sábado, 15 de dezembro de 2018

O ÚLTIMO VOO DA TRANSBRASIL






Havia algo diferente no aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, naquela tarde de 3 de dezembro de 2001 quando fui até o balcão da Transbrasil para fazer o check in. A fila era grande, e quando chegou a minha vez um funcionário constrangido explicou que os computadores da empresa haviam sido desligados. Recebi um cartão de embarque preenchido à mão.
O voo até o Rio de Janeiro foi normal, com exceção do serviço de bordo, que não apareceu - naquela época eram servidos almoços, jantares e lanches, mesmo nas rotas domésticas.
No dia seguinte fui marcar o voo de volta, na loja de Ipanema. Estava fechada. Por falta de combustível ( e de dinheiro ou crédito para comprar) nenhum avião da Transbrasil decolou. 
Foi o fim de uma das mais simpáticas e arrojadas empresas aéreas do país.







Em 1955, Attilio Fontana, gaúcho de Santa Maria que se mudou para Concórdia e lá comprou um frigorífico que denominou de Sadia, arrendou um avião DC3 para transportar seus produtos para São Paulo. Seu filho Omar sugeriu ao pai criar a sua própria empresa, e assim surgiu a Sadia Transportes Aéreos. Em 16 de março de 1956 o único avião da empresa, um DC3 , decolou de São Paulo para sua primeira viagem. 
Omar, entusiasta da aviação, foi nomeado presidente e desde então se dedicou completamente à empresa. Com as péssimas estradas da época, levar os produtos de avião se revelou um excelente negócio. Logo outros dois DC3, heróis da Segunda Guerra Mundial, foram incorporados à frota, e também um Curtiss. 
Transportar passageiros foi uma evolução lógica, e um ano depois a Sadia já ligava Concórdia e demais cidades do oeste catarinense onde houvesse um campo de pouso - Joaçaba, Chpecó, Videira - a Porto Alegre, Florianópolis e São Paulo.




O transporte de passageiros exigia aviões mais modernos, rápidos e confortáveis. Aviões Dart Herald, turboélices, passaram a operar nas rotas regionais, e os BAC One Eleven, de duas turbinas na traseira, as capitais.  Em 1972 a marca Sadia, conhecida pelos derivados de aves e porcos, foi mudada para Transbrasil, e a sede da empresa mudada para Brasília. 



Para marcar a nova fase da empresa, os aviões Boeing 727, apelidados de Jatões, receberam  pinturas de cores fortes, muito diferentes dos aviões das concorrentes Varig, Cruzeiro e Vasp, que mantinham o design tradicional de branco e azul. A Transbrasil  cresceu rapidamente e se tornou símbolo de empresa moderna, simpática. 
Era a primeira a comprar ou arrendar os novos modelos de aviões da Boeing. Com o pulso firme de seu presidente, ampliou a sua malha no Brasil e conseguiu a concessão de rotas internacionais - Miami, Nova York, Washington, Viena, Buenos Aires.
Com as sucessivas crises econômicas do pais, a empresa perdeu o fôlego financeiro. Começou a devolver aeronaves arrendadas, cancela encomendas. 
Omar Fontana morreu em dezembro de 2000, de câncer de próstata, em São Paulo, um ano antes do último vôo de seus aviões. 




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