quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

CENAS DO VERÃO 2016

Bem que o seu Antônio, que corta a grama aqui em casa no Imbé, havia me dito: " A crise tá braba. Todo fim de ano eu ganhava mais de 30 garrafas de champanha dos clientes. Neste, ganhei duas."
Este é o verão da comidinha caseira.  Mesmo que os vizinhos tenham chegado com os seus SUVs  e carrões de sempre, a carne de panela,  o risoto de camarão e o peixe ensopado  disputam com a picanha na brasa o cardápio dos veranistas.
 







segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

BOB DYLAN, GENIAL




Most Of The Time

Most of the time
I'm clear focused all around,
Most of the time
I can keep both feet on the ground,
I can follow the path, I can read the signs,
Stay right with it, when the road unwinds,
I can handle whatever I stumble upon,
I don't even notice she's gone,
Most of the time.

Most of the time
It's well understood,
Most of the time
I wouldn't change it if I could,
I can't make it all match up, I can hold my own,
I can deal with the situation right down to the bone,
I can survive, I can endure
And I don't even think about her
Most of the time.

Most of the time
My head is on straight,
Most of the time
I'm strong enough not to hate.
I don't build up illusion 'till it makes me sick,
I ain't afraid of confusion no matter how thick
I can smile in the face of mankind.
Don't even remember what her lips felt like on mine
Most of the time.

Most of the time
She ain't even in my mind,
I wouldn't know her if I saw her
She's that far behind.
Most of the time
I can't even be sure
If she was ever with me
If I was ever with her.

Most of the time
I'm halfway content,
Most of the time
I know exactly where I went,
I don't cheat on myself, I don't run and hide,
Hide from the feelings, that are buried inside,
I don't compromise and I don't pretend,
I don't even care if I ever see her again
Most of the time.
Na Maioria Das Vezes

Na maioria das vezes
Eu sou claro e focado ao redor,
Na maioria das vezes
Eu posso manter os dois pés no chão,
Eu posso seguir o caminho, eu posso ler os sinais,
Permanecer com isso, quando a estrada se desenrola,
Posso lidar com qualquer coisa que eu esbarre,
Nem sequer noto que ela se foi,
Na maioria das vezes.

Na maioria das vezes
Isso é bem entendido,
Na maioria das vezes
Eu não mudaria se eu pudesse,
Posso fazer tudo combinar, posso me segurar
Sou capaz de lidar com a situação até ao osso,
Eu posso sobreviver, eu posso suportar
E eu nem sequer penso sobre ela
Na maioria das vezes.

Na maioria das vezes
Minha cabeça está na reta,
Na maioria das vezes
Eu sou forte o suficiente para não odiar.
Eu não crio ilusões até que isso me adoeça,
Eu não tenho medo de confusão, não importa o quão duro seja
Eu posso sorrir no rosto da humanidade.
Nem lembro como era sentir seus lábios nos meus
Na maioria das vezes.

Na maioria das vezes
Ela nem sequer está em minha mente,
Eu não a reconheceria se a visse
Ela está assim para trás.
Na maioria das vezes
Eu nem mesmo estou certo
Se ela esteve sempre comigo
Ou se eu estive sempre com ela.

Na maioria das vezes
Estou meio contente,
Na maioria das vezes
Eu sei exatamente onde fui,
Eu não engano a mim mesmo, eu não corro e escondo,
Me escondo dos sentimentos, que estão enterrados por dentro,
Eu não me comprometo, e eu não finjo,
Nem mesmo me importo se nunca vê-la novamente
Na maioria das vezes.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

