quarta-feira, 17 de julho de 2013

NOS TEMPOS DOS FÓSFOROS

Pode parecer incrível, mas houve um tempo em que fumar (cigarros de tabaco) era usual em qualquer lugar: bares, restaurantes, ônibus, aviões. As casas tinham cinzeiros, porque a primeira coisa que uma visita fazia era acender um cigarro. Depois da decolagem os avisos luminosos de apertar os cintos e não fumar eram desligados e... o avião se enchia de fumaça.
Se você não fumava e o camarada ao seu lado sim, azar o seu. A máxima concessão, estampada nos avisos dos ônibus, era "favor não fumar charutos e cachimbos."
Redações de jornais na hora do fechamento ficavam no meio de smog - nenhum repórter conseguia criar um bom lead sem algumas baforadas. Chefes de reportagem e editores aliviavam a sua tensão fumando um cigarro atrás do outro.
Bares, restaurantes e hotéis de primeira classe ofereciam como cortesia caixinhas de fósforos para seus clientes. Veio desta época, de um passado nem tão remoto, o meu hábito de trazer as caixinhas como recordação de lugares onde passei.

 
Hotéis da Canadian Pacific, construídos ao longo da linha de trens que atravessa o Canadá

 
Restaurantes nota 10: Botufameiro, de Barcelona,  
Botin, de Madrid ( o mais antigo do mundo), 
e La Pizza Nostra, de Santiago do Chile
 
 
Restaurante Vieux Port, de Montreal,
casa de tangos El Viejo Almacén, de Buenos Aires
 e hotel Husa Princesa, de Madri.
 
 
Pronto!
Já posso botar a minha coleção fora...
 
 
 
 
 
 

LAGARTEANDO

Praça da igreja de São José, em Campo Mourão, Paraná

domingo, 14 de julho de 2013

A BELA MARINGÁ


Viajantes de larga quilometragem não precisam mais do que um ou dois dias para sentirem o clima de uma cidade. 
Maringá, a terceira cidade do Paraná,  encanta. É jovem, luminosa, vibrante e rica, grande produtora de milho, soja, cana e outros produtos agrícolas. Entre seus quase 400 mil  habitantes chama atenção a grande quantidade de  estudantes. Há duas universidades: a Unespar, Universidade Estadual do Paraná, e a Cesumar, particular, que mantém uma excelente orquestra filarmônica. 
Cidade-pólo da região noroeste do Estado, é a sede do Instituto Vale da Seda, criado para incentivar a produção e a comercialização de seda natural. Os 29 municípios da bacia hidrográfica do rio Pirapó produzem 92% da seda natural do país, em pequenas propriedades onde os agricultores cultivam amoreiras e nelas os bichos-da-seda. 
 A tranquilidade dos moradores não foi azedada pela insegurança - os índices de criminalidade estão bem abaixo dos registrados no resto do país. Pode-se passear sem medo pelo centro da cidade, um privilégio para quem vive nas metrópoles conflituadas. E não estranhe: a boa educação é outra característica deste oásis de paz e tranquilidade.



Gigante de concreto com 124 metros de altura, a catedral de Nossa Senhora da Glória,  em forma de cone, inaugurada em 1972, se sobressai na paisagem da cidade. É a sua maior atração turística.



Todas as sextas-feiras os alto-falantes da mesquita convidam a comunidade muçulmana para a oração.


As ruas e avenidas, traçadas em 1947 por uma empresa inglesa de colonização - a mesma que fundou as povoações que se transformaram nas cidades do norte e centro-oeste paranaense, entre elas Londrina -  são largas e arborizadas. Têm poucas sinaleiras, pois a maioria dos cruzamentos são rótulas. O trânsito flui sem congestionamentos.



Maringá é uma cidade de ótimos índices de  qualidade de vida. Quase todo o esgoto é tratado,  não há poluição do ar e, acredite: nem favelas. 
Os restaurantes, hotéis e shopping centers têm a mesma variedade e qualidade de qualquer  capital brasileira e o aeroporto, mesmo pequeno, é totalmente satisfatório.
Falta alguma coisa? Sim. Falta um rio, um lago, uma praia. Mas não se pode ter  tudo nesta vida...




sexta-feira, 12 de julho de 2013

PAISAGENS DO PARANÁ





A paisagem nas duas margens da rodovia estadual (duplicada) PR 317, entre Maringá e Campo Mourão, é de  lavouras que se estendem até o horizonte. Pouco depois de Campo Mourão estão as Termas de Jurema, onde a água jorra do solo a 42 graus.







