domingo, 17 de maio de 2009

NA CONTA DO AUGUSTO

Augusto Nunes assumiu a direção do jornal Zero Hora com a missão de modernizá-lo. Entre as mudanças que impôs, a principal foi o fim do duplo emprego - trabalhar na redação e também numa assessoria de imprensa, por exemplo.
Acabou também com a função de pauteiro - " ninguém tem que ser pago para ter idéias, este é um compromisso de todos" - e a de redator - "um jornalista tem que saber escrever bem, e sem erros", dizia e repetia. Avaliações diárias e semanais das edições passaram a ser rotina.
Do Estado de S.Paulo, que dirigia antes de vir para ZH, Augusto trouxe os editores José Onofre, José Paulo Kupfer, Cida Damasco e Eduardo Bueno, o Peninha, para auxiliá-lo nas transformações.
A inovação mais surpreendente para editores e subeditores que não estavam acostumados nem mesmo a ouvir críticas e elogios ao seu trabalho foram as imersões semestrais para a revisão de conceitos e metas. Num sábado de manhã, embarcávamos, sonolentos, num ônibus que nos levava a um hotel da Serra para um exercício de autocrítica, definição de metas e convivência fora do ambiente da redação.
No sábado à tarde e na manhã de domingo debatíamos nossos problemas, ouvíamos palestras, trocávamos idéias. Mas a noite de sábado era o momento mais esperado: um bom jantar, num ambiente descontraído, em que bebíamos os melhores vinhos disponíveis, conversando sobre tudo menos o estresse da vida de jornalista. As conversas se estendiam madrugada adentro, até o sono nos mandar para os apartamentos.

No primeiro desses encontros, depois de jantar, um grupo se reuniu junto à piscina. Papo vai, papo vem, o garçom chegou e nos perguntou se queríamos beber algo. A noite estava quente, e pedimos cerveja. No cardápio constava uma alemã muito boa, e cara. É claro que as bebidas fora das refeições não estavam incluídas nas despesas pagas pela empresa. Zé Paulo pediu uma rodada da importada e assinou a nota. "Não se preocumpem, coloquei a conta do apartamento 312. O do Augusto. Vamos beber à vontade", disse. E foi o que fizemos.
No dia seguinte, na hora do check out, ficamos atentos à reação do diretor à sacanagem. Ao contrário do Zé Paulo, do Peninha e dos outros "paulistas", nós mal o conhecíamos. Ao conferir a sua conta, disse em voz alta: "filhos da puta! Beberam à minha custa E NÃO ME CONVIDARAM !..."
Gargalhadas encerraram o assunto.











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