Havia algo diferente no aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, naquela tarde de 3 de dezembro de 2001 quando fui até o balcão da Transbrasil para fazer o check in. A fila era grande, e quando chegou a minha vez um funcionário constrangido explicou que os computadores da empresa haviam sido desligados. Recebi um cartão de embarque preenchido à mão.
O voo até o Rio de Janeiro foi normal, com exceção do serviço de bordo, que não apareceu - naquela época eram servidos almoços, jantares e lanches, mesmo nas rotas domésticas.
No dia seguinte fui marcar o voo de volta, na loja de Ipanema. Estava fechada. Por falta de combustível ( e de dinheiro ou crédito para comprar) nenhum avião da Transbrasil decolou.
Foi o fim de uma das mais simpáticas e arrojadas empresas aéreas do país.
Omar, entusiasta da aviação, foi nomeado presidente e desde então se dedicou completamente à empresa. Com as péssimas estradas da época, levar os produtos de avião se revelou um excelente negócio. Logo outros dois DC3, heróis da Segunda Guerra Mundial, foram incorporados à frota, e também um Curtiss.
Transportar passageiros foi uma evolução lógica, e um ano depois a Sadia já ligava Concórdia e demais cidades do oeste catarinense onde houvesse um campo de pouso - Joaçaba, Chpecó, Videira - a Porto Alegre, Florianópolis e São Paulo.
O transporte de passageiros exigia aviões mais modernos, rápidos e confortáveis. Aviões Dart Herald, turboélices, passaram a operar nas rotas regionais, e os BAC One Eleven, de duas turbinas na traseira, as capitais. Em 1972 a marca Sadia, conhecida pelos derivados de aves e porcos, foi mudada para Transbrasil, e a sede da empresa mudada para Brasília.
Para marcar a nova fase da empresa, os aviões Boeing 727, apelidados de Jatões, receberam pinturas de cores fortes, muito diferentes dos aviões das concorrentes Varig, Cruzeiro e Vasp, que mantinham o design tradicional de branco e azul. A Transbrasil cresceu rapidamente e se tornou símbolo de empresa moderna, simpática.
Era a primeira a comprar ou arrendar os novos modelos de aviões da Boeing. Com o pulso firme de seu presidente, ampliou a sua malha no Brasil e conseguiu a concessão de rotas internacionais - Miami, Nova York, Washington, Viena, Buenos Aires.
Com as sucessivas crises econômicas do pais, a empresa perdeu o fôlego financeiro. Começou a devolver aeronaves arrendadas, cancela encomendas.
Omar Fontana morreu em dezembro de 2000, de câncer de próstata, em São Paulo, um ano antes do último vôo de seus aviões.
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