domingo, 17 de fevereiro de 2019

O GABEIRA





Quando, lá nos anos 90, Augusto Nunes, diretor de redação do jornal Zero Hora, me chamou para comunicar que havia contratado Fernando Gabeira para fazer crônicas e reportagens e que eu seria responsável pelos contatos com ele, logo pensei em tantos colegas de trato difícil, com soberba bem maior que seu talento. "Que pepino", pensei.
O temor de desfez na nossa primeira conversa. Ele teria que vir a Porto Alegre para ser apresentado aos novos colegas, e me pediu para se hospedar numapousada modesta, na zona sul da cidade, à beira do Guaíba. Disse a ele que não havia uma pousada assim por aqui. Pensei um pouco e acabei optando pelo hotel Everest, num quarto de andar alto com vista para o rio.
No período em que trabalhamos juntos ele se revelou uma pessoa que, apesar da inteligência brilhante e um senso crítico agudo, demonstrado em seus textos e nas análises do jornal que fazia nas reuniões com os editores, nunca perdia o bom humor e o jeito mineiramente simples de tratar a todos.
Não exigia nada que não fosse ajuda de custo para pagar as despesas. Fazia as próprias fotos e, nas coberturas de eventos no Rio, usava sempre a bicicleta.
Suas pautas eram sempre criativas: descobriu o Jalapão, e fez uma entusiasmada reportagem sobre aquele pedaço de amazônia localizado no Piauí.
Numa tarde de outono ele me contou que a mudança de estação provocou nele uma súbita sensação de melancolia. Pensou um pouco, e descobriu a causa: em seus longos anos de exílio na Suécia, o fim do verão era um período de depressão generalizada. "Mas eu estou no Rio. Que maravilha", e deu uma gargalhada.
Gabeira.
Um cara para se admirar e respeitar.

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