Sexta-feira santa, 1961. O silêncio só não é total porque de algumas casas se ouvia música clássica transmitida pela rádio de Três Passos. Na igreja lotada, uma fila para beijar o corpo de Cristo.
No domingo de manhã, nada de comer os ovos e chocolates que o coelhinho da páscoa havia deixado, em ninhos coloridos de papel-crepom. Antes era preciso ir à missa e comungar, o que exigia duas horas de jejum. Cada minuto durava uma eternidade.
Com o passar das décadas a igreja católica amenizou muitos de seus ritos que beiram a morbidez, vindos da época medieval, em que os fiéis se autoflagelavam em solidariedade ao Cristo crucificado.
Na semana santa de 2021, a epidemia tornou impossíveis atos como o lava-pés. Os católicos estão acompanhando as cerimônias pela tevê, e a comunhão espiritual nas missas é vista com naturalidade, sem a hóstia consagrada. O jejum de duas horas já não é mais exigido, assim como a confissão. Mas, também: que pecados cometia este guri de onze anos, que em 1961 só se preocupava em estudar, fazer os temas de casa e brincar?
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