Me convenci de que horóscopo é um amontoado de bobagens depois que, numa redação de um jornal onde trabalhei, uma leitora nos alertou de que a astróloga, responsável pelos presságios diários nos principais jornais do país, repetia, ano após ano, os mesmíssimos textos. Em outro jornal, um revisor foi transformado em "astrólogo", ganhou um pseudônimo exótico e, estimulado por um pequeno reajuste salarial, dedicava os momentos vagos para exercitar sua criatividade prevendo o que aconteceria naquele dia aos nativos de todos os signos do zodíaco.
A astrologia, no entanto, é interessante e útil. Um mapa astral feito por um astrólogo competente é um valioso instrumento de autoconhecimento. E a prática me ensinou que os repórteres rendem mais se recebem pautas adequadas aos seus signos.
Se o chefe de reportagem mandar um nativo de Aquário para o local de um acidente com mortos ou uma canceriana a um lar para crianças excepcionais abandonadas, o risco de fracasso é muito grande. Provavelmente o aquariano passará mal ao ver os corpos ensanguentados e a canceriana voltará chorando para a redação, arrasada com as cenas que viu. Um taurino não se perturbaria. Traria todos os dados, mas dificilmente escreveria uma reportagem emocionante.
Na RBSTV havia uma libriana não arredava o pé da redação antes de saber exatamente qual o enfoque da reportagem e como seria executada. E havia o contrário: um geminiano que na tela da televisão parecia ter uma autoconfiança de dar inveja a Orson Wells ligava inúmeras vezes para a chefia durante a execução da matéria perguntando para que lado conduzí-la. Até finalizar a edição ele estava sempre angustiado por dúvidas e mais dúvidas.
Os virginianos, obcecados pela perfeição, geralmente são bons editores. Páginas revisadas por eles costumam ser impecáveis. Na época em que era responsável pela revisão e atualização da edição de domingo de Zero Hora, aos sábados, eu sempre buscava o apoio de um deles para revisar os primeiros jornais saídos da rotativa e corrigir erros o mais rápido possível, especialmente na capa e na contracapa. Numa dessas manhãs, o silêncio foi rompido por um grito:
- Tem erro na capa!
E que erro: gaúchão, assim, com acento agudo no u, numa das principais chamadas. O editor-chefe não tirou o acento quando trocou "campeonato gaúcho" por "gauchão".
O erro passou despercebido pelo diretor da redação, pelos demais editores que viram a página, pelo revisor e por mim. Mas não pelo virginiano Leandro Steiw.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
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7 comentários:
N'O Jornal de Uruguaiana, Joca e eu não publicávamos horóscopo. Até que um dia um Kalil, dono de uma loja de móveis, disse que éramos o único jornal do mundo sem horóscopo, mostrou-me um jornal palestino, escrito com letras de cobrinha, mas com os signos iguais aos nossos. Ofereceu-se para pagar o patrocínio, caro.
A partir daí, inventamos previsões, como tantos periódicos.
Hoje, no entanto, tenho um Solar Fire.5 no computador, para acompanhar o céu diário. E, desde 1989, colho com nossa colega de faculdade Liane Liepnitz a interpretação dos trânsitos anuais.
Nos jornais, Quiroga e Barbara Abramo me parecem fazer o melhor trabalho que podem - ainda que, como cada mapa é diverso do outro, o cálculo do horóscopo diário, por signo, tenda a ser generalizante e pouco prático.
Tenho Júpiter na casa 7, e hoje completo nove anos de casado com minha sexta parceira. Que delícia!
Tá certíssimo: depois das Zoras Yonaras da vida surgiu uma nova geração de astrólogos, na maioria discípulos de Emma de Masheville(como a Liane) sérios e competentes. E as pessoas adoram ler horóscopos, sinal de que tem alguma serventia para elas.
Um abraço e parabéns pelos sete anos de felicidade!!!!
Muito boa. E os leoninos? Em TV e jornal.
Sérgio Saraiva
E ainda acho o Valls no teu blog... S´p faltava essa... rsrs (SS)
Grande Sérgio! Bemvindo ao blog!
Pois é, os leoninos desfilam seus egos preferencialmente na tevê,onde podem ser vistos e ouvidos...
Abraços
Só não me lembro de ter gritado. :)
Pra mim soou como um grito. :)
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