CENAS DO VERÃO 2016

















Imbé

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

PORTO ALEGRE NÃO MERECE ESTA RODOVIÁRIA




Projetada e construída pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), a Estação Rodoviária de Porto Alegre, inaugurada em 28 de junho de 1970, é prima-irmã do Muro da Mauá e do complexo viário da Conceição,  monstrengos de concreto  que mudaram - para pior - o Centro Histórico de Porto Alegre. 
Sua concepção, fruto da mentalidade da época, demonstra a preocupação com o gigantismo (era o tempo do Brasil Grande, do Grande Rio Grande), mas pouca preocupação com o conforto dos usuários: apesar de estar localizada numa cidade sujeita a longos períodos de frio, vento e chuva, ela é toda aberta, como se estivesse num país de clima tropical.  
Os engenheiros do Daer também não se preocuparam com espaços para embarque e desembarque dos passageiros e estacionamento gratuito para quem chega de carro.  
A prefeitura também não ajuda em nada: a sinalização das ruas e avenidas de acesso praticamente não existe, e desde que começou a obra de duplicação da avenida Voluntários da Pátria,  semi-paralisada há meses, é preciso dar voltas para achar o caminho da rodoviária.  
O entorno é feio, e  sair a pé é perigoso - na passarela de pedestres usada para atravessar a rua da Conceição, ladrões se misturam aos vendedores de bugigangas para roubar, especialmente, os recém-chegados do interior. 
À noite, a região é território de assaltantes, traficantes de drogas e viciados. Apesar de estar a 500 metros da Secretaria da Segurança, não há policiamento. 
Um cartão postal às avessas para quem chega pela primeira vez à "capital dos gaúchos".






Sua forma circular, além causar confusão nos passageiros, também dificulta a circulação dos ônibus, especialmente em dias de horários de maior movimento, pois os que estão manobrando para sair dos boxes impedem a passagem dos que estão nas pistas.





Os ônibus circulam pela parte interna da estação, com boxes de embarque e desembarque dos dois lados



Na pressa de embarcar, estas pessoas preferem se arriscar atravessando a pista dos ônibus a dar a volta até o box. Não há  divisórias, sinalização nem controle.



A espera do embarque tem pouco espaço e bancos de madeira insuficientes. A maioria espera em pé, mesmo. Em dias de chuva e vento, o desconforto é ainda maior.





Nestes 45 anos de concessão, sempre renovada sem licitação, a empresa que administra a rodoviária fez algumas melhorias, especialmente no setor de venda de passagens, mas as velhas lâmpadas fluorescentes e as caixinhas que indicam o número do box, de difícil visualização, continuam lá, para comprovar como ela é antiquada. 
Quem precisa fazer uma refeição só encontra lancherias com acomodações precárias e cardápios à base de salgadinhos, pastéis e a la minutas. A única churrascaria que funcionava na estação foi fechada, depois de varias interdições por falta de higiene. 
Os banheiros, mesmo os pagos, dão nojo. 
Porto Alegre merece uma rodoviária melhor. 
Muito melhor. 


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

NÃO ESQUEÇAM DE MIM!




É só ver uma movimentação para viagem e o Lord pula para dentro da mochila. 
Será que ele tem medo de ser esquecido?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

