quinta-feira, 1 de maio de 2014

OS DOIS LADOS DA CERCA


Sem nome foi trazido por pedreiros que reformaram uma casa. Enquanto durou a obra, ele vivia do lado de dentro da cerca. Latia para as motos, o caminhão de lixo, os outros cães que passavam. 
Mas o trabalho acabou, os pedreiros foram embora e ele ficou do lado de fora.
Cachorrinho jovem, dócil, se viu ali, perdido. Se tornou arisco, medroso. 
 Um dia um vizinho deu a ele uma caixa de papelão para dormir. Depois apareceram tigelas com água e ração. Na semana seguinte, uma espécie de casinha feita com restos de telhas e tijolos. 
Sem nome vivia ali, já conformado. Até que sumiu. 
Alguém deve ter gostado dele e levado para um lar de verdade. 





Esta cachorrinha tem nome, e nome chique, ao contrário dos cães de rua que, adotados por pessoas condoídas de sua situação, geralmente são chamados de preta, branca, malhado. Ela vive  do lado de dentro da cerca de uma boa casa. Aparentemente tem uma vida confortável.  Aparentemente.  
De segunda a sexta-feira - e às vezes por semanas inteiras -,  a cachorra não tem qualquer companhia. Seus donos (pais?) vivem num apartamento, em outra cidade, e só aparecem nos fins de semana, quando vêm à casa de praia. 
Um vizinho é encarregado de levar-lhe ração e água todos os dias, e à noite trancá-la na garagem para dormir. 
Será que ela não seria mais feliz do lado de fora da cerca, batalhando pela comida nas ruas, em companhia de outros cães abandonados? 







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