segunda-feira, 11 de junho de 2018
sexta-feira, 25 de maio de 2018
RECICLE, DOE, PENSE NO PLANETA
A mensagem "Quando não mais necessitar, doe", escrita em português, espanhol, francês e inglês, está na etiqueta de uma jaqueta jeans da Levi's. Por incrível que pareça, de uma empresa dos Estados Unidos, o país que mais desperdiça, polui, consome energia e água no mundo.
Valeu o toque.
Você, que tem roupas que já não usa, doe.
Não jogue fora. Doe.
Sempre há quem necessite.
Leve a um albergue, uma igreja, um asilo.
Recicle.
quarta-feira, 23 de maio de 2018
domingo, 13 de maio de 2018
AS IRMÃS ROMANOV
DE CONTO DE FADAS A TRAGÉDIA
Era uma vez...
Olga, Tatiana, Maria e Anastácia, quatro irmãs lindas, generosas, compreensivas, que se amavam e eram amadas pelos pais. Tinham o título de Grã-Duquesas por serem filhas do tsar Nicolau, da Rússia. Durante a maior parte de suas vidas viveram em palácios, passavam os verões bordo de um dos iates imperiais navegando, com a família, pela costa recortada da Finlândia ou na ensolarada Crimeia. Como num conto de fadas.
Só se queixavam do isolamento em que viviam, em parte por causa das preocupações do pai com sua segurança, mas principalmente devido à sua mãe super protetora, a imperatriz Alexandra, neta da rainha Vitória, da Inglaterra. Conservadora e religiosa, não queria que as filhas se contaminassem com o ambiente decadente e corrupto da realeza russa.
O nascimento do tão esperado irmãozinho, o príncipe Alexei, sucessor do pai no trono, reservado apenas a homens, também acabou sendo um motivo de transtornos e preocupações para as irmãs. Hemofílico, o tsarévitch precisava de cuidados constantes, e as crises frequentes abriram caminho ao convívio com o monge Rasputin, único, aparentemente, a conseguir aliviá-las. Visto como charlatão e coisas piores, atraiu a ira de boa parte da sociedade e da nobreza para a família real.
A eclosão da primeira guerra mundial, em que a Rússia, solidária com a França e a Inglaterra, enfrentou a Alemanha, mudou radicalmente esta doce vida que levavam. As mais novas ainda não tinham chegado à adolescência em 1914 quando passaram a dedicar-se, em tempo integral, assim como a mãe, a trabalhar como enfermeiras, cuidando dos soldados feridos.
A guerra foi duplamente desastrosa para o tsarismo russo: no campo de batalha, multiplicavam-se as mortes e as derrotas diante de inimigos muito melhor preparados. Internamente, agigantava-se a revolta do povo contra uma nobreza decadente e insensível diante de seus sofrimentos, e um imperador que teimava em governar com poderes absolutos.
Os revoltosos acabaram obrigando Nicolau a abdicar, e a família foi mandada para uma longínqua cidade da Sibéria. Com os bolcheviques no poder, o último ato: depois de passarem por todo o tipo de humilhações, as quatro irmãs foram fuziladas em 17 de julho de 1918, no porão da casa onde estavam presos em Ecaterimburgo, no Urais, junto com seu irmão mais novo Alexei, que seria o herdeiro do trono, os pais e os poucos criados que permaneceram leais a eles. Olga, a mais velha, tinha 22 anos. Anastácia, a mais nova, 17.
As biografias das irmãs Romanov são contadas com riqueza de detalhes e um texto impecável pela escritora inglesa Hellen Rappaport no livro As Irmãs Romanov, A Vida das Filhas do Último Tsar.
Hellen e uma grande equipe fizeram uma pesquisa gigantesca para revelar todos os fatos conhecidos sobre o dia-a-dia das irmãs, seus pais, parentes e as pessoas que os cercaram. É também um excelente relato daqueles anos turbulentos que acabaram com 300 anos da dinastia Romanov e o surgimento da União Soviética.
São 523 páginas que se lê de um fôlego só, mesmo que já se saiba qual o final de uma das histórias mais impressionantes - e trágicas - do início século XX.
quarta-feira, 2 de maio de 2018
LEÔNCIO LOBATO NETO (1944 - 2018)
Meu cunhado Leôncio Lobato Neto, irmão mais velho de suas seis irmãs, era um garoto que amava os Beatles, Elvis, os Platters, Los Cinco Latinos, carrões americanos dos anos 60, o Inter, o Santos, Fluminense.
Viveu a vida como se tivesse sempre 16 anos - los dulces dieciseis.
Faleceu aos 73 anos, no dia 29 de abril de 2018, de insuficiência renal aguda, no Hospital Tramandaí. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Imbé.