LOUCURA NÃO É MOTIVO DE ORGULHO



                                                   Edvard Munch, O Grito


A geração que foi jovem nos anos 60 e 70 - a minha - ficou marcada por filmes, reportagens e livros que retratavam os tratamentos cruéis a que eram submetidos os doentes mentais, confinados em manicômios.
 No filme italiano "Este Mundo é dos Loucos", dirigido por Phillippe de Broca, de 1966, a população de uma pequena cidade foge quando o exército alemão se aproxima, na primeira  Guerra Mundial, e os loucos do manicômio local aproveitam para sair e ocupar os prédios desertos. Mas a festa dura pouco: logo chegam as tropas de normais em guerra, e eles acabam voltando e fechando o portão que os separa do mundo exterior.
 Em "Um Estranho no Ninho", filme de 1975 dirigido por Milos Forman, um prisioneiro - o ator Jack Nicholson - se faz de maluco para sair da cadeia e não precisar trabalhar, e é mandado para um hospital psiquiátrico. Lá ele lidera uma rebelião dos internos contra as normas rígidas do lugar, mas acaba se dando mal. O drama é uma oportunidade para denunciar terapias desumanas como os choques elétricos e a lobotomia. 
Machado de Assis, no conto "O Alienista", usa toda sua ironia na história de um médico para quem todos os moradores da cidade - exceto ele, é claro - eram loucos e tinham que ser internados numa casa que ele mandara construir para isso. 
Em 1974, para fazer uma reportagem, o repórter Sérgio Caparelli foi internado no hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, como se tivesse tido um surto psicótico, e escreveu uma chocante série de relatos no jornal Folha da Manhã sobre a rotina de violência e humilhações dos cinco mil internos. 
A mudança na forma de encarar os doentes mentais pelo poder público coincidiu com a redemocratização do país, no final dos anos 80. Associações de médicos, militantes de Organizações Não-Governamentais e políticos de partidos de esquerda se engajaram na luta anti-manicomial, com o objetivo de tirar os doentes mentais dos hospitais psiquiátricos. 
O problema é que não basta jogá-los na rua. É preciso criar alternativas de acompanhamento para que não fiquem à própria sorte, pois muitos não contam nem mesmo com famílias dispostas a cuidar deles. 
 Há alguns anos,  dezenas de internos que ainda moravam no hospital  São Pedro foram liberados. Alguns foram acolhidos por instituições de caridade, mas a maioria morreu de fome, de frio ou de doenças. Outros tantos ainda vagam pelas ruas, catando restos de comida, dormindo debaixo de marquises.  
Hoje em dia, são raros os casos de internação por longos períodos. Novos medicamentos, mais eficazes e com menores efeitos colaterais, foram incorporados ao tratamento de doentes mentais, permitindo que a maioria deles possa ter uma vida relativamente normal, desde que aceitem tomar diariamente os remédios prescritos pelos médicos. Mas ainda há muito, muito mesmo, a fazer, especialmente por aqueles que não contam com pais, parentes ou amigos com vontade ou  condições econômicas de pagar terapias com psiquiatras e, quando entram em surto, internações em clínicas. 
 Há preconceito, medo e muita rejeição aos "loucos".  Ter um irmão, um filho, um pai ou uma mãe esquizofrênico, bi-polar ou psicopata, sujeito a mudanças de humor, agressividade e todo tipo de mania, como esbanjar dinheiro ou não tomar banho, é uma causa de traumas.  Doentes sem cura, eles destroem as relações familiares. 
A rede de saúde pública mal dá conta dos portadores de doenças físicas,  que dirá para os doentes mentais.  Se um esquizofrênico tem uma faringite e é levado para um posto de saúde,  tem que se submeter ao mesmo ritual burocrático dos demais. E se, impaciente, reclamar da demora, corre o risco de acabar numa delegacia de Polícia por perturbar a ordem. Há os CAPS - Centros de Atendimento Psico-Social, mas eles estão longe de ter condições de acolher doentes e apoiar seus familiares. 
A inclusão da Parada do Orgulho Louco de Alegrete no calendário de eventos oficiais do Rio Grande do Sul  pode ser mais uma etapa na luta pela humanização do tratamento da doença mental, mas há um risco: de que proliferem por aí "paradas" caricatas,  protagonizadas por pessoas interessadas em sua promoção pessoal e/ou com objetivos políticos, mesmo que as intenções dos organizadores sejam as melhores.  
 Por isso, o governo do Estado poderia ir além: instituir um dia de defesa do doente mental, dedicado à discussão de medidas concretas para melhorar as suas condições de vida
Loucura não é motivo de orgulho. 
É um assunto muito sério para ser levado na brincadeira. 


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

AMARGO RIO DOCE


Carlos Drummond de Andrade publicou em 1984 este poema profético:

LIRA ITABIRANA


O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos

Sem berro?



A mesma indignação que os brasileiros sentem hoje, ao constatar que as mineradoras, década após década, exploram o subsolo de Minas Gerais e outras regiões do país preocupadas unicamente com os seus lucros, mesmo que isto possa causar "acidentes" como o de Mariana, senti ao visitar Potosi, na Bolívia, em 1972.O relato está no blog 


http://umabandapelosandes.blogspot.com.br 


Lágrimas de Prata 




"En Potosi solo tenemos dos estaciones: el invierno y la estación del tren..."