domingo, 30 de junho de 2013

SAT: A GAIVOTA JÁ NÃO VOA EM TRAMANDAÍ


Os sonhadores que, nos anos 1960, idealizaram a sede da Sociedade dos Amigos de Tramandaí, a SAT, voavam alto. Não queriam apenas um lugar onde se encontrar, fazer festas e bailes, mas deixar para as futuras gerações um legado de beleza e bom gosto. O prédio, de estilo modernista, tem formas arrojadas, bem de acordo com o espírito do Brasil daqueles tempos, marcados pelo otimismo, pela certeza de dias melhores.  Refletia a Tramandaí da época: um balneário de poucos e pequenos edifícios e muitos chalés de madeira, onde as famílias passavam as suas férias de verão.



  


  



Construído em estilo modernista, de formas arredondadas, o prédio se tornou um marco na arquitetura da cidade.


  Na foto acima, do arquivo do clube, um baile nos bons tempos


Nos últimos anos, à medida que os costumes mudavam e os espigões se destacavam na paisagem da cidade, a SAT entrou em decadência. Em vez do salão cheio, apenas o silêncio.


 Os sócios, os alunos de natação e os de hidroginástica que frequentavam a piscina olímpica térmica sabiam que a situação financeira da SAT era difícil. A caldeira, aquecida a eletricidade, tinha custo alto e exigia manutenção constante, e as mensalidades, de R$ 60,00, não cobriam as despesas.  No início de 2013, a eleição da nova diretoria,  composta de moradores de Tramandaí e presidida por uma mulher,  deu-lhes um novo alento. Havia a expectativa de uma campanha para a recuperação do mais antigo clube do Litoral, fundado no dia 5 de fevereiro de 1945, com a ajuda da sociedade e do poder público.   








 Pouco tempo depois da posse, começaram os boatos de que parte da sede estava sendo negociada com uma construtora para o pagamento das dívidas. A dura realidade veio na forma de tratores que derrubaram a área onde funcionava a boate. Antes que a gaivota erguida em pedra, o símbolo do clube, viesse abaixo, o Ministério Público pediu e obteve na Justiça o embargo da demolição, questionando o seu valor histórico e os interesses difusos em jogo.
Na primeira semana de  junho de 2013,  os funcionários trabalharam alguns dias sem energia elétrica, cortada por falta de pagamento. Sem saber o que fazer, fecharam as portas.
A gaivota já não voa na Capital das Praias.
 O sonho acabou.


  




A fachada da SAT - ou o que sobrou dela - mostra o abandono da sede do clube,
de portas cerradas desde abril de 2013. 
Uma cena triste de se ver.  


Para ampliar as fotos, clique duas vezes sobre elas





segunda-feira, 24 de junho de 2013

DERECHOS IGUALES

Das poucas palavras da língua quíchua que aprendi nas minhas andanças pelos Andes, em 1972, as primeiras foram cholo/a (índio/a), chumar (beber, se embebedar) e chicha (uma bebida alcoólica caseira feita de milho). E me chamou a atenção que entre os índios otavaleños (da região de Otavalo, no Equador), onde morei com os amigos Pedro Port e Mário André Coelho de Souza por seis meses, é hábito, especialmente nas festas, que as mulheres também bebam. Bebam até cair, se quiserem.
Só que os casais não bebem juntos. Respeitam a máxima: "Cuando índio  chuma, índia no chuma. Cuando índia chuma, índio no chuma".
Víamos, num dia,  um marido completamente embriagado, clamando contra o mundo, contra a  sua mala suerte.  Às vezes xingava a mulher, batia nela, que esperava, resignada, que a raiva passasse. Às vezes  o porre era curado na calçada, ela sentada ao lado, tecendo seus fios de lã, até ele acordar e os dois irem para sua casa, lá nas encostas das montanhas.
Mas o incrível era ver, outro dia,  mulheres no mesmo estado. Gritando, reclamando, batendo nos maridos. E eles também, pacientes, esperando passar o efeito da cachaça de aniz, da cerveja, da chicha.
Entre os otavaleños e outros grupos indígenas andinos as mulheres exercem, há séculos, muitos direitos que só recentemente foram conquistados pelas mulheres ocidentais. Um deles é o de beberem sem serem incomodadas...

Esta poesia, de Pedro Port, é inspirada nas cenas que observávamos da janela da nossa casa:


 
 
 
 
Cholitas otavaleñas no mercado dos sábados.
Outras histórias sobre Otavalo e os Andes estão no blog


sábado, 22 de junho de 2013

LUA NO MAR




O primeiro dia do inverno de 2013 termina com a superlua nascendo no mar do Imbé.