segunda-feira, 24 de junho de 2013

DERECHOS IGUALES

Das poucas palavras da língua quíchua que aprendi nas minhas andanças pelos Andes, em 1972, as primeiras foram cholo/a (índio/a), chumar (beber, se embebedar) e chicha (uma bebida alcoólica caseira feita de milho). E me chamou a atenção que entre os índios otavaleños (da região de Otavalo, no Equador), onde morei com os amigos Pedro Port e Mário André Coelho de Souza por seis meses, é hábito, especialmente nas festas, que as mulheres também bebam. Bebam até cair, se quiserem.
Só que os casais não bebem juntos. Respeitam a máxima: "Cuando índio  chuma, índia no chuma. Cuando índia chuma, índio no chuma".
Víamos, num dia,  um marido completamente embriagado, clamando contra o mundo, contra a  sua mala suerte.  Às vezes xingava a mulher, batia nela, que esperava, resignada, que a raiva passasse. Às vezes  o porre era curado na calçada, ela sentada ao lado, tecendo seus fios de lã, até ele acordar e os dois irem para sua casa, lá nas encostas das montanhas.
Mas o incrível era ver, outro dia,  mulheres no mesmo estado. Gritando, reclamando, batendo nos maridos. E eles também, pacientes, esperando passar o efeito da cachaça de aniz, da cerveja, da chicha.
Entre os otavaleños e outros grupos indígenas andinos as mulheres exercem, há séculos, muitos direitos que só recentemente foram conquistados pelas mulheres ocidentais. Um deles é o de beberem sem serem incomodadas...

Esta poesia, de Pedro Port, é inspirada nas cenas que observávamos da janela da nossa casa:


 
 
 
 
Cholitas otavaleñas no mercado dos sábados.
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