sexta-feira, 23 de agosto de 2019
MORAR NA PRAIA
Muitas vezes amigos que moram em Porto Alegre me perguntam como é viver no Litoral. Às vezes são mais diretos: "como é que você aguenta morar na praia?".
Para eles, acostumados com a cidade grande - vida cultural intensa, bares, restaurantes, shoppings, amigos e familiares por perto e, claro, o brique da Redenção aos domingos -, o litoral gaúcho é quase uma Sibéria: ventos congelantes, frio, umidade e solidão no inverno, vento nordestão, mar gelado cor de chocolate no verão. Nas férias, eles correm para Santa Catarina, com suas belas praias de mar transparente.
Quando eu não tenho tempo ou saco para dar explicações, dou uma resposta curta: "depois de aprender gaivotês e quero-querês fica suportável". Mas em geral eu sou sincero.
A primeira coisa que esclareço é sobre a temperatura. No verão é sempre dois ou mais graus mais baixa, mas no inverno ocorre o contrário: a água do mar absorve o frio, e os termômetros marcam sempre dois ou mais graus acima do que é registrado na capital. Geada ou neve, jamais.
Sim, tem vento e chuva, a grama encharca. Mas pelo menos no Imbé, que por enquanto só tem um edifício, o sol, quando há, seca e aquece.
O Litoral é a região com maior crescimento demográfico no Rio Grande do Sul. A maioria dos migrantes é composta de aposentados. A maior vantagem é econômica. Os imóveis custam menos e tudo é mais barato: um botijão de gás em Porto Alegre custa 84 reais. Em Imbé, de 64 a 70 reais. Um bom restaurante self service, com bufê livre, cobra cerca de 15 reais. Há bons supermercados e mercadinhos, com produtos de qualidade a preços razoáveis - o poder aquisitivo dos clientes contém a ganância dos comerciantes.
O segundo fator é a saúde pública. Os postos de saúde e hospitais da região solucionam até 80 por cento dos problemas dos moradores. Se for algo mais complicado (exames, consultas a especialistas, intervenções cirúrgicas) os pacientes são mandados em ambulâncias ou vans das prefeituras para hospitais de Porto Alegre, com horário marcado.
O terceiro é a segurança. Assaltos e arrombamentos são raros. Pode-se caminhar tranquilamente pelas ruas e na beira da praia. As empresas de monitoramento têm uma importante função de prevenção. Paga-se uma mensalidade, cerca de 120 reais, mas não chega perto do valor de um condomínio num edifício.
Acima de tudo está a boa vida do interior. Nada de trânsito caótico, de estresse. Quando chega o verão, o ritmo aumenta na proporção do aumento da ocupação das casas, e nos finais de ano, no carnaval e nos fins de semana veranistas colorem as ruas e as praias. Mas há lugar para todo mundo, e é a época em que comerciantes faturam e os que querem trabalhar ganham algum dinheiro.
Para quem tem filhos, Imbé conta com uma boa rede de ensino público, estadual e municipal. Se eles gostam de música, podem aprender qualquer instrumento na escola de música do município. O traje oficial por aqui é "à vontade" - abrigo, tênis, bermuda, camiseta. Gravata? Só os pastores...
Dorme-se bem. À noite, o silêncio só é interrompido por algum carro ou moto. As pessoas se conhecem, conversam. A praia fica logo ali, o ar é puro, e não custa nada.
E, quando o tédio e a solidão começam a bater, é só pegar a estrada para rever amigos, fazer compras, comer num bom restaurante, ver um show ou um filme e... voltar.
De vez em quando equipes da prefeitura cortam a grama, limpam as sarjetas e pintam os meios-fios. O lixo é recolhido diariamente, sete dias por semana
Os quiosques da avenida Mariluz
As belas paisagens das lagoas
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