sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

IMBÉ, CIDADE-JARDIM


Abraçada pelas águas das lagoas, do rio Tramandaí e do mar, a praia do Imbé tem uma paisagem diferente daquelas surgidas ao longo do costão de areia entre Torres e Rio Grande. O aspecto urbanístico do balneário também é peculiar: em 1939, dois empresários compraram a área de dunas e banhados onde viviam algumas dezenas de pescadores e contrataram o engenheiro e urbanista Ubatuba de Farias para projetar o novo loteamento.
Professor na Faculdade de Arquitetura da Ufrgs e aluno do Instituto de Urbanismo de Montevidéu, Ubatuba concebeu Imbé como uma Cidade-Jardim, aplicando conceitos do urbanista inglês Ebenezer Howard, para quem era preciso conter a superpopulação, a poluição e a especulação imobiliária, que já no início do século XX assustavam os profissionais da área. A idéia básica era construir cidades que unissem o que havia de melhor no campo (ar e água de qualidade, áreas verdes, produção própria dos alimentos) com o melhor da cidade (oportunidades profissionais, infra-estrutura, opções culturais).

 O novo balneário, essencialmente residencial e destinado ao veraneio, ganhou ruas curvilíneas, tendo como eixo central a avenida Porto Alegre. As disposição das casas, circundadas por áreas verdes, levou em consideração o sistema de ventos, o conforto térmico, a iluminação e a ventilação.
Um loteamento feito com conceitos tão inovadores passou a atrair, a partir da década de 1940, famílias de classe média em busca de uma praia sofisticada e próxima a Porto Alegre. A velha ponte de madeira sobre o rio Tramandaí foi substituída por uma de concreto, e o núcleo inicial do Imbé se expandiu cada vez mais. No início da década de 70, molhes de pedra regularizaram a barra do rio, acabando com o braço morto - uma faixa de areia entre o mar e o leito original do rio, que corria para o norte - e no final da década de 80 o primeiro prefeito do município recém emancipado não resistiu à tentação de construir um calçadão à beira-mar, com a retirada das dunas.
Desde então, os moradores e veranistas do balneário têm lutado para preservar a natureza e os conceitos urbanísticos
 que o tornaram conhecido, cada vez mais ameaçados pela especulação imobiliária, com a conivência das sucessivas administrações municipais. A lagoa junto à avenida Santa Rosa, com as águas do antigo leito do rio, foi conservada e ajardinada, e depois uma dura luta judicial e pelos meios de comunicação as dunas ao norte da avenida Garibaldi acabaram salvas. Obras que deformam a bela margem do rio têm sido embargadas, e o novo Plano Diretor, que permite a construção de edifícios, está sendo contestado na Justiça.
É uma luta que vale a pena. O Imbé (o nome vem de uma espécie de cipó) tem atrativos que mesmo veranistas dos balneários da região não conhecem. Experimente curtir um pôr-do-sol à beira da lagoa, com seus condomínios de luxo voltados para as montanhas, ande pelo entorno da lagoa da Santa Rosa, dê uma caminhada pela beira do rio no início da manhã. É uma praia que concilia a tranquilidade, mesmo nos meses de verão, com a agitação e a infra-estrutura da vizinha Tramandaí.
O sonho de Ubatuba de Farias, de quase 60 anos atrás, se realizou: apesar de tudo, Imbé se tornou uma Cidade-Jardim.


* Publicado no Jornal do Centro, de Porto Alegre, edição de dezembro de 2007

2 comentários:

wcastanheira disse...

Meu caro, bela matéria, história anexa á curiosidades, uma boa e agradável leitura, realmente temos muito de história e cultura na vida mesmo jovem de Imbé e Tramandai, parabéns pelo inteligente texto, um abarço do véio Castanha...

Clovis Heberle disse...

Fico feliz por teres gostado. Vai olhando que tem muita coisa boa no blog.
Obrigado pela visita!
Um abraço