sábado, 27 de junho de 2020

ZÉ RAMALHO, O NETO DO AVÔRAI


Quando o repórter perguntou a Zé Ramalho qual o significado de Avôhai, ele poderia ter respondido que era o avô que o criou, depois que ficou órfão de pai, aos dois anos de idade. Ou sugerir que ele consultasse o google - desde que a internet se tornou acessível, os repórteres não têm mais o direito de ir para uma entrevista sem saber nada do entrevistado. Mas ele disse "nem eu mesmo sei". E a entrevista foi publicada assim.
José Ramalho Neto nasceu em Brejo do Cruz, na Paraíba, mas foi criado em João Pessoa, onde deveria, pela vontade da família, estudar medicina. Mas ele preferiu seguir a vocação do pai, e se tornou um dos mais populares compositores e intérpretes que surgiram no nordeste e conquistaram o Brasil.
Seu talento explode tanto nas melodias como nas letras, poesia pura. Vejam:
"Neblina turva e brilhante
em meu cérebro coágulos de sol
amanita matutina
e que transparente cortina
ao meu redor" (Avôhai)
Zeca Baleiro gravou, em maio de 2014, no teatro Castro Alves, de Salvador, Chão de Giz, um show dedicado a Zé Ramalho, a quem chama de "admirável bardo". É esplêndido, tanto pela interpretação impecável como pelos arranjos. Para ouvir em silêncio respeitoso. E muitas vezes.

domingo, 21 de junho de 2020

HARE, KRISHNA



Krishna, simplesmente Krishna. Foi assim que ele se apresentou ao chegar ao Arraial da Ajuda, lá na década de 1990. Argentino de Córdoba, quarentão, ele contava que havia herdado imóveis com a morte dos pais, vendera quase todos - "deixei uma casa lá, para voltar um dia" - e saiu a viajar pelo mundo.  
Na Índia, adotou a apelido com que passou a ser chamado. Quando parava mais tempo em algum lugar, exercia a sua profissão de cozinheiro.
A chegada do compatriota excêntrico, cheio de histórias para contar,  causou  nos argentinos do lugar uma vontade irresistível de comer empanadas. Típicas, legítimas empanadas argentinas, preparadas por um chef.
Por casualidade, estávamos passando uma temporada lá, num chalé equipado com fogão, geladeira e panelas, e Krishna se dispôs a prepará-las, desde que eu comprasse os ingredientes. Me deu a lista e fui ao supermercado. Azeite de oliva, farinha, carne moída de primeira, cebola, alho, tudo. Ah, e muita cerveja. 
Com a ajuda da cunhada e amiga  Isabel Lobato, à época casada com o argentino Guili, ele mandou ver.  Foi um sucesso. 
Tempos depois, assim como chegou, Krishna sumiu. 
Deve estar em Córdoba, ou ... por aí.

sábado, 20 de junho de 2020

O ÚLTIMO DIA DE OUTONO






16h 30 min
Barra do rio Tramandaí/RS



sexta-feira, 12 de junho de 2020

INCÊNDIO DAS LOJAS RENNER

A LIÇÃO DE UMA TRAGÉDIA


















Na tarde de 27 de abril de 1976 um incêndio consumiu o  prédio de sete andares das Lojas Renner, na esquina da rua Doutor Flores com a avenida Otávio Rocha, no centro de Porto Alegre. A loja de departamentos, onde se comprava roupas, tecidos, móveis, louças, e eletrodomésticos, tinha também uma concorrida lancheria no último andar. Estava lotada. 
Apesar dos esforços dos bombeiros, 41 pessoas morreram  e 60 foram levadas em estado grave para os hospitais.
As cenas de desespero e horror, com gente pulando pelas janelas, entraram noite adentro, e foram descritas minuto a minuto pelos repórteres da rádio Gaúcha, a bordo de carros equipados com radiotransmissores. A sua maior concorrente, a rádio Guaíba, líder de audiência e prestígio, apesar de estar localizada a menos de um quilômetro do local do incêndio, não tinha estes equipamentos - naquela época não havia celulares e os telefones eram poucos - , e levou um banho de cobertura humilhante. A audiência da Gaúcha foi quase total. 
A lição foi assimilada rapidamente. O departamento de jornalismo da Guaíba foi reestruturado, com a contratação de repórteres e a compra de equipamentos de transmissão.
É nestes momentos, de tragédias ou de crises como a que atravessa o mundo convulsionado pela pandemia, que fica mais evidente algo que deveria ser óbvio: não existe jornalismo sem reportagem. 

foto de J.B.Scalco/Veja