Deixa saudades, e uma bela coleção de discos.
De vinil claro.
Renato e seus Blue Caps, Sarita Montiel, Ray Conniff, Platters. Mais de 300 discos que marcaram uma época.
Uma excentricidade do Leôncio: adotou o codinome de Telmo Haroldo Lima
Um passeio: com a Lais na ponte pênsil de Torres ...
no restaurante do hotel Farol,
na sede do clube União da ilha do Pavão, em Porto Alegre, com a irmã Lais e a sobrinha Tatiana,
e num passeio de catamarã no rio Tramandaí, em Imbé.
Amigos para sempre: Robson Martelet e Solange Berto, na praia do Quintão (ao fundo, sua irmã Lais). Desde que sua mãe foi para uma geriatria e o Leoncio ficou morando sozinho, Robson vinha pelo menos uma vez por semana até o Imbé para cuidar dele.
Dario Júnior, um amigo que nunca deixou de telefonar ou
visitá-lo.
Um vôo: a bordo de um avião DC3 do Aeroclube do Rio Grande do Sul. Decolou do aeródromo de Belém Novo e sobrevoou Porto Alegre. As aeromoças estavam vestidas como nos tempos da Varig dos anos 60.
Antes da decolagem, um brinde com espumante.
Chegando para uma visita na nossa casa, na rua Santos Neto, em Porto Alegre.
Em sua casa, na rua Bom Jesus, Imbé
Rodrigo Lobato Duarte, sobrinho do Leôncio (e meu) definiu muito bem quem era ele. O post é do facebook do Rodrigo:
Então você se foi,...
Não tem nem uma semana da perda da Laila (a cachorrinha), agora quem vai é você, que do seu jeito malukinho de ser me ajudou a crescer. Toda vez que eu chegava botava umas 15 camisas de times diferentes por nunca lembrar qual era o meu depois tirar uma por uma até eu falar é esse que eu torço,....
Sempre preocupado que eu era magro fazia batida de banana, me "Zoava" por ainda mijar na cama, era o único em quem eu confiava para tirar meus "bixos de pé ", inventou um carrinho no fundo do quintal que fazia pipoca, cachorro quente e outras coisas antes do food-truck existir, quintal esse que quando anoitecia a gente tinha medo de ir para não levar bronca ao lhe acordar. Porém você acordava a gente cedo 6 da manha ou com seu vozeirão ou com o som dos discos de vinis - Los Hermanos, The Platters, Elvis Presley - não é pra qualquer um.
Com você aprendi a gostar de carros antigos antes de virar moda em sobrenatural, eu já curtia o Impala ... e como esquecer do Dodge Dart que andava até com óleo de cozinha ?
Muitas historias boas suas ficam para contar, boa sorte no lado de lá.
Hoje eu perco um Tio porem o céu ganha um grande homem !
Sempre preocupado que eu era magro fazia batida de banana, me "Zoava" por ainda mijar na cama, era o único em quem eu confiava para tirar meus "bixos de pé ", inventou um carrinho no fundo do quintal que fazia pipoca, cachorro quente e outras coisas antes do food-truck existir, quintal esse que quando anoitecia a gente tinha medo de ir para não levar bronca ao lhe acordar. Porém você acordava a gente cedo 6 da manha ou com seu vozeirão ou com o som dos discos de vinis - Los Hermanos, The Platters, Elvis Presley - não é pra qualquer um.
Com você aprendi a gostar de carros antigos antes de virar moda em sobrenatural, eu já curtia o Impala ... e como esquecer do Dodge Dart que andava até com óleo de cozinha ?
Muitas historias boas suas ficam para contar, boa sorte no lado de lá.
Hoje eu perco um Tio porem o céu ganha um grande homem !
Sad !
Além da música e dos carrões, Leoncio adorava jogar snooker. Fazia suas próprias mesas.
Nesta foto, de 1974, no quintal da casa da família na rua Faria Santos, com as irmãs Elaine e Lais e o pai, Leoncio Lobato Júnior.
Nesses 50 dias em que estive todos os dias no Posto de Saúde do Imbé e, depois, no hospital Tramandaí acompanhando o Leoncio, aumentou meu respeito e admiração pelo profissionalismo e dedicação dos médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem.
Um exemplo: a Duda, técnica de enfermagem encarregada da hemodiálise na UTI do hospital Tramandaí, notou que ele estava muito tenso. Perguntou para mim se gostava de música e que tipo de música. Falei nos Platters, e ela buscou no seu smartphone. Em segundos achou a música "Only You". Ele sorriu e relaxou.
Mesmo estando no isolamento da UTI, pode continuar ouvindo suas músicas, que gravei num pen drive, com a autorização dos médicos.
