quarta-feira, 15 de agosto de 2012

SHEKINAH



Marisvalda, a Mara, pernambucana de Recife, confeiteira de mão cheia, decidiu ir para o Sul em busca de uma vida melhor. Trabalhou em hotéis de Florianópolis e depois se mudou para Gramado, na Serra gaúcha.
José Gerardo Fontenele, o Ceará, é cearense - claro -, de Fortaleza. Sabe tudo de salgados, e também foi tentar a sorte em Gramado, onde abriu um café colonial.
 Lá, Mara e Ceará se conheceram, acabaram casando e tocando juntos o negócio. Ela fazia os doces, ele  os salgados. Mas as coisas não correram tão bem como eles esperavam. Fizeram uma nova tentativa em Porto Alegre, mas acabaram desistindo. 
Em dezembro de 1999,  Ceará e Mara se refugiaram na sua casa de praia, no Imbé. Um novo recomeço. O casal recebeu o apoio de vizinhos, que sabendo de suas dificuldades, passaram a encomendar tortas.  No início, todo o dinheiro ganho era empregado na compra dos produtos para fazerem outras tortas, usando as panelas e outros utensílios existentes na casa.
Religiosos, se deram conta de que precisavam de outro apoio importante. E se lembraram do trecho da bíblia em que Moisés, na fuga do Egito à frente dos judeus, acossado pelo exército do faraó e com o mar Vermelho à frente, clamou a Deus por socorro. Assim como Moisés, que brandiu seu cajado e, por obra divina - o Shekinah -, realizou o milagre da divisão das águas para que pudesse fugir com seu povo, o casal usou as mãos para, fazendo doces e salgados, atravessar a tempestade em que estava envolvido. Mara batia de porta em porta com pequenas tortas para vender. Muitas vezes as lágrimas desta pequena nordestina se misturavam à chuva que batia em seu rosto. 
Três anos depois, o milagre se consumou: os credores foram pagos, e surgiu na avenida Paraguassú, em frente à prefeitura, a confeitaria Shekinah.


No início era só uma portinha, com uma sala e uma cozinha cada vez mais pequenas para a freguesia que crescia. Passar lá para fazer um lanche ou levar doces e salgados para casa passou a fazer parte dos hábitos dos moradores do Imbé e de Tramandaí.




Agora a Shekinah está assim, com mesas para atender os clientes e uma cozinha ampla de onde saem as delícias peparadas por Mara, Ceará e uma equipe de funcionários entre os quais filhos, genros e noras do casal. A vida de todos mudou para melhor, mas a trabalheira continua a mesma de sempre, sete dias por semana, da manhã à noite.

 

O próximo desafio de Mara é ser eleita vereadora em Imbé. Garra e determinação para vencê-lo não lhe faltam.  

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