É com esta frase, seguida de uma gargalhada, que os moradores da cidade costumam descrever o seu clima. Apesar de estar situada na mesma latitude de Belo Horizonte, em Potosi os termômetros raramente marcam mais de 20 graus, mesmo no auge do verão, por ser uma das mais altas cidades do mundo – fica 4 mil metros acima do nível do mar.
Ao chegar lá, eu já havia me acostumado com o ar rarefeito do altiplano. Meu choque foi outro: ver de perto um dos mais emblemáticos exemplos da rapina de um país cujas riquezas foram saqueadas enquanto quase toda a população, de absoluta maioria indígena, permaneceu, século após século, na extrema pobreza.
Fomos contratados para nos apresentar durante as tardes, nos intervalos entre uma e outra sessão do cinema local. O dono do cinema nos cedeu um quarto ao lado da sala de projeção para dormirmos. Enquanto os filmes rodavam, aproveitávamos para conhecer a cidade que, entre os séculos 16 e 18,  contribuiu para sustentar o império colonial espanhol e a renascença européia. Calcula-se que, apenas do Cerro Rico, morro que se sobressai na paisagem da cidade, foram retiradas 56.000 toneladas de prata, suficientes para ligar Potosi a Madri. As mineradoras continuaram em atividade até 1985,quando as minas, exauridas, foram praticamente abandonadas, deixando a maioria dos seus 120 mil habitantes da cidade sem trabalho.




A primeira impressão que se tem do Cerro Rico é de um imenso queijo cheio de buracos,  de cor avermelhada, pois nada cresce nas encostas. Visitar suas minas é um passeio obrigatório. Ver o que restou delas, e o contraste entre o quanto foi retirado e a miséria do entorno, dá vontade de chorar.
Apesar de seu aspecto desolador, o cerro ainda provoca cobiça: com as modernas técnicas de mineração, é economicamente viável extrair a prata remanescente nas suas rochas, moídas por máquinas de grande capacidade de produção. Ao fim do trabalho, nada mais restaria desse monumento ao colonialismo selvagem. Numa recente pesquisa de opinião promovida pelo governo sobre esta possibilidade, a população manifestou uma opinião unânime: prefere deixar o cerro como está, pois nada teria a ganhar com a sua exploração.
O centro histórico também tem corrido riscos. Seus prédios coloniais, quase todos em mau estado, ainda dão uma boa ideia do antigo esplendor do período colonial , quando era uma das cidades mais importantes e populosas do mundo. Considerada patrimônio histórico mundial pela Unesco, Potosi tem resistido às tentativas de governos e grupos econômicos interessados em demolir a área urbana para explorar o seu sub-solo, onde ainda há minerais valiosos.
Um dos poucos prédios preservados do Centro Histórico, o museu onde funcionava a Casa da Moeda, é outro símbolo do barbarismo espanhol. Era ali que a prata das minas era transformada em lingotes e moedas para abastecerem o império. 

Os indígenas eram usados como tração animal para movimentar as máquinas. Empurravam alavancas andando em círculos, como os bois nas antigas moendas. Quando desfaleciam, eram retirados e substituídos. Sulcos circulares nas pedras onde pisavam ficaram como marcas de tantos anos de trabalho. 
Nas minas, as jornadas se estendiam do amanhecer até a noite. Sem ver a luz do sol, mal alimentados e respirando ar rarefeito e contaminado, morriam em poucos meses. Em 1638, o frei Antonio de la Calancha escreveu que cada moeda de um peso custava a vida de 10 índios.
Nas ruas de Potosi, conversando com os descendentes destes quíchuas, concluí que a vida deles não melhorou muito de lá para cá. Mascam folhas de coca o dia todo para "quitar el hambre", bebem álcool puro para aliviar o frio depois deixá-lo queimar um pouco baixar o teor alcoólico e vagam pelas montanhas, sós ou em grupos, em busca de algumas gramas de prata que tenham escapado de cinco séculos de pilhagem.