Naquele ambiente branco e silencioso onde o limite entre a vida e a morte é muito tênue, os médicos e as equipes de enfermagem foram sempre cordiais com os parentes e amigos dos doentes, dando informações sobre o estado de saúde deles. E ao Leoncio, que passou mais de um mês na UTI, dedicaram atenção especial. Foi tratado com respeito e carinho.
Obrigado, muito obrigado, pelo que fizeram por ele.
"A flor que depositais sobre o meu túmulo murcha;
a lágrima que derramais com minha lembrança se evapora;
porém, a oração que por mim elevais a Deus penetra nos céus
e se converte em abundantes graças..."
domingo, 8 de abril de 2018
CRÔNICAS HOSPITALARES
Amanhece no Posto de Saúde 24 Horas de Imbé. A emergência ainda está vazia, e nos leitos estão apenas os pacientes baixados na véspera. Mas esta calma é aparente: a qualquer momento pode se tornar uma correria frenética. Uma rotina em quatro dos cinco dias em que "morei" lá, acompanhando um familiar.
Mas naquela sexta-feira, 16 de março, a "hora do pique", como se diz nas redações de jornal,- durou o dia inteiro e parte da noite. Eram homens, mulheres e crianças com entorses, infartos, queimaduras, falta de ar, ferimentos a faca e a bala. As ambulâncias saíam e voltavam, com os socorristas abrindo caminho entre as pessoas que esperavam atendimento. Três pessoas, em estado gravíssimo, foram transferidas para o hospital de Tramandaí.
Os dois médicos, a enfermeira e os quatro técnicos em enfermagem não paravam um instante, percorrendo cada uma das camas. No fim da tarde não havia mais nem cadeiras disponíveis para acomodar os pacientes, alguns deles chorando de dor, e os acompanhantes foram convidados a sair da sala da emergência para dar lugar a quem chegava.
Foram 12 horas de tensão, em que a equipe de plantão só parou por alguns minutos para um lanche. Mas no final, tudo deu certo. Médicos e a equipe de enfermagem trabalharam em harmonia, quase sem se falar, encarando com naturalidade, sem queixas ou discussões, os desafios de uma estrutura modesta em um prédio simples.
Os pacientes - sem exceção - foram tratados com respeito e carinho. E os "muito obrigado" se repetiram, ditos com gratidão por cada um que, com um sorriso e um aperto de mão, recebeu alta.
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Os Postos de Saúde municipais atendem todo o tipo de doentes. A maioria dos casos são resolvidos ali mesmo - o posto de Imbé tem equipamentos de raio-X, e os exames de sangue são feitos por um laboratório local, num tempo médio de um hora. Se for necessário um especialista, é marcada uma consulta, que pode ser num dos postos do município ou, dependendo da complexidade, num hospital de Porto Alegre. Nesse caso, caminhonetes da prefeitura levam os pacientes e os trazem de volta. Geralmente uma van sai de manhã e volta no início da tarde, e outra sai à tarde e volta à noite.
Os pacientes internados são transportados de ambulância. Em cada região há hospitais de referência para exames, cirurgias e tratamentos sofisticados. Exemplo: em Osório há, no hospital São Vicente de Paulo, uma clínica de hemodiálise. Doentes renais de toda a região - Mostardas, Tavares, Cidreira, Pinhal - fazem seu tratamento lá. São trazidos em carros ou ambulâncias da prefeitura. O hospital de Tramandaí recebe acidentados e doentes graves do Litoral na sua emergência e UTI, inclusive neonatal, e está equipado para vários tipos de cirurgias.
Ninguém paga nada por isso. Toda esta complexa estrutura, chamada pejorativamente de ambulancioterapia, mas que funciona, é custeada pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. O médico Dráuzio Varella qualificou o SUS como a maior revolução da história da medicina brasileira.
Quem conhece o sistema só pode concordar.
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Nos quartos de hospitais ninguém pode ficar sem acompanhante. Se o doente é internado sozinho ou trazido por uma viatura da Brigada Militar, em caso de acidente ou ocorrência policial, o Serviço Social da prefeitura entra em ação até achar algum parente ou amigo que se responsabilize por ele.
Nos hospitais mantidos pelo SUS, como o de Tramandaí, administrado pela Fundação Hospitalar Getúlio Vargas, os acompanhantes são chamados de cuidadores. Além de fazer companhia para o doente, eles assumem tarefas da equipe de enfermagem: ficam atentos às mudanças no seu estado, controlam o nível dos medicamentos intravenosos, ajudam a fazer a higiene. Buscam ajuda se for necessário.
