa das mesas, um Gardel de bronze aprecia o bailado. 



 






Na calçada do café Facal,  uma estatueta de Ghiggia comemorando o gol que deu o título mundial  ao Uruguai, em jogo contra o Brasil na Copa do Mundo de 1950


 









Caminhar pela avenida 18 de Julho até a Intendência (prefeitura) é uma boa maneira de apreciar Montevidéu.  A avenida tem lojas, cafés e belíssimos prédios do início do século passado. 



A Intendência, um dos edifícios mais altos da capital uruguaia, tem um elevador panorâmico para levar os turistas até um  mirante, de onde se vê toda a cidade. 

A programação cultural de Montevidéu é rica, e não pode ser ignorada por quem passa alguns dias por lá. Além do teatro Solis, há o moderníssimo teatro Sodre, na Ciudad Vieja,  com espetáculos de música clássica e popular, óperas e dança. 



DOMINGO NAS RAMBLAS





Do centro da cidade até o bairro Carrasco, ao norte, são 25 quilômetros de praias urbanas. O banho depende da temperatura do ar e da água do rio da Prata. Mas sempre é possível dar uma caminhada, tomar mate, pescar, relaxar num dos calçadões. 


Pocitos, a praia mais frequentada, lembra... Copacabana, claro. 


Cadeirantes têm acesso confortável







Katy Perry vivia na rua.  Depois de adotada, se revelou uma fã da cantora e ganhou o nome dela. "Ela sempre dança quando ouve  uma música da Katy", conta a sua dona e mãe. 
Outra curtição da cachorrinha é tomar banho no rio, para depois se aquecer ao sol. Lembranças dos tempos de gaudéria...








Montevidéu. Cidade de onde se parte com vontade de voltar.





segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O MAIS QUENTE DOS VERÕES




Desde a década de 80, quando passei a vir ao Litoral no verão, não havia sentido tanto calor quanto neste verão de 2017. 
As temperaturas chegaram a incríveis 35, 36 graus, e o vento nordeste não deu as caras.
Mas teve o lado bom. Chove pouco e o mar está numa temperatura agradável. 
A praia tem  ficado cheia até anoitecer. 











quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

SÉRGIO KREPSKY (1943-2016)



As amizades mais sólidas, em geral, são aquelas da juventude. Aquelas besteiras como o primeiro porre, o carro tomado "emprestado" do pai para uma escapada noturna, as paixões compartilhadas em papos segredados, as primeiras viagens. Memórias que permanecem e solidificam a relação, mesmo que se passem anos sem se encontrar.
Com o Sérgio foi diferente: já estávamos aposentados quando nos conhecemos.  Ele e a Malu, amiga e colega de muitos anos,  passavam, como eu e a Lais, a maior parte do tempo na casa da praia, no Imbé, e desde os primeiros encontros já éramos como velhos companheiros. 
Almoços, jantares e visitas se tornaram constantes e prazerosos, na casa deles, na nossa, em restaurantes da região. Discreto,  generoso, bem-humorado, de gosto requintado,  o arquiteto e professor universitário Sérgio Krepsky ganhou,  de nós, o título carinhoso de Conde
Foram poucos anos de convivência, mas nos marcaram profundamente. Uma grande pena que tenha nos deixado tão cedo.

Conde Krepsky,  um ser humano especial.
Um fidalgo, um gentleman, uma alma nobre.



O casal Sérgio Krepsky e Maria Luiza Kruel Borges (Malu) em um de tantos
 momentos de felicidade



terça-feira, 20 de dezembro de 2016

FLAMBOYANTS








Com seu vermelho/coral, os frondosos flamboyants se impõe entre os edifícios do bairro Petrópolis, em Porto Alegre.



domingo, 18 de dezembro de 2016

A LA PLAYA


Porto Alegre, 38 graus à sombra. 
Que maravilha pegar a free-way rumo ao Litoral. 
Sim, as praias gaúchas, com exceção de Torres, não tem encantos como baías e mar de águas cristalinas. Mas a brisa fresca, o ar puro, as noites silenciosas e, de vez em quando, um banho de mar, compensam. 
Tudo a menos de duas horas de viagem.




quinta-feira, 24 de novembro de 2016

INSTITUTO ESPÍRITA DIAS DA CRUZ


ONDE TODA A NOITE É NATAL



Esta cena se repete todos em todos fins de tarde, nos 85 anos de existência do albergue do Instituto Espírita Dias da Cruz. São homens e mulheres que não tem onde dormir, estão cansados e famintos. Seja qual for a razão ou o tempo que necessitarão do abrigo, serão recebidos com um banho, jantar, uma cama e, no dia seguinte, café da manhã. 
Nestas mais de oito décadas de funcionamento, só uma vez, no final de 2009, o albergue, assim como a creche que atende filhos de famílias carentes, esteve na iminência de fechar.   
O Instituto acumulava uma dívida de R$ 90.413,00. A diretoria decidiu apelar para o colunista Paulo Sant'Ana: mandou uma carta relatando o drama que a instituição vivia, e as consequências do fechamento do abrigo para tantas pessoas que tem ali um último recurso para se alimentar não passar a noite na rua.
Sant'Ana publicou a carta em sua coluna no jornal Zero Hora e fez um apelo pedindo ajuda. "Em dois meses a dívida estava paga", conta Eder Cardoso, que naquele ano assumira a direção financeira do Instituto. 
Contabilista, Eder reorganizou as finanças e depois, como presidente, comandou a reestruturação do Dias da Cruz. 
Para sustentar o abrigo e a creche foram criadas várias formas de contribuição, como os carnês para pagamento com código de barras e depósitos com transferências eletrônicas. 
Qualquer doação é valiosa e será aproveitada na manutenção do abrigo e da creche ou para a venda no brechó: roupas, alimentos, material de limpeza e de higiene e tudo aquilo que não é mais usado e ainda tem utilidade. 






Fundado em 1907, o Instituto Dias da Cruz, localizado na avenida Azenha, esquina com a Ipiranga, abriu um albergue em 1942.  Abriga 62 homens e 38 mulheres todos os dias do ano.  
O Instituto oferece atendimento espiritual, vende produtos doados no brechó e tem uma livraria. 
Conta com o trabalho voluntário de quase 800 pessoas, e tem 43 funcionários contratados.




A Escola de Educação Infantil Casa do Pequenino dá alimentação e lazer gratuitos para  120 crianças de 4 meses a 6 anos.
 Muitas mães, em troca, fazem trabalhos voluntários na instituição. 



A caridade é uma das melhores virtudes do ser humano 
e um dos princípios básicos de todas as religiões.