quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
ALEMOADAS
Lá nos anos 80, um repórter do jornal Zero Hora foi encarregado de dar uma circulada pela colônia alemã para saber se os descendentes dos imigrantes que chegaram ao Rio Grande do Sul a partir de 1824 mantinham o hábito de se comunicar entre eles em alemão.
O repórter embarcou num ônibus em São Leopoldo para subir a Serra num pinga-pinga que parava em todas as "picadas", até Nova Petrópolis. Todos - passageiros, cobrador e motorista - só falavam alemão. Como ele também se defendia na língua de Goethe, conseguiu transformar uma pautinha mais ou menos numa excelente reportagem.
A situação não mudou muito. Ainda hoje ouço meus vizinhos de Igrejinha bater papo naquele dialeto quase incompreensível na Alemanha. O português que falam também é inconfundível. O Z e o S sempre são trocados, assim como o R, invariavelmente pronunciado como "ére", o B sai sempre P e por aí vai.
Mas muitos dos netos e bisnetos de colonos acabaram não aprendendo alemão, e sei até de uma alemoa batata que nunca comeu chucrute na vida (dei uma lata de conserva para provar...).
Outro dia contratei um pedreiro loiro de olhos azuis para fazer um conserto na parede de casa. No fim do trabalho perguntei o seu sobrenome.
"Conique", respondeu.
Pedi para soletrar, e ele:
" K- O- N- I- G"
Expliquei que Konig, com O tremado, significa rei, em alemão.
Surpreso com a descoberta, ele repetiu duas vezes "então eu sou rei? Sou rei?
E saiu, radiante.
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