terça-feira, 21 de maio de 2019
E O SEU HERMES COMPROU UMA ARMA
Dono da farmácia Petrópolis, o seu Hermes era o farmacêutico, o enfermeiro e o médico do bairro. Pessoa boníssima, sabia qual o remédio mais indicado, aplicava injeções, dava conselhos.
Um dia, assaltaram a sua farmácia, na esquina da avenida Protásio Alves com a rua Santos Neto. Depois, assaltaram de novo. E novamente.
Aí Hermes Toledo, um homem calmo, a vida resolvida - a mulher tinha um salão de beleza, o filho cursava faculdade - decidiu comprar um revólver. Fez curso de tiro, registrou a arma, colocou na gaveta. Quando os assaltantes chegaram, ele atirou. Um deles foi levado para o Pronto Socorro, onde morreu. Além da pistola que que tinha na mão, havia outra,na bota.
Os dois comparsas fugiram, mas dias depois voltaram, com outros companheiros, para dar o recado: "nós vamos te apagar". Desciam do ônibus, atravessavam a rua, chegavam na porta, faziam ameaças e sumiam. Além disso, respondeu a processo por assassinato.
O seu Hermes perdeu a calma, a paz. Passou a sofrer de insônia, depressão, se tornou um homem nervoso, paranoico. Em meio ano, sua vida estável e tranquila acabou. Fechou a farmácia, foi internado em clínica psiquiátrica.
Apareceu um câncer, e ele acabou morrendo.
Nos meus tempos de repórter de polícia na sucursal do jornal O Globo entrevistei o então chefe de Polícia, delegado Frederico Eduardo Sobbé, sobre a questão do porte de armas. O que ele me disse ficou gravado na minha memória. "Os assaltantes não têm nada a perder, e em geral estão drogados. Mesmo que você saiba atirar, sempre vais vacilar antes de tirar a vida de alguém. Eles, não."
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