Com o passar dos dias - e noites -, se tornam conhecidos do pessoal da enfermagem e dos companheiros de quarto - quase todos têm duas ou três camas. Como não podem dormir, se acomodam nas suas cadeiras de praia, trazidas de casa. Podem ser identificados na entrada do hospital pelas sacolas com cobertores e travesseiros, além da aparência cansada.
Quase sempre os cuidadores são maridos, esposas, irmãos, filhos ou netos dos internos. Quem pode recorre a profissionais, que cobram em média R$ 100,00 por turno de 12 horas, mas isto é raro.
Nas famílias unidas e/ou numerosas, a escala é dividida entre muitos. Mas o normal é que o encargo "recaia" sobre poucos, ou apenas um familiar, como o caso de uma moça que ficou ao lado do pai por mais de um mês, no hospital de Tramandaí, dormindo algumas horas por noite num colchonete.
Na rotina de ir de casa para o hospital, dia após dia, eles abrem mão de suas vidas particulares, do trabalho, do lazer, do descanso.
Sua única recompensa por noites e dias de vigília é penas uma: a gratidão de quem só pode contar com eles, numa hora em que não faltam desculpas para fugir de algo que deveria ser um dever moral ou apenas boa vontade: cuidar de um familiar doente.
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Eles se encontram todos os dias, duas vezes por dia. São familiares de internados na UTI, à espera do horário da visita. Ansiosos, nervosos, alguns choram. Trocam informações sobre os internados, e nos dias seguintes acompanham a evolução do tratamento de cada um - melhorou um pouquinho, está na mesma, vai passar para o quarto. Cria-se uma corrente fraterna, cada um tentando encorajar o outro.
De um dia para outro uns somem - por alta ou falecimento - e outros chegam.
Neste grupo ninguém é permanente, ninguém pergunta nome, sobrenome, profissão.
Permanentes, apenas, a ansiedade, o nervosismo, o desespero.
E, às vezes, o alívio, a alegria.
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A primeira sessão de hemodiálise do hospital São Vicente de Paulo, de Osório, começa às sete horas. Meia hora antes os pacientes começam a entrar no longo corredor e se sentar nas cadeiras colocadas ao longo das paredes. Quase todos caminham com muletas, andadores ou apoiados em acompanhantes. Alguns chegam de macas, trazidos por ambulâncias.
Além de moradores do município, a clínica de hemodiálise recebe pacientes de toda a região - Tavares, Mostardas, Pinhal, Cidreira, Tramandaí, Itati, Maquiné. Mas apesar de virem de cidades diferentes, todos se conhecem, pois se encontram ali três vezes por semana. Cumprimentam-se uns aos outros, e saúdam as enfermeiras chamando-as pelos nomes, com a intimidade de velhos amigos. Depois, silenciosamente, entram nas salas onde, por três ou quatro horas, máquinas filtrarão o seu sangue, substituindo os seus rins.
Antes das onze horas começam a chegar os pacientes do segundo turno. O encontro dos que chegam com os que estão saindo é marcado por conversas rápidas e descontraídas. O corredor se enche de vozes e algumas risadas. O tratamento criou entre eles um vínculo de companheirismo. Todos sabem que tem poucas chances de sobreviver sem aquelas sessões de diálise - conseguir um transplante de rim é quase como ganhar numa loteria. Sabem também que a máquina não substitui o seu órgão paralisado, e pouco a pouco eles vão definhar, com as articulações e outras partes dos seus corpos afetadas.
Mas, para eles, aquele não é o corredor da morte, e sim da vida.
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Nesses 50 dias em que estive todos os dias no Posto de Saúde do Imbé e no hospital Tramandaí acompanhando o meu cunhado Leoncio Lobato Neto, falecido na noite de domingo, 29/4/2018, aumentou meu respeito e admiração pelo profissionalismo e dedicação dos médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem para com os doentes.
Um exemplo: a Duda, técnica de enfermagem encarregada da hemodiálise na UTI do hospital Tramandaí, notou que o Leôncio estava muito tenso. Perguntou para mim se ele gostava de música e que tipo de música. Falei nos Platters, e ela buscou no seu smartphone. Em segundos achou a música "Only You". Ele relaxou.
Mesmo estando no isolamento da UTI, pode continuar ouvindo suas músicas, que gravei num pen drive, com a autorização dos médicos.
Naquele ambiente branco e silencioso onde o limite entre a vida e a morte é muito tênue, os médicos, enfermeiros e técnicos foram sempre cordiais com os parentes e amigos dos doentes, dando informações sobre o estado de saúde deles.
Obrigado a vocês, que se dedicam a aliviar o sofrimento dos seus semelhantes.
terça-feira, 3 de abril de 2018
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