domingo, 24 de outubro de 2021

ZERO HORA - RS 2000

 Numa manhã de março de 1996 o diretor de redação de Zero Hora, Marcelo Rech, me deu uma missão: coordenar a produção de uma série de cadernos que mostrariam o que cada um - sem exceção -dos 563 municípios gaúchos planejavam para o seu futuro.

Saí de sua sala com a sensação de que seria o meu último trabalho na empresa, onde trabalhava há 16 anos. Me parecia quase impossível executar um projeto tão complexo. Mas passei a contratar equipes de repórteres e fotógrafos free lancers, organizar roteiros que cobrissem todo o território do Rio Grande do Sul e estabelecer metas e prazos de produção e edição. As despesas com as equipes e as locadoras de veículos seriam bancadas pelo departamento comercial, na expectativa da venda futura de anúncios.
E os problemas começaram a aparecer: como rodar tantas páginas - cinco cadernos - com antecedência, pois o papel jornal começa a amarelar em pouco tempo? Onde armazená-los e montar a logística de distribuição paralela à de cada edição?
Quem é do ramo sabe que sempre existiu uma divisão muito clara entre as redações e os departamentos comerciais dos jornais - os editores querendo páginas limpinhas para suas matérias e os vendedores loucos para estragá-las com seus anúncios de quarto de página, meia página ou, pior ainda, de página inteira.
Os responsáveis pela impressão e pela circulação também não eram bem vistos, com sua mania de querer fechar a edição no horário previsto, mesmo que estivesse ocorrendo uma rebelião de presos com mortos e feridos na madrugada.
As reuniões com Ricardo Gentilini, diretor comercial, Hermano Thaddeu, do comercial do interior, Régis Zanini, diretor industrial e Christiano Nygaard, diretor de operações da rede de jornais da RBS e coordenador do grupo, se sucediam para montar o quebra-cabeças. Foram estabelecidos prazos e estratégias, num clima de solidariedade e motivação, pois, assim como eu, meus colegas sabiam que o fracasso seria péssimo para todos.
Enquanto os repórteres percorriam as mais remotas bibocas do estado, entrevistando prefeitos, líderes empresariais e da comunidade, vendedores faziam o possível para conseguir anúncios. Foram seis meses de trabalho.
O RS 2000, uma série de cinco cadernos com uma média de 90 páginas cada um, num total de 496 páginas, acabou sendo um sucesso editorial e comercial. A maioria dos municípios nunca tinha recebido a visita de uma equipe de reportagem, e muitos dos prefeitos confessaram que não tinham projetos para o futuro de suas comunidades.
Como não me recordo dos nomes de todos os repórteres, fotógrafos, diagramadores e editores que participaram desta odisseia, não vou citar nenhum deles. Mas quero deixar registrado o meu agradecimento a eles e também aos colegas das outras áreas da empresa que me compreenderam e aturaram.
Foi o meu mais difícil desafio, em 35 anos de trabalho como jornalista profissional.


Um comentário:

Anônimo disse...
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