sábado, 16 de outubro de 2021

MUITO MAIS DO QUE VINGANÇA

 



Nêmesis, deusa da vingança na mitologia grega, é o título do livro de Peter Evans sobre as tramas repletas de intrigas, traições, paixões e ódio que marcaram as relações de Aristóteles Onassis,  Robert Kennedy e Jacqueline Lee Bouvier, depois Kennedy e finalmente Onassis, ou simplesmente Jackie O. 

Resultado de mais de dez anos de pesquisas e centenas de entrevistas na Europa e nos Estados Unidos, o livro de Evans, que além de escritor é repórter investigativo, acaba de vez com a imagem angelical de esposa dedicada e mãe amorosa, e expõe com crueza a verdadeira personalidade da ex-primeira dama norte-americana: uma mulher ambiciosa, promíscua, fria e calculista, que se movia apenas pelo dinheiro.

Jackie teria casado com  John Kennedy porque ele era senador, rico, de uma família poderosa. Depois, cansada das inúmeras traições do marido - uma das suas amantes era a atriz Marilyn Monroe - ela resolveu dar o troco, e engravidou de um ator com quem se envolveu.  O bebê nasceu morto. O casamento chegou a um limite insuportável e ela foi morar em Londres, onde, em companhia de sua irmã Lee Radziwill, uma alpinista social, passava o tempo em festas onde rolava tudo aquilo que você pode imaginar. Joseph, pai de John, convenceu-a voltar para o marido,  então em campanha para a presidência,  mesmo sendo apenas para manter as aparências, pagando a ela em torno de um milhão de dólares. 

As traições dos dois continuaram, e apesar de ser a primeira-dama, Jackie aceitou um convite de Onassis e passou com ele e a irmã, então amante do empresário grego, uma semana a bordo do iate Christina. O cruzeiro rendeu a ela um bracelete de ouro com rubis, com o qual ela se exibiu na volta a Washington. Os dois se tornaram amantes, e anos depois do assassinato do presidente eles acabaram casando, mediante um contrato milionário que garantiria a ela um futuro de luxo. 

Antes de publicar Nêmesis, Peter Evans escreveu a biografia de Aristóteles Onassis. Além de tê-lo conhecido profundamente, em longas conversas, teve acesso à sua família e aos auxiliares mais próximos.  Pode, assim, entender o caráter ambicioso,  encantador, vingativo, rancoroso e inclemente de seu biografado. Um psicopata charmoso e sexualmente insaciável, que comprava a tudo e a todos com seu dinheiro. Odiava  profundamente o armador grego Stavros Niachos, seu maior rival nos negócios, casado com Eugenie,  irmã de Tina, sua esposa. Niarchos foi amante da cunhada e acabou casando com ela depois da morte da irmã, em condições  nunca bem explicadas.

 Odiava mais ainda Robert Kennedy, que como Procurador de Justiça dos Estados Unidos e depois senador colocava toda a espécie de obstáculos às suas atividades empresariais naquele país. Nunca ficou provado, mas os mais de um milhão de dólares em dinheiro que entregou ao grupo guerrilheiro palestino Al Fatah para que os aviões de sua empresa não fossem sabotados teria sido usado para a preparação e execução de Bobby,  que estava em plena campanha para a presidência da república.  Bobby e Jackie tinham um caso antigo, e ela só casou com Onassis depois do assassinato deste em 1968 por um fanático palestino em Los Angeles. 

Entre os personagens secundários desta história que durou mais de 20 anos está Marilyn Monroe, oficialmente morta por overdose de barbitúricos, numa bem articulada ação do governo norte-americano para encobrir os motivos de sua morte, a mando de - ou por - Robert Kennedy. Abandonada por John,  ela ameaçava revelar seu caso com o presidente e teria sido silenciada.  Outra vítima foi Maria Callas, que se separou do marido e encerrou a carreira de cantora lírica para ficar com Onassis mas foi trocada por Jackie. 

O príncipe Rainier, de Mônaco, o ditador do Haiti Jean Claude Duvalier, o rei da Arábia Saudita e muitos outros nomes do noticiário internacional também têm uma participação importante nos negócios, negociatas e trapaças que se sucedem no livro.

Para ler Nêmesis é preciso calma: são muitas informações e revelações, nomes que se cruzam e reaparecem. É como comer uma feijoada completa em pleno calor de 40 graus sem ar condicionado.  

Mas vale a pena, ah vale. 




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